Polícia Civil do Rio investiga mais de cinco denúncias de maus-tratos e ‘tortura’ em creche; veja o vídeo

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A Polícia Civil do RJ investiga mais cinco casos suspeitos de maus-tratos e agressões contra crianças em uma creche-escola de Ramos, na Zona Norte do Rio.

Duas professoras e a diretora da creche Tempo de Construir são acusadas de maus-tratos contra um menino de 4 anos, Dante, que possui paralisia cerebral.

A mãe do menino, Flávia Louzada, também fez um registro com denúncias de maus-tratos contra a irmã de Dante, Helena, durante o período em que frequentou a instituição.

A Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (DCAV) recebeu denúncias de outros pais contra professoras da creche. Um dos casos foi registrado como tortura na especializada.

Segundo a Polícia Civil, os inquéritos estão em andamento e em fase final.

Procurada, a defesa da escola disse que não iria se manifestar porque não tem conhecimento de outras denúncias, e que aguarda ser chamada oficialmente para prestar esclarecimentos.

Ainda de acordo com a defesa, a escola continua aberta e funcionando normalmente, é fiscalizada e nada de errado foi constatado.

Em nota sobre o caso de Dante, a defesa afirmou, através de nota, que apresentará seus argumentos no processo “com provas de que todos os alunos sempre foram bem acolhidos e tratados com respeito, dedicação e carinho, sem discriminação”.

‘Tortura’

No depoimento na DCAV, a mãe de um menino, que em 2021 tinha 2 anos, relatou que viu imagens do braço dele sendo torcido por uma das professoras.

Nas imagens, ele ainda era puxado pelas pernas e era jogado contra as cadeiras. A mãe relata que, depois disso, notou uma mudança de comportamento no filho, que passou a ser mais agressivo e morder os pais, além de chegar com marcas roxas (hematomas) em casa.

“Quando tivemos acesso a três dias de gravação das câmeras do colégio, nós pudemos perceber qual era o grande problema da agressividade do meu filho. Porque o meu filho era tratado com agressividade diariamente pelos professores e auxiliares da creche”, relatou a mãe, que não quis se identificar.

“Em uma das cenas, o meu filho é torturado. Em outros momentos desses três dias, o meu filho também sofreu agressões”, contou a mãe.

Depois de tirar o filho da escola, ela diz que a criança melhorou a sociabilidade e deixou de ser agressiva.

“Hoje o meu filho faz acompanhamento psicológico, 16 horas semanais de terapia, para amenizar os danos deixados pelos maus-tratos e pela tortura que sofreu. Hoje, tudo que eu e minha família queremos é justiça. A gente quer que essa escola feche para que nenhuma mãe passe pelo que o meu filho passou”, disse.

Penico na sala de aula

Dois casos envolvendo meninas com autismo clínico diagnosticado e transtorno do espectro autista também foram relatados à polícia.

Uma menina de 4 anos, chamada Sarah, foi levada para o local, segundo a mãe, Eli Emanuele, porque havia a promessa de uma escola inclusiva. “Não foi assim que aconteceu. Antes ela gostava de ir para a escola, mas de repente ela começava a chorar só de entrar na rua, depois começou a ficar agressiva. Mudou completamente”, relatou a mãe.

Um momento dramático, de acordo com a mãe, aconteceu no desfralde da filha. Emanuele disse que comprou um penico para Sarah, igual ao que tinha em casa. Os relatos que ouviu, no entanto, revelaram o que seria uma exposição da filha aos outros colegas e aos professores.

“Nós descobrimos que a escola mantinha esse penico na sala de aula, justamente para não ter o trabalho de levar a Sarah ao banheiro para fazer as necessidades. A Sarah era obrigada a fazer todas as necessidades na sala de aula, na frente dos coleguinhas”, relatou a mãe.

O penico foi levado para o banheiro no dia seguinte.

Emanuele contou que a filha comia, todos os dias, macarrão com feijão. As funcionárias da escola teriam lhe dito que a menina não aceitava a comida da escola e por isso teriam decidido, sem sua autorização, manter a mesma refeição diariamente.

