Ciro Gomes é o segundo entrevistado no Jornal Nacional

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O candidato do PDT à Presidência da República, Ciro Gomes, disse nesta terça-feira (23), em entrevista ao Jornal Nacional, que pode reavaliar o discurso duro contra adversários e que tem como tarefa reconciliar o Brasil.

Ciro também propôs utilizar plebiscitos para resolver impasses na aprovação de projetos e, assim, superar alianças com setores do Congresso que, segundo ele, levam a uma “crise eterna”.

O candidato do PDT falou ainda de:

  • criar uma Lei Antiganância, para evitar superendividamento
  • criar um programa de renda mínima de R$ 1 mil por família
  • taxar grandes fortunas
  • acabar com a reeleição

Ciro foi o segundo candidato a participar da série de entrevistas do JN. Candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL) foi entrevistado na segunda (22). Os próximos serão Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na quinta-feira (25), e Simone Tebet (MDB), na sexta-feira (26).

Um sorteio realizado em 1º de agosto com representantes dos partidos definiu as datas e a ordem das entrevistas.

Ciro foi questionado se o tom duro que ele usa para falar dos adversários na disputa eleitoral não contradiz o compromisso de pacificar o país.

“Eu devo sempre reavaliar [modo como trata os adversários]. Eu faço esse esforço de humildade permanentemente. Minha tarefa é reconciliar o Brasil”, afirmou o candidato.

Ciro explicou que, para viabilizar seu projeto de fazer o país superar a pobreza e se desenvolver, precisa apontar aqueles que, segundo ele, são os responsáveis pelas crises dos últimos anos. O candidato listou esse motivo e o fato de vir de uma cultura “palavrosa” para justificar o modo de lidar com os rivais.

“Eu tenho que confrontar aqueles que mandaram no Brasil nesses anos todos. E às vezes, sim… Eu venho de uma tradição do Nordeste, a nossa cultura política é ‘palavrosa’, digamos assim. Às vezes, no Sul e no Sudeste, as pessoas não entendem bem. Não me custa nada rever certos temas, e tal, especialmente na proporção em que meu sonho é reconciliar o Brasil”, pontuou Ciro.

“Eu estou tentando mostrar para o povo brasileiro que essa polarização odienta, que eu não ajudei a construir. Pelo contrário, estava lá em 2018, tentando advertir que as pessoas não podiam usar a promessa enganosa do [Jair} Bolsonaro para repudiar a corrupção generalizada e o colapso econômico gravíssimo que foram produzidos pelo PT. Isso aconteceu no Brasil e agora, está-se tentando repetir uma espécie de 2018. Portanto, a gente tem que denunciar isso, compreendendo, respeitando”, defendeu Ciro.

Plebiscitos

Logo no início da entrevista, Ciro disse que pretende mudar o modelo político no país. Segundo ele, desde a redemocratização, os presidentes da República se aliaram aos partidos que compõem o chamado Centrão e isso, na opinião do candidato, resultou em corrupção e ineficiência.

O Centrão é um grupo informal dentro da Câmara, formado por parlamentares de direita e de centro-direita. Ao longo dos últimos anos, eles se aliaram aos governos da vez, independentemente da ideologia, em troca de ocupar postos de poder na administração federal.

“É o que se convencionou chamar de presidencialismo de coalizão, na expressão elegante do Fernando Henrique, ou nessa adesão vexaminosa e corrupta ao Centrão”, argumentou Ciro.

Se a gente não chegar à conclusão de que este modelo é a certeza de uma crise eterna… Lula para cadeia, Dilma cassada, Collor cassado, FHC e o PSDB nunca mais disputaram uma eleição nacional e Collor cassado, e Bolsonaro desmoralizado agora. Minha proposta é transformar minha eleição não num voto pessoal, mas num plebiscito programático. Para que a gente discuta ideias”, propôs Ciro.

Para ele, os plebiscitos vão contornar a necessidade de o presidente se submeter totalmente a líderes do Congresso para governar.

“É um modelo, uma tentativa de libertar o Brasil de uma crise que corrompeu organicamente a Presidência da República. Transformou a Presidência da República em uma espécie de esconderijo do pacto de corrupção e fisiologia do Brasil”, explicou.

Ele disse que vai buscar diálogo com governadores e prefeitos, que, segundo Ciro, têm poder de convencimento das bancadas do Congresso. Ainda assim, se houver impasse sobre pontos importantes de reformas ou de projetos a serem votados, o candidato disse que devem ser feitos os plebiscitos.

“Eu vou conseguir uma mediação generosa [com governadores e prefeitos]. Persistindo o impasse, é ao Congresso que interessa chamar a população para deslindar esse impasse”, afirmou.

Ao defender o modelo, Ciro foi lembrado de que países autoritários e populistas, em especial na América Latina, têm usado plebiscitos para governar.

O candidato disse que vai procurar se inspirar nos modelos que dão certo ao redor do mundo.

“Olhando mais para a Europa e para os Estados Unidos do que para a Venezuela. Acho o regime da Venezuela abominável. É muito claro que repudio o populismo latino-americano. Acho lamentável”, afirmou.

A Lei Antiganância proposta por Ciro prevê que, se uma pessoa pagar, por causa dos juros, duas vezes o valor original da dívida, o débito será considerado liquidado.

Segundo ele, isso vai reduzir o endividamento e aumentar o poder de compra e de investimento.

