O interventor do Hospital Regional Darcy Vargas, em Rio Bonito, Juberto Folena, recebeu a reportagem da Folha, na manhã da última terça-feira (13), para uma entrevista exclusiva nas dependências da unidade. Segundo ele, atualmente a entidade possui dívidas, principalmente, trabalhistas e com fornecedores, que ultrapassam o valor de R$ 27 milhões. Juberto revelou ainda que alguns funcionários foram coagidos por certos membros da antiga diretoria do hospital. Ele também explicou sobre o processo de intervenção, de contratação da equipe interventora, e pediu para que as pessoas usem a Ouvidoria do HRDV para ajudar no processo de funcionamento da unidade. O telefone do setor é 0800 28 22 136, e o e-mail é ouvidoria@darcyvargas.com.br.
Esse é apenas um resumo da entrevista, quem quiser assistir tudo que disse o interventor Juberto Folena, pode ver o vídeo na íntegra, no canal do jornal no YouTube. Basta procurar por Folha da Terra Digital ou clicar no vídeo que está no final desta matéria.
Folha da Terra: Como encontrou o Hospital Regional Darcy Vargas quando assumiu a unidade?
Juberto Folena: Encontramos o hospital com a Farmácia desabastecida de medicamentos importantes para os atendimentos dos pacientes. Encontramos médicos desmotivados a quererem trabalhar. Tivemos que contratar médicos por emergência, porque o hospital tinha alguns furos durante a semana nesses plantões de pediatra e clínico. A gente encontrou um hospital bem enxuto, e com uma folha salarial muito alta. Encontramos um hospital com um déficit muito grande. Com dívidas muito grandes, com fornecedores, como retenção de ISS, fundo de garantia, FGTS, e Imposto de Renda. Pelo levantamento que nós fizemos, hoje a dívida do hospital, se fosse para colocar em dia todas as ações, passa de R$ 27 milhões entre dívidas trabalhistas e fornecedores.
FT: O que está sendo feito?
JF: A retomada de gestão do hospital. Queremos que o hospital volte a funcionar na parte de gestão, humanização, reabastecimento, folha salarial (…), a gente está tentando colocar tudo em dia. A prioridade é retomar o abastecimento para atender a população com medicamentos e insumos. A gente está fazendo toda parte de gestão. O prazo é curto, mas já fizemos muito diante da complexidade do hospital.
FT: O senhor acha que era preciso fazer uma intervenção?
JF: A intervenção vem para ajudar, para consertar, naquele momento, a deficiência que está tendo aquela gestão. O hospital não pode depender somente do município de Rio Bonito. O hospital, hoje, está praticamente sobrevivendo do recurso da Prefeitura.
FT: O que o senhor tem a dizer sobre as demissões que aconteceram no Hospital?
JF: Algumas demissões foram feitas porque estavam aqui ilegais. Não tinham nenhum vínculo trabalhista, nenhum documento assinado, não sei como a gestão fazia o pagamento dessas pessoas, algumas não tinham conta em banco, recebiam dinheiro em mãos. As pessoas precisam entender que todo funcionário é importante, e precisam ter um contrato de trabalho. Não pode trabalhar aqui sem qualquer tipo de vínculo. Então tivemos que dispensar, mas pagamos esses funcionários, não poderíamos continuar com esses funcionários aqui dentro. Alguns outros internos, que não eram da obra, não estavam sendo aproveitados no hospital da maneira correta. Tinha funcionário que nem vinha ao hospital, não tinha seu compromisso de trabalho aqui. Como a gente precisava fazer uma redução na folha, a gente aproveitou as pessoas que realmente trabalham e se dedicam ao hospital.
Qualquer dúvida que tiverem, procurem a equipe de intervenção para informação, fiz reuniões com todos os setores, desde a portaria, até a classe médica explicando, porque muita gente (funcionário) estava sendo coagida por algumas pessoas que saíram daqui. Isso é crime, isso não pode.
(A pessoa teria dito) que vai voltar (…), que vai acontecer… que vai mandar embora (…). Isso é um constrangimento muito ruim. Algumas pessoas da diretoria, não vou citar nomes por que é antiético, mas estavam fazendo ligações, e alguns funcionários até acatavam, então a gente viu que eram pessoas que estavam ligadas, mas não estavam contribuindo de forma correta para a funcionalidade do hospital. Então, naquele momento, pessoas que estavam dentro da folha (de pagamento) que não estavam para ajudar, não contribuíam com o trabalho, a gente resolveu dispensar.
FT: Quem fez a contratação da equipe de intervenção?
JF: Quando o Ministério Público solicita o decreto ao prefeito, imediatamente o prefeito tem que designar alguém para poder executar, porque passa a ser responsabilidade da Prefeitura. O hospital fica sob a intervenção da Prefeitura e do Ministério Público, sob recomendação do Ministério Público. A secretária de Saúde de Rio Bonito estava em uma reunião na Secretaria de Estado (de Saúde), onde estavam vários secretários, falou sobre a intervenção que teria aqui, e analisando algumas pessoas e currículos, falaram no Juberto, que tem experiência com intervenção. E aí eu enviei meu currículo, tive uma audiência com a promotora, ela perguntou sobre meu currículo, apresentei também as outras pessoas (da equipe de intervenção), juntamente enviei meu currículo ao prefeito, e enviei o currículo de toda equipe para Prefeitura, e assim foi feito. A contração passou a ser feita através da Prefeitura.
FT: Como está funcionando hoje o hospital e porquê ficou fechado?
