Os depoimentos prestados pelos jovens que estavam em companhia de João Pedro Mattos, de 14 anos, quando o menino foi morto, no dia 19 de maio, com um tiro de fuzil, evidenciam que os policiais responsáveis por uma operação no local podem ter invadido um imóvel errado, onde só havia inocentes, e não os traficantes os traficantes de drogas que eles procuravam.
Os adolescentes prestaram depoimento no Ministério Público do Estado do Rio (MPRJ) nessa quarta-feira e afirmaram não ter visto nenhum bandido na casa onde estavam, na Região de Itaóca, em São Gonçalo, antes que o menino fosse baleado. Eles também relataram que agentes jogaram granadas na casa.
Segundo investigações prévias já realizadas pela Divisão de Homicídios de Niterói, Itaboraí e São Gonçalo (DHNISG), a casa onde os garotos brincavam, no Complexo do Salgueiro, foi invadida por policiais que deram mais de setenta tiros no imóvel. Em depoimento dado ao Ministério Público, todos os cinco jovens que estavam na casa com João Pedro disseram que viram policiais derrubando o portão e entrando no imóvel, antes de ordenar que todos se deitassem no chão.
Todos os jovens afirmaram que não viram nenhum bandido. Eles dizem que João Pedro pode ter sido baleado no momento em que os policiais jogaram duas granadas.
Drogas – Um menor disse que os agentes perguntavam a todo o momento onde estava a droga, o que eles estavam fazendo ali e se eles já tinham passagem pela polícia. Outro adolescente disse ao Ministério Público que os policiais diziam que tinham pessoas na parte de trás da casa. Afirmou também que ele foi mostrar aos policiais e que neste momento, viu os agentes mudando uma escada de lugar. Outro menor afirmou ouviu os primeiros tiros de um helicóptero quando estavam na área de lazer e que correram pra dentro da casa e ficaram inicialmente no quarto.
No depoimento, o menor afirma que os tiros continuaram e quando acabaram, foram todos para a sala. Também disse que quando a polícia entrou na casa estava silêncio.Dois menores falam de granadas No depoimento um dos jovens afirma que não ouviu disparos fora da casa nem qualquer outra pessoa pulando o muro ou correndo no terreno.Um dos jovens disse ao MP que os policiais lançaram duas granadas: uma no corredor e outra na frente da casa. Logo depois, ele contou que cada um correu para um quarto – ele acredita que neste momento João foi baleado.
Reprodução simulada adiada – A Polícia Civil adiou a reprodução simulada da operação das polícias Civil e Federal que terminou com a morte do adolescente. A Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí tinha marcado a diligência do caso para o último dia 9. A decisão foi tomada após a decisão do Supremo Tribunal Federal que proíbe operações policiais no Estado enquanto durar a pandemia do novo coronavírus. Mesmo após o resultado da perícia do projétil que atingiu o menino João Pedro ser inconclusivo, investigadores afirmaram que ainda é possível identificar o autor dos disparos.