A violência no Rio de Janeiro impacta de forma direta não apenas a segurança da população, mas também o orçamento da saúde pública do Estado. Apenas no primeiro semestre, os cinco maiores hospitais estaduais e Unidades de Pronto Atendimento, que atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), receberam 1.503 baleados, a um custo de quase R$ 11,5 milhões para os cofres públicos.
“Esse número pode dobrar se a gente incluir os hospitais da rede municipal da cidade do Rio de Janeiro, os hospitais que também são municipais de outros municípios do Rio de Janeiro e os hospitais federais que têm emergências”, disse a professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e especialista em Saúde Pública, Lígia Bahia.
Quem trabalha com saúde avalia que isso gera um outro problema: o sistema público investe menos dinheiro pra fazer um atendimento de qualidade.
“O custo do sangue, o custo do antibiótico, o custo de trocar a roupa de cama. A gente percebe claramente que o dinheiro disponível para subsidiar este paciente do sistema único de saúde é muito abaixo da necessidade”, explicou o diretor do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, Alfredo Guarish.
Um exemplo dessa situação é o Hospital Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias – trata-se da unidade que mais recebe baleados. Apenas nos primeiros seis meses do ano, 355 pessoas deram entrada por ferimentos provocados por armas de fogo. O hospital recebe moradores de vários moradores da Baixada Fluminense, uma das áreas mais violentas do Rio.
“Se eu tenho no meu hospital um paciente para operar uma hérnia, uma vesícula, um câncer, esse paciente tem a cirurgia suspensa momentaneamente, às vezes por um dia ou dois enquanto esse baleado é operado. O paciente baleado é um paciente considerado de trauma de alta complexidade e de alto custo”, avaliou o coordenador da Sociedade Brasileira de Trauma, Paulo Silveira.
Se essa epidemia de violência não deixasse tantos baleados, o dinheiro poderia ser investido em melhorias nos serviços do poder público. Para ficar só na área da saúde, com os R$ 11,5 milhões gastos no primeiro semestre, daria para comprar oito tomógrafos computadorizados, , cinco aparelhos de ressonância magnética, além de criar 11 leitos de CTI.
“Aquele recurso para aquela comunidade, o atendimento de saúde daquela comunidade, fica comprometido quando você tem o aumento do número de traumas. Se você adicionar este custo, o que uma família tem que gastar com aquele paciente que tá acamado, que não pode mais produzir, é um custo difícil de calcular. É um custo enorme pelo qual a sociedade acaba pagando”.
Fonte: G1