O resultado das eleições 2020 mostra que este ano houve um recorde histórico na participação de mulheres na corrida por uma vaga nas Câmaras de Vereadores. A cada 100 candidatos, 33 eram mulheres. Em 2016, a proporção foi de 32 para 100. Mas o resultado das eleições mostra que apenas 16% (cerca de 9 mil) dos vereadores eleitos, em todo o país, são mulheres. Número baixo para uma população onde 52% é do sexo feminino. Já os homens somam 47,3 mil, ou seja, cerca de 84%. A FOLHA fez um levantamento em dez municípios da região, que somam, juntos, 132 vereadores eleitos no dia 15 de novembro. Desse total, apenas 11 cadeiras (8,4%) serão ocupadas por mulheres, muitas delas reeleitas.
Em Rio Bonito, apenas a atual vereadora, Marlene Assistente Social (CIDADANIA), conseguiu uma vaga no Legislativo. Reeleita para o seu terceiro mandato consecutivo, Marlene Carvalho da Silva Pereira, de 61 anos, teve 859 votos, numa eleição considerada uma das mais difíceis dos últimos anos. A Câmara de Rio Bonito terá 11 cadeiras a partir de janeiro de 2021, uma a mais do que na atual legislatura, que conta com apenas dez vereadores. O aumento foi aprovado na Casa este ano.
A cidade com maior representação feminina na Câmara é, e continuará sendo, Saquarema, também governada por uma mulher, a prefeita Manoela Peres (DEM), reeleita. As três vereadoras que hoje detêm mandatos na Câmara, que conta com 13 cadeiras, também foram reeleitas, e a primeira suplente no geral, também é uma mulher. A atual presidente, Adriana de Vander (DEM), obteve 1.125 votos (10ª) e vai para o seu terceiro mandato. Mas ela foi superada nas urnas pela Dra. Raquel (PROS), também reeleita (segundo mandato), com 1.247 votos (foi a quarta mais votada, no geral), e por Elísia Rangel (PDT), com 1.174 votos (7ª). Duas mulheres exercerão mandatos nos próximos quatro anos em Araruama. A produtora agropecuária Roberta Barreto, de 37 anos, do DEM, foi a campeã de votos (2.153), e terá a companhia da atual presidente da Casa, Penha Bernardes (PL), de 38 anos, reeleita com 1.621 votos. Elas dividirão o plenário com outros 15 representantes do povo, já que o Legislativo araruamense possui 17 cadeiras.
As mulheres também podem ter representação na Câmara de Silva Jardim, onde uma das nove cadeiras deve ser ocupada por Alessandra Ferreira de Oliveira, a Dinha de Vivaldo, do PROS. Ela foi a quinta candidata mais votada, recebendo 539 votos. Dona de casa e esposa do ex-vereador Vivaldo, ela concorreu Sub judice, assim como outros três candidatos eleitos pelo partido, que também aguardam decisão da Justiça Eleitoral.
O município de Casimiro de Abreu registrou um fato histórico nas eleições do dia 15. Candidata pelo PSD, Maria de Fátima Canejo Francisco, a Fátima, foi a primeira mulher eleita na história da cidade, e vai ocupar uma das nove vagas. Com 665 votos e quinta mais votada, ela tem 57 anos, é pernambucana, possui ensino superior e é esposa do ex-vice-prefeito José Alexandre.
Fátima Canejo, disse que se sente orgulhosa com a eleição, mas que a expressiva votação “confirma minha responsabilidade e estou preparada para os desafios”. Ela explica que vai participar ativamente das sessões da Casa, e que espera ser tanto acolhida como respeitada pelos demais representantes eleitos. “Quero colaborar, propor e defender ideias para atender as demandas do nosso município”.
Sobre a sua eleição histórica, Fátima conta que “já estava passando da hora de termos uma representação (feminina) legítima na Câmara”, e que podem ter a certeza de que “serei a porta-voz dos anseios das mulheres do nosso município”. Diz que a sua luta não será somente para as mulheres, “será para todos que precisam da minha voz e da minha atuação”, e que irá incentivar a participação das mulheres locais na política: “fui a primeira mulher eleita e não quero ser a última. Se depender de mim, na próxima eleição, a bancada feminina será maior”.
Em Cachoeiras de Macacu, 483 eleitores votaram para eleger Darcileia Ulerisch (PSC), que se tornou a única mulher no Legislativo da cidade, onde vai ocupar uma das 15 vagas. Ela foi a nona mais votada. Dona de casa, ela tem 43 anos, e possui apenas o ensino médio.
