Um verdadeiro caos. Assim pode ser definido o final de semana e feriado de Dia da Consciência Negra de boa parte da população de Rio Bonito e região. Segundo a concessionária Enel, na noite do sábado (18), “o evento climático, com chuva, fortes rajadas de vento e descargas atmosféricas, causou danos severos à rede elétrica de várias cidades fluminenses, interrompendo o fornecimento de energia”. De acordo com a Prefeitura de Rio Bonito, a Enel informou que na manhã do domingo (19), “150.000 unidades consumidoras foram afetadas na região (Rio Bonito, Tanguá, Itaboraí e São Gonçalo)”. Veja a Nota Oficial da Enel enviada na última quarta-feira (22), no final desta matéria.
Os dias foram muito difíceis para quem ficou sem luz e para quem ainda está. Em alguns locais, a luz voltou na segunda-feira (20) à noite, em outros, somente no dia seguinte, no final do dia. Segundo a Prefeitura, há usuários do serviço que até quarta-feira (22) estavam sem o fornecimento de energia elétrica, como na Serra do Sambê, Boqueirão, Sambê, bairro Marajó, Cambucás, Colina da Primavera e parte da Praça Cruzeiro, como a Rua Paulino Siqueira.
A população recorreu às redes sociais da Prefeitura para reclamar às autoridades o que estava acontecendo, já que muitos relataram que não conseguiam atendimento da Enel. A Defesa Civil de Rio Bonito precisou aumentar o efetivo para dar conta dos chamados na cidade e, para isso, trabalhou a madrugada toda na poda de árvores e muitas outras ocorrências.
Em nota publicada nas redes sociais, a Prefeitura informou “A Prefeitura Municipal de Rio Bonito, através da sua Chefia de Gabinete informa, que desde a noite do sábado (18) mantém equipes da Defesa Civil (24 Horas de Plantão), Guarda Municipal, Desenvolvimento Urbano, Obras e Serviços Públicos (Em mutirão), em diversos pontos da cidade, com o intuito de minimizar e reparar os danos do impacto causado pelas tempestades que acometeu o município e demais cidades da região”.
Na rede oficial da Prefeitura no Instagram, uma internauta reclamou, “Cadê os funcionários da Enel? Porque diariamente você vê passeando pela cidade. Mas num momento desses, já vi vários relatos que não teve um carro pela cidade de Rio Bonito”. Segundo ela, “Sem falar no fato que a Enel está fechando os chamados, e quando ligamos pra lá, falam que não teve nenhum contato antes”.
Um comerciante também expressou sua indignação e relatou os prejuízos através da rede social. “Minha padaria ficou fechada domingo e segunda pela manhã. Daqui a pouco tem 13° para pagar, salários e aluguéis”.
A microempreendedora do ramo de papelaria personalizada, Tainah Moraes, que mora em Cidade Nova, relatou a reportagem da Folha que ficou 48h sem luz, de sábado, por volta das 22h, até segunda-feira no mesmo horário. Ela conta que precisou jogar muita comida fora e levar equipamentos de trabalho para a casa de um parente para conseguir trabalhar. Por conta dos transtornos, Tainah já procurou uma advogada e entrou na Justiça com o pedido de indenização por dano moral.
“Fora o prejuízo psicológico, que foi até maior, tivemos prejuízos com alimentos da geladeira. Iogurtes, frutas, carne, frango, marmitinhas prontas congeladas, comidas, enfim, praticamente tudo que estava guardado. Para trabalhar, precisamos pegar equipamentos de trabalho e levar para casa do primo do meu esposo na segunda feira. E isso embaixo de chuva, correndo mais riscos de danificar. Levamos computador, plotter e impressora, tudo para casa de parentes para conseguir dar conta do trabalho e também carregar os celulares. Fora o calor absurdo que estava, que nem pra dormir dava. A Enel logo de primeira deu prazo para 0h33 (do mesmo dia para retomar a energia) e estávamos esperançosos que isso aconteceria, mas foram 48h sem luz no total”, conta a microempreendedora.
Orientações para entrar na Justiça
A presidente da 35ª Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Rio Bonito, Tanguá e Silva Jardim, Karen Figueiredo, dá orientações importantes aos consumidores que desejam requerer seus direitos na Justiça. Ela alerta sobre a importância de anotar os protocolos de atendimento fornecidos pela concessionária.
