Com a confirmação de que o vazamento de gasolina em Duque de Caxias na última sexta-feira (26) atingiu o lençol freático da região, ambientalistas alertam para o risco da contaminação chegar à Baía de Guanabara. A tentativa de furto no oleoduto da Transpetro ocorreu próximo ao Rio Iguaçu, que deságua na Baía. Especialistas destacam que levará décadas até que o lençol seja recuperado do óleo vazado em grande quantidade.
— São dois os principais perigos: a alta toxicidade da gasolina, que vai matar plantas, animais e micro-organismos, e a capacidade de mobilidade do material, porque o lençol freático é como um rio subterrâneo — explica o oceanógrafo David Zee, que alerta para o risco de contaminação da Baía de Guanabara. — Não tenha dúvidas de que pode chegar à Baía. A gasolina tem decomposição muito lenta e vida útil elevada.
Água de Poço condenada
Apesar do risco, Zee lembra que a Baía de Guanabara já recebe poluição de outras fontes e que despejos cotidianos são mais relevantes. Para o engenheiro florestal Salvador Sá, o principal problema é a contaminação dos bairros Parque Capivari e Amapá, área do vazamento.
— O lençol fica condenado, ninguém poderá tomar água dele. A gasolina tem substâncias cancerígenas, como o benzeno. É muito difícil essa recuperação (do lençol), pois o material é de difícil degradação — afirma Sá, também destacando a proximidade do Rio Iguaçu. — Ainda acho pouco provável o material chegar até a Baía, porque é uma distância de mais de três quilômetros. Como foi um vazamento superficial e logo contido, acredito que parte já evaporou e parte já foi absorvida pelo solo e vegetação. Mas só com monitoramento para saber até onde a contaminação irá.
Ambientalistas reclamam da falta de fiscalização e de planos de contingência em locais com riscos de contaminação. Sérgio Ricardo, do movimento Baía Viva, afirma que protocolou, em fevereiro, representação no Ministério Público Federal (MPF) e no Ministério Público do Estado (MPE) solicitando providências em relação “à grave situação de vulnerabilidade provocada por diversas Áreas de Riscos Tecnológicos” em locais que beiram a Baía de Guanabara. Ele cita o vazamento de sexta e o incêndio na Refinaria de Manguinhos em dezembro como provas desses riscos.
— Nas áreas onde passam oleodutos e outras instalações do ramo petrolífero e petroquímico quase sempre há contaminação do solo e do lençol freático. E esse bairro de Caxias é uma região rural, muitas famílias usam poço artesiano — ressalta o ambientalista.
Procurada, a Prefeitura de Duque de Caxias informou que só saberá o nível de contaminação após estudo que será solicitado hoje. A orientação é que moradores num raio de até cinco quilômetros não utilizem água de poços artesianos e de captação e também de cursos d´água. A prefeitura afirmou que a Transpetro terá que fornecer água potável a essas famílias e apresentar um plano de remoção.
A Defesa Civil de Duque de Caxias disse que o vazamento afetou 17 pessoas, que só poderão voltar para suas casas depois de a Transpetro descontaminar o lençol freático. No sábado, a Light foi autorizada a religar a energia, e a Transpetro — que será multada em até R$ 17 milhões pela prefeitura — começou a transferir os moradores para um hotel. Mas muitos preferiram ir para a casa de amigos. Foi o caso de Lira Paes Leme Pacheco, avó de Ana Cristina Pacheco, que teve 80% do corpo queimado e que continua internada em estado grave.
— Eu, dentro de um hotel, vou perder a minha vida. Sempre tive o pé na terra e não em cima de carpete — disse Lira, dona de um bar .
Fonte: Jornal Extra