Dia 19 de novembro de 1969, Pelé entra para a história ao marcar o milésimo gol da carreira em uma partida realizada no Maracanã, entre Santos e Vasco. De forma involuntária, outro jogador acabava marcado pelo lance. E não é o goleiro Andrada, que sofreu o gol.
Ex-zagueiro vascaíno, Fernando Silva vive uma vida pacata em Maricá, no Rio de Janeiro. Muitos não sabem – até mesmo moradores da cidade que fazem parte da rotina de Fernando – que um senhor, hoje de 71 anos, que vive no município fluminense, ajudou, de certa forma, a construir um dos grandes capítulos do futebol mundial: ele foi o autor do pênalti que originou o gol 1.000 do Rei.
Na semana dos 50 anos do feito histórico, o morador de Maricá, a pedido da Inter TV RJ, aceitou vasculhar as memórias e abrir o coração para afirmar algo que guarda por meia década: o pênalti não existiu, segundo ele. “Não foi mesmo”, afirma Fernando, contrariando a decisão do árbitro Manoel Amaro de Lima.
As marcas daquele momento ainda seguem vivas no morador de Maricá, que usa seus argumentos para contrariar o lance que gerou um gol para atemporal. “O Pelé, com a habilidade que ele tinha, com a inteligência que sempre teve como jogador de futebol, bateu na minha perna e caiu, o árbitro marcou o pênalti. Mas não foi pênalti, eu afirmo que não foi. O árbitro marcou e, infelizmente para o Clube de Regatas Vasco da Gama, foi consumado o gol”, afirma.
Fernando recorda ainda que o goleiro argentino, Andrada, não queria ficar marcado na história por ter levado o milésimo gol do Rei, mas não teve jeito. Lembra ainda que antes da partida, houve até mesmo uma conversa entre o elenco para que o gol fosse evitado.
“Acabou que não deu para ele fazer a defesa. Não só Andrada não queria tomar o milésimo gol, como todos os jogadores do Vasco não queriam. Nós entramos com o intuito de fazer uma boa partida e de que o Pelé não fizesse o gol no Maracanã, que era o maior estádio do mundo na época”, relembrou.
Silva revela que por muitos anos esse assunto era evitado nas rodas de conversa, nos bate-papos com os amigos, mas que, agora, já foi superado. Já conseguiu virar a página. “Todos os lugares por onde eu ia esse era o principal motivo de assuntos e perguntas. Hoje eu sei que fiz um bom trabalho como jogador e o que importa é que estou aqui com saúde e posso contar essa história para vocês”, afirmou
Projeto social
Depois de jogar profissionalmente por 20 anos, Fernando já aposentado mantém um projeto social que oferece treinamento de futebol para crianças e adolescentes em Maricá. O trabalho ocorre no bairro de Inoã, às terças, quintas e sábados.
“Eu e minha esposa somos aposentados e essa é nossa distração. É um lazer, além de ser muito gratificante ajudar esses meninos. Quando estão aqui eu cobro disciplina, converso com eles que precisam estudar e que para chegar ao futebol profissional só depende deles”, afirma Fernando, que se mostra orgulhoso por ajudar a construir novas carreiras no esporte.
“Daqui já saíram jogadores que hoje são profissionais, ajudam suas famílias e é gratificante lembrar que eles chegaram aqui com 8, 9 anos e hoje estão voando no mundo do futebol. Torço para que muitos outros consigam. Essa é minha maior motivação atualmente”, acrescentou.
Fonte: G1