Vacina russa contra Covid-19 imuniza todos os voluntários em teste inicial, diz estudo

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A vacina candidata contra a Covid-19 Sputnik V, desenvolvida pelo governo da Rússia, produziu uma resposta imune contra o novo coronavírus em todos os participantes na fase inicial de seus ensaios clínicos. Os resultados preliminares foram publicados nesta sexta-feira pela revista científica Lancet, um passo celebrado pelo Kremlin como uma resposta às críticas da comunidade científica internacional à falta de transparência na ocasião que a fórmula foi registrada pelos russos ainda na fase inicial dos estudos, no mês passado.

Os resultados dos dois ensaios, conduzidos entre junho e julho, envolveram 76 pacientes, todos adultos saudáveis divididos em dois grupos avaliados em intervalos de 42 dias. Todos desenvolveram anticorpos contra o Sars-CoV-2 sem efeitos colaterais consideráveis, de acordo com a Lancet.

“Ensaios clínicos mais amplos e de maior duração, com placebo, e maior monitoramento são necessários para estabelecer segurança e eficácia duradouras para a vacina”, diz o artigo publicado na revista.

A vacina, desenvolvida pelo Instituto Nikolai Gamaleia, recebeu o nome em referência ao satélite espacial Sputnik, o primeiro lançado no espaço, em 1957, pela então União Soviética. O governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), assinou em agosto um acordo com a Embaixada da Rússia para o teste e distribuição da Sputnik V no país, mas o imunizante ainda não foi avaliado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Cientistas dentro e fora da Rússia manifestaram preocupações quanto ao registro do imunizante para imunização da população antes da conclusão de ensaios clínicos de estágios avançados e da divulgação dos resultados científicos, que era mantido sob sigilo.

Base de adenovírus

Ainda segundo a publicação da Lancet, os resultados iniciais indicam que a vacina russa produziu células T, cujo papel na imunidade contra o novo coronavírus tem sido intensamente investigada por cientistas. Descobertas recentes indicam que essas células podem oferecer uma proteção mais duradoura do que anticorpos.

A Sputnik V foi desenvolvida para ser aplicada em duas doses, cada uma com um adenovírus, um vírus comum de resfriado, usado como vetor para o RNA decodificado do Sars-CoV-2. No caso da fórmula do Instituto Nikolai Gamaleia, são utilizados os adenivírus Ad5 e Ad26, ambos ligados a infecções em humanos, enquanto fórmulas como a da AstraZeneca, desenvolvida em parceria com a Universidade de Oxford (Reino Unido), usa adenovírus de chimpanzés.

Mas o método não reúne consenso científico. Alguns especialistas temem que o mecanismo torne uma eventual vacina menos eficaz, uma vez que muitas pessoas já foram expostas ao adenovírus Ad5 e desenvolvido imunidade contra o patógeno. Na China e nos Estados Unidos, por exemplo, estima-se que 40% das pessoas tenham níveis altos de anticorpos contra o Ad5.

Denis Logunov, um dos desenvolvedores da vacina na Rússia, disse à Reuters que a Sputnik V usa uma dose alta do Ad5 para superar qualquer imunidade desenvolvida contra o adenovírus sem oferecer riscos. A dose de reforço, que se baseia no adenovírus Ad26, mais raro, garante maior eficácia porque a possibilidade de uma ampla imunidade aos dois adenovírus na população é mínima, segundo Logunov.

Corrida global

É a primeira vez que os dados sobre a Sputnik V são publicados em um periódico científico com revisão de pares. Na última semana, foi iniciada a terceira fase dos testes, que envolverá pelo menos 40 mil voluntários. A Rússia pretende produzir entre 1,5 milhão e 2 milhões de doses por mês até o fim deste ano, aumentando gradualmente sua capacidade de produção para 6 milhões de unidades mensais.

— Com essa publicação, nós respondemos todos os questionamentos que foram diligentemente feitos nas últimas três semanas pelo Ocidente, honestamente, com a intenção clara de manchar a vacina russa. Tudo foi esclarecido. Agora começaremos a questionar algumas das vacinas ocidentais — afirmou Kirill Dmitriev, que dirige o Fundo de Investimento Direto Russo, o fundo soberano da Rússia, que financiou a vacina.

Ainda de acordo com Dmitriev, pelo menos 3 mil pessoas já foram recrutadas para a fase final dos ensaios clínicos da Sputnik V. Os resultados são esperados para outubro ou novembro deste ano.

Para o professor de imunologia da Escola Bloomberg de Saúde Pública da Universidade Johns Hopkins (EUA), os dados são “encorajadores, mas limitados”. Ele lembra que nenhuma vacina candidata contra a Coivd-19 teve sua eficácia clinicamente comprovada.

Governos e farmacêuticas de diferentes países disputam uma acirrada corrida pelo desenvolvimento de uma vacina capaz de por fim à pandemia da Covid-19, que matou quase 870 mil pessoas e infectou 26 milhões, segundo a Johns Hopkins. Algumas companhias são consideradas líderes da disputa por conduzirem estágios avançados de ensaios clínicos, como a britânica AstraZeneca, as americanas Moderna e Pfizer e a chinesa Sinovac Biotech.

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