Gerador pode ter provocado incêndio no Hospital Badim, que matou 22 pessoas

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Responsável pelas investigações do inquérito da Polícia Civil sobre o incêndio no Hospital Badim, ocorrido em setembro passado no bairro da Tijuca, Zona Norte do Rio, a delegada Carina Bastos, da 18ª Delegacia de Polícia (Praça da Bandeira), afirmou nesta sexta-feira (6) que o fogo que causou a morte de 22 pessoas pode ter começado no gerador no subsolo da unidade hospitalar. O relato de Carina foi feito durante audiência pública, no Palácio Tiradentes, da CPI da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) que investiga os recorrentes incêndios no Estado. Última vítima do incêndio morreu no domingo passado, 1º de dezembro, no hospital Quinta D’Or.

“De acordo com depoimentos de vários funcionários eram dois geradores: um no subsolo e outro na cobertura, e o primeiro seria usado no horário da tarde para economia de energia. Contudo, precisamos de mais informações para podermos concluir o caso”, disse a delegada, que ainda vai ouvir a empresa responsável pelos geradores, a Stemac, além de parentes das vítimas e sobreviventes.

Advogado do hospital, Bernardo Kayuca afirmou que a unidade tinha licenciamento dos Bombeiros e que o gerador era sim utilizado em determinados horários para economizar energia: “É comum essa prática, só não sei dizer desde que horas o gerador já se encontrava em funcionamento”. Ele explicou que a equipe da unidade é composta por 100 profissionais e que no momento do incêndio tinham 34 brigadistas no local. Por sua vez, o diretor do Badim, Fábio Santoro, assegurou que a manutenção e documentação dos geradores estavam em dia.

Imagens do interior do hospital após o incêndio (Foto: TV Globo)

Já o delegado que esteve presente no dia do incêndio, Roberto Ramos, também da 18ª DP, afirmou que a perícia do local só pôde ser realizada no dia seguinte: “No térreo havia muita água e por conta da presença de eletricidade não tinha como realizar a perícia”. Ele disse, ainda, que na parte onde funcionava o gerador do térreo existia um estoque de combustível, provocando fumaça quente que pode ter causado a morte das vítimas.

O subchefe operacional do Corpo de Bombeiros, coronel Sarmento, relatou que houve demora no chamado da corporação ou na detecção do fogo no Badim. Segundo ele, o acionamento da equipe foi feito às 17h52 e as equipes chegaram ao local às 18h03, observando que a operação de combate ao incêndio contou com 10 quartéis dos Bombeiros.

“Já era um incêndio em propagação, e seguimos um protocolo padrão para a evacuação de vítimas. Os pacientes que poderiam se locomover foram os primeiro a sair, tinha aqueles que precisam de ajuda para andar, além dos que não podiam se mexer, como os internados no CTI. Mas alguns pacientes já estavam saindo do hospital quando nossas equipes chegaram, recebendo orientações da diretoria de socorro de emergência”, relatou. O Corpo de Bombeiros realizou a evacuação de 89 pessoas, entre as quais médicos, funcionários e parentes de doentes hospitalizados.

Parentes desamparados

Presentes à audiência pública, parentes dessas vítimas relataram momentos de desespero vividos por eles e pelos seus entes queridos, bem como reclamaram do descaso do Hospital Badim. Carlos Outerelo, que no incêndio perdeu sua mãe de 93 anos, contou que a acompanhava no dia da tragédia e que ela tinha passado por cirurgia, tendo sido retirada do CTI pelos bombeiros. “Depois, recebi a informação de que ela estaria em outro hospital, mas na verdade o corpo já estava no Instituto Médico Legal. O hospital fez o ressarcimento do valor pago no funeral, mas todos os contatos com a unidade foram iniciados por mim. Eu e minha família não nos sentimos amparados”, relatou Carlos.

Sobre a situação das famílias, o diretor do hospital contou ter organizado um grupo de trabalho para comunicar sobre óbito e transferência para outras unidades. Ele disse ainda que o hospital que mais recebeu pacientes foi o Quinta D’or pela proximidade e disponibilidade de leitos. Quanto às indenizações, Santoro afirmou que já são seis acordos fechados e 10 em andamento: “Foi uma catástrofe. No momento do incêndio tinham 430 pessoas no hospital, 100 pacientes internados e a maioria era de pessoas idosas”.

Incêndio ocorreu no dia 12 de setembro (Foto: Reuters)

A médica-legista e diretora do Instituto Médico Legal (IML), Gabriela Graça, foi responsável pela necropsia das 10 primeiras vítimas, entre as quais nove morreram por inalação da fumaça. Segundo ela, um senhor morreu imediatamente, porque o aparelho que ele dependia para viver foi desligado no momento do incêndio. No entanto, Graça afirmou que necessita dos prontuários para analisar cada caso.

Presidente da CPI dos Incêndios, o deputado Alexandre Knoploch (PSL) afirmou que existem entendimentos diferentes: o da Polícia Civil, de que a unidade não tinha licenciamento; e o do hospital assegurando que possui autorização para funcionar. “Essa é uma questão muito confusa e que precisa ser esclarecida. Por isso, vamos requerer a todas as instâncias e ao próprio Badim esclarecimentos para saber se, de fato, o local tinha ou não permissão para estar em atividade”, observou o parlamentar, acrescentando que haveria licença para funcionamento somente do prédio novo do hospital (onde ocorreu o incêndio) e não do antigo – a unidade operava em dois edifícios.

Integrantes da CPI anunciaram também que vão solicitar aos órgãos competentes como Corpo de Bombeiros, Conselho Regional de Engenharia Arquitetura e Agronomia (CREA), vigilância sanitária, entre outros, laudos e certificados do hospital referentes às modificações no edifício, situação do alvará expedido pela prefeitura, reparação e recarga de cilindros, além de enviar ofícios à Naturgy e à Light sobre o horário da interrupção de fornecimento de gás e energia elétrica. Eles ainda vão enviar um documento à Stemac, empresa responsável pelos geradores, para saber de detalhes sobre a manutenção dos aparelhos.

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