JF: Aconteceu de fato aquela questão do incêndio, isso está sendo apurado, há um inquérito sobre isso, e com isso comprometeu (partes da unidade). Houve a vistoria da Vigilância Sanitária e do Corpo de Bombeiros, que pediu que o hospital começasse a tomar as medidas cabíveis, por exemplo, com relação ao Centro de Tratamento Intensivo (CTI). Alguns outros departamentos tiveram que passar por mudanças, pedidas pela Vigilância e pelo Corpo de Bombeiros, então, durante esse período o hospital ficou reduzido (sua capacidade de receber pacientes). Não acompanhei, mas acho que ficou reduzido o atendimento, acho que estava fechado para emergência. E assim que nós começamos (a intervenção), começamos a reabrir o hospital de maneira gradativa.
Hoje o hospital está funcionando em sua plena funcionalidade, a emergência, temos clínico, ortopedista, cirurgia geral, pediatria, parte covid, centro cirúrgico, UTI limpo (para pessoas que não estejam com a covid) e UTI Covid. O hospital está à pleno vapor.
Quero agradecer a oportunidade e dizer que as pessoas podem ter certeza que estamos aqui por elas. O MP é um órgão fiscalizador, tem muita responsabilidade e cobra muito, então estamos aqui para retomar o hospital, o gerenciamento dele, a funcionalidade dele de funcionar para atender a população, não só de Rio Bonito, mas àqueles que precisam vir ao hospital para fazerem seu tratamento. Com toda certeza vamos fazer o melhor para essa população. Não precisam ter medo dos interventores. Não estamos aqui para fazer qualquer tipo de injustiça, estamos aqui para ajudar vocês, preciso que vocês nos ajudem. E em breve, num curto prazo, a gente acredita que vai estar fluindo muito melhor do que a gente encontrou. Peço que qualquer problema que tenham, venha aqui no hospital, nos procure pessoalmente ou até a Ouvidoria. Estamos aqui para ouvir a população.
FT: Vocês tiveram algum contato com os sócios?
JF: No início, tivemos uma reunião com alguns sócios, juntamente com a presença de alguns vereadores e do Conselho Municipal de Saúde, onde esclarecemos a funcionalidade do hospital. Me parece que eles vão fazer uma assembleia, é direito deles, e o que for decidido, se fizerem uma nomeação de um novo presidente, que o presidente possa vir, acompanhar de fato o hospital. Os associados têm esse compromisso com o hospital. Agora, dando ciência sempre ao MP, porque agora é o Ministério Público que está fazendo todo esse acompanhamento, até mesmo a questão dos sócios. Não há problema algum, a gente está aqui de portas abertas aos associados, e até mesmo aos vereadores e Conselho Municipal, e até a sociedade.
FT: Fale um pouco da sua formação e experiência profissional?
JF: Tenho 45 anos e sou fisioterapeuta. Não sou funcionário público. Fui subsecretário de Saúde no município de Seropédica, trabalhei na esfera municipal como fisioterapeuta de emergência do Hospital do Andaraí (Hospital Federal do Andaraí), Rocha Faria (Hospital Municipal Rocha Faria), e Pedro II (Hospital Municipal Pedro II). Fui interventor na Santa Casa de Barra do Piraí, logo depois assumi a Secretaria de Saúde à pedido do prefeito da época. Durante esse período como secretário, fiz a intervenção de uma maternidade, o Hospital Maternidade Maria de Nazaré e Hospital da Cruz Vermelha, do município. Fui secretário de Cultura e Turismo do município, quando saí, comecei a fazer trabalhos de consultoria para os municípios, até que recebi o convite para fazer a intervenção aqui. Apresentei meu currículo e estou aqui para fazer gestão em saúde. Espero que o tempo que a gente permaneça aqui, que a gente deixe o hospital mais em ordem, fazer a prestação de contas transparente. Não temos nada a esconder, estamos aqui para fazer um trabalho de funcionalidade da gestão. Estamos aqui de passagem, não viemos tomar o lugar de ninguém.
FT: Foi divulgado que o salário do interventor seria de R$ 35 mil, o que gerou algumas críticas, o que o senhor tem a dizer sobre isso?
JF: A gente aqui está trabalhando, a gente presta um serviço. Eu não moro aqui, tenho despesas. É uma responsabilidade muito grande, advogados me assessoram, o custo é alto, eu não recebo R$ 35 mil, estabelecemos até R$ 35 mil, mas não recebo, acho até que merecia pela responsabilidade que é, porque não é uma brincadeira, isso aqui tem consequências graves, isso aqui vai ter consequências maiores do que se imaginam. Mas isso cabe a Justiça. O interventor não vem de graça, vem para trabalhar, está prestando um trabalho. O que mais importa, independente do salário, é a funcionalidade do hospital.
Nota do Editor: O Hospital Regional Darcy Vargas, após o incêndio, paralisou os serviços de atendimento durante uma semana, tendo que transferir os pacientes para outras unidades de saúde. O HRDV só voltou a funcionar após o restabelecimento do fornecimento de energia. A paralisação só não atingiu o setor de Oncologia da unidade.
Nota do Editor: O Hospital Regional Darcy Vargas, após o incêndio, paralisou os serviços de atendimento durante uma semana, tendo que transferir os pacientes para outras unidades de saúde. O HRDV só voltou a funcionar após o restabelecimento do fornecimento de energia. A paralisação só não atingiu o setor de Oncologia da unidade.