Com uma população de cerca de 34 mil habitantes, Tanguá tem 13 cadeiras no Legislativo, onde duas delas serão ocupadas por mulheres. A primeira, reeleita para o seu segundo mandato, é Aline de Sá Pereira (PP), cunhada do prefeito eleito, Rodrigo Medeiros (PP), e filha do ex-prefeito Carlos Pereira. Com 557 votos, ela obteve a melhor votação entre todos os candidatos. A segunda é a corretora Márcia Matos (PSL), eleita para o seu primeiro mandato, com 494 votos. Em 2016, Márcia já tinha sido a mulher mais votada (322 votos), mas perdeu a eleição por apenas dois votos.
Três cidades, Maricá, Itaboraí é Magé, não elegeram mulheres para o Legislativo. Apesar dos 860 votos, Andrea Cunha, do PT maricaense, foi a representante feminina mais bem colocada, mas conquistou apenas uma suplência. Os 1015 votos da ex-secretária de Educação de Itaboraí, Rosana Rosa, do PROS, também lhe deram apenas a suplência. Em Saquarema, a primeira suplente é a ex-vereadora Taeta, de cinco mandatos, que teve 984 votos. Em Magé, Sabrina Iluminada (DEM), teve o melhor desempenho, mas os 552 votos também não garantiram a vaga.
Com história de luta, vereadora quer fazer a diferença em Tanguá
Aos 12 anos, Márcia Matos, uma das vereadoras eleitas em Tanguá, vendia mariola na BR-101, para ajudar os pais a sustentar os outros três irmãos mais novos. Também trabalhou como camelô no Centro da cidade, onde nasceu e sempre morou. Hoje, aos 41, casada e mãe de uma menina, ela é corretora de imóveis, graduada em Gestão Pública e Pedagogia e pós graduada em Libras. É com essa história de vida e esse currículo que ela pretende desempenhar o seu papel, dando voz a uma minoria que “merece ser vista e respeitada”, diz ela.
“É uma pena que não sejamos ao menos a metade do Legislativo. A exclusão histórica das mulheres na política ainda nos assombra, mas tem os dias contados!”, pontua Márcia. Ela acrescenta que seu papel na Câmara será o de “fiscalizar, legislar e representar os interesses da população, fazer um mandato participativo e transparente, para honrar os votos recebidos”.
As mulheres na Câmara de Rio Bonito
A voz feminina já esteve representada por oito mulheres no Legislativo de Rio Bonito A primeira mulher a ocupar uma cadeira na Casa, foi Mercedes Simão Vasques, em 1948, época em que os parlamentares ainda não eram remunerados. Só quatro décadas depois, outras duas mulheres voltariam a Casa de Leis, dessa vez pelo voto popular. Maria das Graças Luiz, foi vereadora de 1989 a 1992, junto com a ex-prefeita e ex-deputada federal Solange Almeida, que foi reeleita para o seu segundo mandato, de 1993 a 1996.
Em 1992, Nilza Belgues (mãe do atual presidente da Câmara, Humberto Belgues), exerceu o mandato apenas durante a votação do afastamento do ex-prefeito Aires Abdala, já que o autor da denúncia contra o prefeito, foi o vereador Arnupho Ferro, que ficou impedido de participar da votação. Os dois eram do mesmo partido, o PDT.
Quatro anos depois, em 1996, também foram eleitas duas vereadoras, para o mandato 97/2000. A professora e ex-secretária de Educação, Dila Rodrigues Soares, e a professora Neuza Borges Duarte (irmã de José Borges Kaki, candidato a prefeito este ano). A ex-secretária de Educação e atual vice-prefeita, Rita de Cássia, também foi vereadora, por três mandatos, 2005/2008, 2009/2012 e 2013/2016. Na sua última legislatura, Rita (que em 2016 foi eleita vice-prefeita) dividiu os trabalhos com a vereadora Marlene Pereira, que estava ingressando na Casa.
Para a vereadora Marlene, houve ganhos nas eleições, mas em ritmo muito inferior ao desejado. “Acredito que os espaços de decisões precisam ser compostos por pessoas de diferentes perspectivas sociais, raças, gêneros, classes, etnias. Temos que ser protagonistas de mudanças sociais que precisam ocorrer na sociedade para que consigamos impactar homens e mulheres, jovens”, afirma a vereadora, que pretende dar continuidade ao seu trabalho na área de saúde pública e contra a violência doméstica que afeta as mulheres.
“O papel da mulher sempre será lutando por uma política pública de direito. Sou da opinião que a conscientização dos nossos direitos, com a devida formação política, transforma a condição das mulheres e das suas relações na sociedade”, diz, ressaltando que “no dia a dia, temos que enfrentar barreiras dentro do Legislativo e dentro dos partidos”, e que isso precisa mudar.
Nota da redação
I- O resultado da eleição em Silva Jardim, onde a vereadora Dinha de Vivaldo foi eleita pelo PROS, depende de decisão do Tribunal Regional Eleitoral.
II- O levantamento sobre as vereadoras de Rio Bonito contou com a ajuda do professor, escritor e historiador, Arnupho Ferro.