A mãe conta que decidiu tirar a filha da creche-escola após ouvir relatos da acompanhante terapêutica do que chamou de “má vontade” nas atividades da instituição, além do isolamento que disse que a filha sofria no local.

“A única coisa que eu peço é que seja feita justiça, que essa escola feche, porque esse lugar nem pode ser chamado de escola”.

O caso está no mesmo inquérito que levou ao indiciamento da diretora, mas não foi registrado porque a mãe de Sarah se mudou para Brasília. O registro na DCAV deve ser realizado em julho.

Melissa Azevedo, que hoje tem 3 anos e também possui o diagnóstico de transtorno do espectro autista, passou por experiências semelhantes.

O pai, Marcos Azevedo, conta que ela foi “isolada” por outras profissionais da escola e também revela que a menina ficou sem hidratação.

“Em uma escola que se dizia inclusiva, nossa filha foi discriminada por ser autista. A omissão e exclusão causadas pelas professoras eram nítidas, sem falar nos maus-tratos, pois nossa filha era privada de tomar líquido, ela mostrava do jeito dela sede e não era oferecido”, diz ele.

Um vídeo mostra um momento em que a filha, sem brincar com outras crianças, recorre ao lixo para se divertir em sala de aula. “Ela não interagia com a classe, brincava com o lixo várias vezes”, lamentou.

“Esperamos todo o rigor da lei, pois ela é não verbal, e só tínhamos o comportamento dela para observar. Até hoje ela ainda não fala funcionalmente”, finalizou.

Irmã afetada

Flávia Louzada, mãe de Dante, que teve o caso levado à Justiça na 41ª Vara Criminal, contou ao g1 que também registrou ocorrência por causa da filha Helena. Segundo ela, a decisão foi tomada após ver as imagens das câmeras da creche.

“Vi cenas da minha filha comendo migalhinhas de cima da mesa porque a comida dada a ela era pouca. O cardápio é uma coisa, a realidade é outra. Tem uma cena em que minha filha aparece deitada no chão, dormindo do lado de um saco de lixo, de uma lixeira. E ela não está dormindo numa caminha, não. Ela está num cantinho qualquer e aparece a professora, chega, vê que está atrapalhando a passagem e arrasta ela para mais perto do lixo”, relata.

Em outro momento, Flávia percebeu que a filha não queria mais que ela pegasse no seu cabelo. As imagens, segundo ela, revelaram o motivo:

“Em outro momento, a Helena começou a não querer muito que eu pegasse no cabelo dela. Falei isso com a terapeuta ocupacional, se poderia ser alguma hipersensibilidade, alguma coisa do tipo. Mas nas imagens eu vejo que uma das funcionárias pega ela pelo cabelo. Por isso que a minha filha não deixava eu botar a mão no cabelo”.

Quarto escuro

Lucca, amigo de sala de Dante, também passou por problemas semelhantes. De acordo com o registro de ocorrência obtido pelog1, a mãe de Lucca conta que o filho voltava para casa com muita fome, sede e com hematomas pelo corpo.

Posteriormente, a mãe relata que uma testemunha contou que o filho era constantemente “amarrado em uma cadeirinha de alimentação de castigo no escuro, por ser considerado muito agitado”. No depoimento, ela cita as professoras Samantha Carla Alves Cavalcanti e Vitória Barros da Silva Rosa.

Outro menino, Benjamin, também foi alvo de maus-tratos, de acordo com os pais. Segundo a mãe, o menino voltava para casa da creche com hematomas pelo corpo, passou a ter um comportamento agressivo e chegava “assado” porque sua fralda, por vezes, não era trocada.

No inquérito do caso de Dante, que foi denunciado à Justiça, a mãe também relatou que o filho era preso a uma cadeira de alimentação em um quarto escuro.

A mãe contou ainda que o filho, hoje, tem pavor de tirar fotos e de ficar no escuro.

Crédito: Portal g1

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