Idosos da Casa São Vicente de Paulo começam a ser transferidos

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A Casa São Vicente de Paulo vai fechar as portas por falta de recursos financeiros. A informação foi confirmada na semana passada pelo atual presidente da entidade, Denis Alves Bezerra, através de ofício enviado ao Conselho Municipal do Idoso. As atividades serão encerradas no próximo dia 20. De acordo com o documento, a dívida do asilo gira em torno de R$ 700 mil.

A entidade, fincada em Rio Bonito desde a década de 1960, atende atualmente 25 idosos em regime de internamento com assistência médica e de nutricionista, além de cuidadores, monitores e auxiliares de limpeza e administrativo. No início desta semana, os idosos começaram a ser remanejados para outros asilos da região. Um grupo de 11 idosas foi realocado para um lar no município vizinho de Silva Jardim.

Do total de 25 idosos, apenas três voltarão para o convívio familiar. O restante será realocado em asilos em Teresópolis, Araruama e Rio de Janeiro.  A maioria não possui família. Na última segunda-feira (10), nossa reportagem esteve na Casa São Vicente de Paulo para tentar conversar com o presidente Denis Alves Bezerra sobre o encerramento das atividades, mas ele preferiu não se manifestar.

No ofício enviado aos órgãos competentes, ele afirma que o fechamento da unidade se deu devido a “turbulências administrativas, que culminaram no desequilíbrio de suas atividades financeiras, fiscais e patronais”. O documento cita ainda que os gestores da época foram afastados e uma junta interventora assumiu o comando da casa até a eleição de uma nova diretoria. Porém, a medida não surtiu efeito.

“Todos os esforços envidados restaram infrutíferos, não conseguindo a administração da instituição recuperar a sua saúde financeira e fiscal, cujo passivo nesta data (17/01/2020) supera a quantia de R$ 700 mil, aumentando cada vez mais em decorrência das aplicações de multas pelos órgãos fiscalizadores, além do que, a sua receita é insuficiente até mesmo para suprir a folha de pagamento de seus empregados, inviabilizando o recolhimento do FGTS e da previdência social, cujo inadimplemento ocasiona um crescimento mensal de seu passivo em aproximadamente R$ 11 mil, isso sem contar os juros e correções monetárias decorrentes”, diz o comunicado.

Em carta aberta a população, divulgada na última quinta-feira (13), a Sociedade São Vicente de Paulo afirmou que busca judicialmente “a responsabilização daqueles que praticaram os atos que levaram a instituição a tal situação”. “Foi realizada uma auditoria, e, de posse de seu relatório, os fatos foram levados ao conhecimento do Ministério Público objetivando a apuração das responsabilidades, assim como estão sendo promovidos procedimentos judiciais visando o ressarcimento dos prejuízos causados. Assim, torna-se cristalino que a Sociedade de São Vicente de Paulo e sua Obra unida Casa são Vicente de Paulo não ficaram inertes diante dos fatos”, diz a carta.

De acordo com informações obtidas pela FOLHA, o custo mensal da Casa só com salários e encargos de funcionários gira em torno de R$ 35 mil. O local conta atualmente com 17 servidores, todos eles começam a cumprir aviso prévio a partir do dia 20.

Conselho do Idoso se reúne para debater o assunto

Na última terça-feira (11), o Conselho Municipal do Idoso realizou uma reunião com representantes do governo municipal e da Casa São Vicente de Paulo para tentar encontrar uma solução para o caso. Na oportunidade, o representante do asilo – o presidente não compareceu – informou que os idosos já começaram a ser realocados e confirmou que as atividades serão realmente encerradas no próximo dia 20.

Presente na reunião, a secretária municipal de Promoção Social, Lilian Antunes, informou que, em 2018, a Prefeitura de Rio Bonito chegou a propor a Sociedade de São Vicente de Paulo que passasse a administração do asilo para o município. “Em 2018, fomos procurados por uma representante da Casa São Vicente de Paulo, que nos passou os problemas financeiros que a instituição vinha enfrentando. Diante da situação, sugerimos que a administração da casa passasse a ser nossa, mas eles (Vicentinos) informaram que essa possibilidade não existia e que iriam buscar outras alternativas”, revelou Lilian.

A secretária demonstrou preocupação com o destino dos idosos. “Desde que fui informada dessa decisão, designei o pessoal do CREAS para acompanhar todo esse processo de transferência, que acaba sendo muito doloroso para esses idosos. É importante ter um acompanhamento psicológico, pois é uma mudança brusca, com quebra de vínculos. Nossa grande preocupação é que esse processo seja o menos traumático possível’, disse Lilian.

Ex-presidente lamenta fechamento

Presidente da instituição por três mandatos, José Carlos Gomes Novais, o popular Mineiro, lamentou o fechamento da unidade. “A gente lamenta ver uma instituição tão importante encerrando as atividades. Isso é resultado de má gestão, como o próprio presidente em exercício afirmou. Não tem outra explicação. Não estou aqui para fazer acusações a ninguém, mas isso precisa ser visto. São quase 30 idosos que terão que mudar sua rotina de uma hora para outra”, disse José Carlos.

Ele fez questão de ressaltar que deixou a administração do asilo em junho de 2015 sem dívidas. “Pelo contrário, deixei até dinheiro em caixa e tenho todos os documentos que comprovam o que estou falando. Nesse ofício confirmando o fechamento, o presidente afirma que a casa passou por turbulências administrativas entre 2014 e 2016, mas ele está equivocado. Estive lá até junho de 2015 e não deixei nenhuma dívida. Nunca faltou nada e ninguém ficou sem receber no período que estive a frente da casa”, esclareceu.

Mineiro revela que em sua gestão o asilo chegou a abrigar cerca de 100 idosos. “Chegamos a ter 98 idosos lá, com atendimento psicológico, psiquiátrico, acompanhamento de nutricionistas, assistentes sociais e médicos. Foram quase oito anos a frente do asilo e não tive nenhum tipo de problema. Volto a dizer, só posso lamentar por esses quase 30 idosos que ficarão desamparados”, afirmou.

Unidade Vicentina

Apesar de sempre ter sido vinculada a igreja Católica, a Casa São Vicente de Paulo não é diretamente ligada a Paróquia Nossa Senhora da Conceição de Rio Bonito. O asilo, como é popularmente conhecido, é uma unidade vicentina (Sociedade de São Vicente de Paulo), dedicada ao trabalho cristão de caridade. A Casa de Rio Bonito é uma obra unida vinculada ao Conselho Central de Niterói da Sociedade de São Vicente de Paulo, que delibera sobre a unidade. “Vale esclarecer que a Sociedade São Vicente de Paulo não é uma Ordem Religiosa, diferentemente do que vem sendo entendido por algumas pessoas, mas uma Sociedade Caritativa. Tem autonomia administrativa, financeira e patrimonial”, disse a Sociedade na carta aberta a população.

No Brasil, a instituição foi fundada em 1872. São aproximadamente 153 mil membros. A instituição mantém creches, escolas, projetos sociais, lares de idosos, e contato semanal com cerca de 75 mil famílias em necessidade.

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