Um momento para ser vivido e compartilhado. Seo Beto, de 78 anos, ganhou as redes sociais esta semana ao viralizar em um vídeo emocionante junto com a mãe dele, de 97. A ocasião foi registrada logo após a cerimônia de colação de grau dele na faculdade.
Cinco dias após a publicação, o vídeo soma mais de 2 milhões de acessos em redes sociais. O caso aconteceu em Varginha (MG) e ganhou grande destaque na quarta-feira (1º), após uma publicação feita pelo apresentador Luciano Huck.
Na gravação, ele aparece indo até a mãe, Dona Geralda, de 97 anos, vestido com beca, capelo e com diploma em mãos. Naquele momento, tudo o que importava era que celebrassem juntos.
O que Seo Beto não esperava, era que além da família, muitas outras pessoas comemorariam esse momento com ele. A formatura foi no sábado, mas foi só na segunda-feira (27) que a neta, Thamires Reis, decidiu publicar o vídeo nas redes sociais como uma forma de homenagem.
Naquela noite, antes de dormir, ela deu uma conferida e cerca de 300 pessoas já tinham visto a publicação. Entretanto, a surpresa veio mesmo logo pela manhã.
“Quando eu acordei, estava com 520 mil visualizações. Agora, já vai bater os 2,2 milhões. É muita coisa! Tanto que assusta a gente”, conta Thamires.
Orgulho em dobro
Cheio de energia, Sebastião Roberto dos Reis – o Seo Beto – tem muita história pra contar. Ele trabalhou por pelo menos 25 anos na área de contabilidade e, anos depois, o filho seguiu estudos nesse mesmo ramo.
“Eu sinto a realização de um sonho que estava escondido há muito tempo”, relata.
Em meio à pandemia, aos 76, ele iniciou no curso de graduação em Gestão Financeira, na modalidade de educação à distância. A ideia foi do filho, Dimas Reis, que também é professor e foi quem fez a matrícula do pai sem que ele soubesse.
A intenção era aliviar a tensão que Seo Beto sentia por conta da pandemia, por isso, o incentivo veio para “ocupar a cabeça do pai”. De pai e filho, para aluno e professor: orgulho em dobro para a família.
Após dois anos, finalmente o grande momento. Ele recebeu o diploma direto das mãos do filho, em um teatro lotado de colegas, professores e familiares. Mas ainda faltava alguém ali.
Mesmo com muita vontade de ter a mãe por perto naquele dia, Beto entendia que a saúde dela andava um pouco fragilizada nos últimos tempos.
Um encontro, uma emoção única
“Mãe, eu me formei! A senhora não foi lá, mas eu vim aqui!”
Na intenção de despertar a atenção, Beto desce a rua de casa chamando por Dona Geralda, com a voz embargada de emoção.
Uma exceção foi aberta para uma quebra de protocolo. Ele conseguiu autorização para ir até a mãe, usando beca e com diploma em mãos, para dar à ela o gosto de vê-lo concluindo uma etapa tão importante na vida. Foi aí que a surpresa começou.
Dona Geralda concordou em esperá-lo toda arrumada para tirar uma foto e ter como lembrança. A mãe nem fazia ideia de que veria o filho em trajes de formatura. Entre lágrimas e sorrisos, ela relembra aquele abraço como se fosse ontem.
“Meu filho, você se formou! Que beleza, que emoção”, conta.
Ela diz que sempre incentivou os estudos, mas que antes, ainda existia um receio. Dona Geralda tinha medo de não conseguir vê-lo concluindo o ensino superior por conta da idade avançada.
Seo Beto tranquilizou a mãe. Se dependesse dele, ela veria sim o filho realizar este sonho. E foi assim que aconteceu.
Dona Geralda não só viu, como participou do momento da forma que conseguiu, recebendo o filho em um momento emocionante, assim como eles planejaram juntos.
Família reunida, nos estudos e na vida
Com tanto suporte dos familiares, não houve empecilhos para Vô Beto durante os estudos. Na hora das dúvidas, além do filho que já era seu professor, o restante da família também estava ali.
Uma forcinha aqui, um empurrãozinho ali. Seja para relembrar fórmulas matemáticas ou até mesmo aprender a lidar com a tecnologia: a neta Déborah, de 18 anos, e o bisneto João Pedro, de 13, foram fundamentais nesse trajeto.
“Ele sempre nos criou muito bem, deu todo o respeito e carinho. Passar um pouco do nosso aprendizado pra ele foi muito bom e gratificante”, conta a neta.
Quanto a tecnologia, o bisneto João é quem garantia que tudo desse certo. Morando pertinho dele, em poucos minutos chegava à casa dos bisavós para resolver qualquer problema que surgisse durante o dia.
“Ele tinha dificuldades. Às vezes o computador desconectava da internet, a caixinha de som, monitor, fios; tinha hora que ele não conseguia conectar. Ele me ligava, eu descia e explicava pra ele. Coisa que era simples, mas ele não sabia direito”, diz João Pedro.
Por fim, o apoio da esposa também fez diferença. Com a Dona Selma já são 54 anos de cumplicidade, um sendo ponto de apoio do outro, do início ao fim. Com orgulho, ela conta como foi ver o marido enfrentando novos desafios.
“Ele foi levando com muita responsabilidade mesmo. Não gostava de tirar nota ruim. Fazia questão de falar para todo mundo: ‘eu estou fazendo faculdade’. Era elogio atrás de elogio”, relembra, sorrindo.
Perseverança que inspira
Para Beto, o importante é ter conhecimento para oferecer à família e, assim, inspirar os netos e bisnetos. Ele ressalta que “o estudo é a melhor herança”.
Mesmo sem imaginar que pudesse acontecer e ainda contra vontade, ele aceitou o desafio de voltar à ativa. A oportunidade de concluir essa graduação deu à ele, além de um novo olhar para a vida, novas habilidades e desejos.
“Não imaginava. Eu tinha certeza que não ia ter um curso superior, mas agora tenho”.
Feliz pela trajetória que cumpriu nos últimos dois anos, agora, o que não falta é motivo para festejar e sonhar cada vez mais.
“Nunca é tarde para realizar um sonho”, finaliza o recém-formado.
Crédito: g1