“Das cinco propostas que eu me propus a trazer hoje, eu ainda não lhes falei de uma que é inédita que é a Lei Antiganância. Eu quero colocar uma lei em vigor no Brasil, que eu conheço na Inglaterra. É assim: todo mundo do crédito pessoal, do cartão de crédito, do cheque especial etc., ao pagar duas vezes a dívida que tem, fica quitado por lei essa coisa. Essa é polêmica, mas estou apresentando aqui em primeira mão”, afirmou Ciro.

Renda mínima

Ciro também defendeu uma de suas principais propostas desta campanha: a adoção de um programa de renda mínima no valor de R$ 1 mil para famílias carentes.

“O que estou propondo é uma perna de um novo modelo previdenciário. Então, eu vou pegar o BPC [Benefício de Prestação Continuada], a aposentadoria-rural de muitos brasileiros que ainda remanescem, que não contribuíram no passado, o seguro-desemprego, e pegar todos os programas de transferência, especialmente o novo Bolsa Família, que é o Auxílio Brasil, transformar em um direito previdenciário constitucional”, afirmou.

Ele explicou que uma das fontes de financiamento do programa vai ser a taxação dos “super-rico”s.

“Eu vou agregar um tributo sobre grandes fortunas, apenas e tão somente sobre os patrimônios superiores a R$ 20 milhões. Entenda bem: só 58 mil brasileiros têm um patrimônio superior a R$ 20 milhões”, explicou.

Fome e informalidade

Ao longo da entrevista, Ciro fez comentou dois fenômenos recentes da realidade social do país: a escalada da fome e o aumento da informalidade no mercado de trabalho. Ao tratar dos temas, o candidato voltou a criticar os governos do PT e do presidente Jair Bolsonaro.

“Eu acho que o Brasil vive hoje a mais grave crise, se nós tomarmos em atenção os números do desemprego, da fome. Fome, fome, fome, 33 milhões de pessoas estão com fome, 120 [milhões] não fizeram as três refeições hoje. E há pessoas e grupos políticos responsáveis por essa tragédia. E eu acho francamente que a maior ameaça à democracia é o fracasso dela na vida do povo”, disse Ciro.

“Nós estamos mandando para a velhice, daqui a 15 anos, 50 milhões de brasileiros que não terão nenhuma cobertura previdenciária. Só eu estou preocupado com isso? Não é possível, a política não pode ser reduzida a essa coisa odienta, sabe? O Bolsonaro é um protesto contra a corrupção e a crise econômica que o PT produziu. Agora [há] a frustração com o Bolsonaro. E a gente vai voltar ao passado, sabe? O Brasil não aguenta mais isso”, declarou Ciro.

 Fim da reeleição

Ciro Gomes foi questionado sobre o impacto real de sua promessa de “abrir mão da reeleição” como forma de facilitar a negociação com o Legislativo. Segundo o candidato do PDT, a perspectiva de reeleição é um dos motores da corrupção e do “toma lá, dá cá” na política nacional.

“O que destruiu a governança política brasileira, nesse modelo que eu estou lhe falando, é a reeleição. O presidente se coloca infenso, com medo dos conflitos, porque quer agradar todo mundo para fazer a reeleição. O presidente se vende a esses grupos picaretas da política brasileira — desculpe a expressão […]. Mas esses grupos de pouco escrúpulo republicano – eu também tenho essas expressões. Porque têm medo de CPI e porque querem se reeleger”, enfatizou Ciro.

O candidato também foi perguntado se o fato de buscar indicar um sucessor para seu eventual governo, na prática, não significaria o mesmo movimento.

“Sim e não. Mas a chave aqui é que naquela reeleição, o povo estará sendo induzido voluntariamente a votar no projeto que começou a produzir resultados positivos. É o que eu sonho para o Brasil. O país estar bombando, crescendo 5% ao ano”, disse.

Meio ambiente

Para Ciro Gomes, a preservação do meio ambiente e a implementação de uma economia sustentável requer que a população das áreas de florestas sejam treinadas para mudar a forma de produzir. Ele explicou que, atualmente, o modelo acessível aos habitantes dessas áreas prevê o simples extrativismo.

“Nós temos que fazer um grande esforço de retreinamento, de diversificação da atividade produtiva. Nosso povo só sabe desmatar, pega madeira de lei sensível, corta e ganha US$ 2 mil por metro cúbico, dois metros cúbitos de mogno. Ele não entende como é que ele vai passar fome, com o filho dele com fome, tendo que ir embora com aquela árvore ali podendo dar US$ 2 mil com o contrabando”, afirmou Ciro.

Saneamento básico

O candidato do PDT à Presidência disse considerar um “avanço” o novo marco legal do saneamento básico, sancionado em 2020, mas disse ter preocupações em relação à regulação. A nova lei permitiu a privatização do serviço

“Se eu privatizo, a lógica da privatização é o lucro. Ou eu tenho uma regulação forte. Essa é a razão pela qual nós desconfiamos do marco que foi votado. Eu considero um avanço […] Mas a nossa preocupação é que não está nesse marco, o cuidado com isso”, argumentou.

Ciro, no entanto, disse considerar que o Estado pode “perfeitamente delegar” a execução de serviços de saneamento ao setor privado.

“A minha compreensão é a responsabilidade é pública, é estatal, mas a execução desse objetivo de universalizar o saneamento básico, abastecimento d’água deve ser delegado a quem for mais eficiente de fazer”, afirmou o candidato.

“É preciso que a responsabilidade por garantir a harmonia do sistema de saneamento e abastecimento d’água seja do Estado. Mas a execução disso o Estado pode perfeitamente delegar se for possível”, completou.

Crédito: Portal g1

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