A Polícia Civil cumpriu na manhã desta quinta-feira (4) 42 mandados de prisão contra suspeitos de integrar milícia em Itaboraí. O grupo seria comandado por Orlando Oliveira de Araújo, conhecido como Orlando Curicica, que está no presídio federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, e teriam até mesmo cobrado pagamento de taxas ao Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, a Comperj. Ao todo, a Operação Salvator pretende cumprir 74 mandados de prisão, cinco contra policiais militares, e 90 mandados de busca e apreensão.
Um dos suspeitos de integrar o grupo paramilitar foi preso hoje em Rio Bonito. Outro suspeito, o ex-PM Alexandre Louback Geminiani, conhecido como Playboy, chegou a pular do quarto andar do prédio em que estava, em Itaboraí, para fugir da polícia. Entre os presos também há uma idosa. A participação de várias mulheres no esquema, com função de cobrar moradores e lojistas, chamou a atenção da polícia.
Segundo a polícia, um dos alvos dos suspeitos era o transporte de funcionários da Comperj. Eles teriam lucrado cerca de R$ 500 mil todos os anos. Curicica é um dos investigados por envolvimento na morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes em março do ano passado.
“A prática deles é bem brutal. A gente tem testemunhas e vítimas de extorsões não só destas taxas de segurança, mas também eles tomando alguns comércios, tomando residências, torturando moradores”, afirma o delegado Gabriel Poiava. O grupo paramilitar atua em Itaboraí há pelo menos um ano e meio, após expulsar o tráfico. Desde a chegada da milícia na cidade, traficantes começaram a aparecer mortos de forma misteriosa. Os corpos eram deixados nas ruas da cidade. O objetivo seria intimidar a população. Porém, a ação começou a levantar suspeita da polícia.
De acordo com os agentes, a milícia contou com auxílio de policiais militares para executar usuários de drogas, suspeitos de furtos pequenos e familiares de traficantes de outras comunidades da região. “Eles não só atuavam como a gente vislumbra naquela antiga clássica atuação de um grupo de extermínio, com ‘taxa de segurança'”, conta o promotor do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), Rômulo Santos. Segundo ele, os milicianos expulsavam moradores dos imóveis e anunciavam a venda através de sites como a OLX.
Crueldade
O grupo que atua em Itaboraí é conhecido pela crueldade na execução das vítimas. Segundo o delegado, alguns suspeitos chegaram a arrancar o coração e a cabeça de vítimas mortas pela milícia.
“Alguns foram presos também por tortura, outros porque mutilaram corpos de vítimas”, afirma o delegado responsável pela condução do caso, Gabriel Poiava.
Investigação
A operação continua em diversos pontos da cidade do Rio, além de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Rio Bonito. A ação conta com a Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSGI), agentes da Gaeco e da Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE), da Corregedoria da Polícia Militar e do Ministério Público. Ao todo, 300 policiais civis e 40 policiais militares estão à procura dos suspeitos.