“A primeira agressão foi quando tínhamos três meses de namoro. Disse que iria à igreja e ele me esmurrou porque não queria ficar em casa sozinho. As brigas e violências duraram três anos. Lutei pelo meu relacionamento, mas agressões nunca cessaram”. O relato é da soldado da PM Eliane do Amaral Monedeiro Venerando, 36 anos, agredida dezenas de vezes pelo ex-companheiro e que a partir de hoje integra a Patrulha Maria da Penha — Guardiões da Vida, que será lançada nesta manhã pela Polícia Militar do Rio. Segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP), 38 mulheres foram assassinadas por atuais ou ex-parceiros em 2019 — no período, foram registradas ainda 162 tentativas de feminicídio no Estado do Rio.
Em parceria com o Tribunal de Justiça do Estado do Rio, o novo programa da PM vai atuar nos 92 municípios fluminenses. Em um primeiro momento, quase 200 policiais (dos batalhões da capital e da Baixada Fluminense) já foram capacitados. Até o fim de setembro, militares das demais unidades passarão por treinamento. O objetivo é dar apoio e acompanhamento às mulheres que foram ameaçadas e passaram a contar com medida protetiva contra os agressores. Cada batalhão terá uma equipe com quatro PMs.
“O agressor, muita vezes, reincide porque acha que não tem ninguém pela mulher. Ele acredita que, porque a vítima foi à delegacia, tem uma medida protetiva, o papel sozinho não protege ninguém. Mas a Patrulha Maria da Penha é mais um mecanismo para fortalecer a proteção delas. Além disso, vamos trabalhar com a prevenção, com palestras e divulgações nos batalhões, igrejas e escolas”, destaca a major Claudia Moraes, subchefe do escritório do Programa de Prevenção da Coordenadoria de Assuntos Estratégicos da PM, uma das idealizadoras do projeto, em parceria com o secretário da Polícia Militar, coronel Rogério Figueredo de Lacerda.
Segundo dados da Justiça, o acompanhamento das mulheres com medida protetiva tem inibido a reincidência de casos de agressão e acarreta na redução da violência doméstica em geral. Para se ter ideia, no município de Três Rios — no interior do estado —, onde um programa semelhante foi adotado há três anos, a reincidência de casos de ameaças caiu de quase 80% para pouco menos de 3%.
“Foi uma iniciativa local muito exitosa e com resultados eficazes. A redução de incidência no 39º BPM (Três Rios), por exemplo, não chegou a 3% na avaliação de 2017 para 2018. Entretanto, esse tipo de ação precisava ser ampliado, trazendo outros atores para participarem”, conta a major Moraes.
Vítima da violência do ex-companheiro, a soldado Eliane Venerando foi uma das indicadas por comandantes dos 40 batalhões da PM para participar do Patrulha Maria da Penha. Segundo ela, o programa vai dar mais força para que mulheres denunciem seus agressores. “É importante denunciar, pois é a sua vida que está em risco. Eu tenho marcas de violência doméstica no meu corpo. E o que eu puder fazer para ajudar as mulheres que são agredidas, para que elas tenham voz, eu vou fazer”, garante.
Aplicativo para elas
Secretário da Polícia Militar, o coronel Rogério Figueredo de Lacerda avisa que levará ao governo do estado, ainda nesta semana, o Linha Direta PM. O aplicativo será mais um mecanismo para o combate à violência contra a mulher. “É uma ferramenta em que a mulher, que tem uma medida protetiva, vai acionar, de onde estiver, a sala de operações do batalhão da área onde reside”, informa.
Segundo o secretário, o aplicativo é semelhante ao já utilizado por moradores da Barra da Tijuca para evitar roubos de residências. “A vítima vai baixar a ferramenta e cadastrar nome, dados pessoais e endereço, e o suporte buscará a geolocalização. Quando ela tiver algum problema e após ser acionada a sala de operações do batalhão, ele ligará a câmera fotográfica do celular e também gravará um minuto do áudio ambiente”, explica Figueredo.
Fonte: Jornal O Dia