“O prazo para o restabelecimento da energia é de 24h, então é importante que se você está nessa situação há mais tempo que isso, que recorra à Justiça pedindo o restabelecimento imediato dela e, uma reparação civil por conta da manutenção da falta de luz na sua casa pelo período superior ao permitido. Para isso, assim que a energia for suspensa, entre em contato imediatamente com a empresa informando essa situação e requerendo o restabelecimento. Outra orientação importante é que você anote o protocolo de atendimento com data e horário, caso haja necessidade de ingressar na Justiça. É necessário que o consumidor conheça seus direitos e saiba a quem recorrer e o que fazer”. A advogada ainda pontua que cabe direito de reparação àquelas pessoas que tiveram eletrodomésticos queimados por conta da queda de energia.
Ação judicial da Prefeitura
Em entrevista à Folha na última quarta-feira (22), o prefeito Leandro Peixe disse que a Prefeitura vem realizando poda de árvores na cidade, que segundo ele, foram importantes ações preventivas. “Quando haviam ventos mais fortes, as pessoas ficavam sem energia devido as árvores, que precisavam de poda, então estamos fazendo essa ação de prevenção há algum tempo, que é o que cabe à nós. A poda ajudou muito nessa questão de que qualquer vento que dava, as pessoas ficavam sem energia”.
Ele informou que por conta da falta de resposta da Enel em reestabelecer o fornecimento de energia, a cidade entrará na Justiça contra a concessionária em uma ação coletiva. “Desde sábado estamos fazendo a nossa busca para saber os bairros que estão mais críticos, que estão sem resposta da Enel. Começamos a fazer isso institucionalmente, através de número do pedido e a demanda, só que com a falta de resposta imediata, ou seja, porque eles não restabeleciam a energia, ontem (terça-feira, 21), fiquei o dia inteiro com vários prefeitos, inclusive o prefeito de Niterói (Axel Grael) e, segunda-feira (27) vamos pra lá (Niterói) pra gente acionar a empresa judicialmente em uma ação coletiva, pois assim teremos mais força perante o judiciário para a resposta das pessoas que foram prejudicadas”, disse.
Para o prefeito, a concessionária mostrou fragilidade na prestação do serviço. “Temos que ter prestação de serviço de qualidade. Acho que o que está acontecendo hoje é que a empresa está mostrando a fragilidade na prestação de serviço, ela já sabia que ia ter um evento de uma virada de tempo, tanto é que ela nos procurou, não deve ter procurado só Rio Bonito, e mostrou o Plano Verão (plano apresentado pela concessionária, segundo o prefeito, mostrando os investimentos que seriam feitos no período do verão). Todos os municípios estão com o mesmo problema, a falta de resposta da volta da energia”.
A Enel
Em nota enviada à reportagem através de e-mail nesta quarta-feira (22), a Enel informou que “mais de 99% de todos os clientes afetados pela tempestade na área de concessão da empresa tiveram o serviço normalizado”. Veja a Nota na íntegra abaixo.
“A Enel Rio se solidariza com cada um de seus clientes que ficaram sem energia nos últimos dias e pede desculpas pelos transtornos causados após as fortes chuvas e ventos registrados na noite de sábado (18/11).
A empresa informa que mais de 99% de todos os clientes afetados pela tempestade na área de concessão da empresa tiveram o serviço normalizado. A empresa segue atuando nos atendimentos finais de sábado (18) e em ocorrências originadas nos dias seguintes à chuva.
O evento climático, com chuva, fortes rajadas de vento e descargas atmosféricas, causou danos severos à rede elétrica de várias cidades fluminenses, interrompendo o fornecimento de energia.
Ao todo, cerca de 900 equipes estão atuando na área de concessão da distribuidora para acelerar o atendimento das ocorrências remanescentes.
Como as emergências foram espalhadas em diferentes pontos específicos e a destruição da rede afetou diversos pontos ao mesmo tempo, o restabelecimento do serviço ocorreu de forma gradativa, apesar de todo o adicional de técnicos atuando nas ruas.”.
Texto: Lívia Louzada