O presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciou o início de uma operação no leste da Ucrânia na noite da última quarta-feira (23), horário em Brasília. No entanto, o ataque foi além da região de Donbass e diversas cidades ao longo de toda a fronteira ucraniana foram bombardeadas.
Um motivo: Laços Históricos
Hoje, parte da população ucraniana (e mais nacionalista) que vive na região ocidental do país apoia uma maior integração com a Europa, enquanto a comunidade do leste, principalmente de língua russa, defende laços mais estreitos com Moscou.
A Ucrânia era parte da extinta União Soviética até declarar independência em agosto de 1991. O país era parte estratégica da URSS –era a segunda mais populosa das 15 repúblicas soviéticas e concentrava grande parte da produção agrícola, industrial e dos aparatos militares da região, incluindo a Frota do Mar Negro e parte do arsenal nuclear soviético.
Mas os dois países possuem laços históricos que datam de séculos atrás e remetem à própria fundação de Kiev, a capital ucraniana, e das cidades russas.
Com o fim da União Soviética, a Ucrânia tinha o 3º maior arsenal atômico do mundo, embora não tivesse o controle operacional destas armas nucleares. Na década de 1990, EUA e Rússia trabalharam para desnuclearizar o país –Kiev abriu mão de suas ogivas nucleares para a Rússia, com garantias de que não seria atacada e suas fronteiras seriam respeitadas.
Com o colapso da URSS, a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) iniciou a sua expansão para o leste, incorporando países ex-soviéticos, como Lituânia, Letônia, Estônia, além de Polônia, Romênia e outros países próximos da Rússia. Em 2008, quando autoridades da Otan sugeriram a entrada da Ucrânia, uma linha foi cruzada para Putin, já que o país era considerado área de influência russa.
Em suas mais de duas décadas no poder, Putin investiu na reconstrução das Forças Armadas da Rússia e na reafirmação da influência geopolítica do Kremlin. Ele insiste que a Ucrânia é fundamentalmente parte cultural e histórica da Rússia.
Putin quer garantias de que a Ucrânia e a Geórgia –outra ex-república soviética invadida pela Rússia em 2008– não serão parte da aliança militar atlântica formada por 30 países. O presidente russo afirma que a expansão da Otan é uma ameaça existencial ao seu país.
O tratado que constituiu a criação da Otan afirma que um ataque a qualquer país integrante aliança é tratado como uma ameaça ao grupo todo. Isso significa que qualquer movimento militar russo contra uma hipotética Ucrânia dentro da Otan colocaria o Kremlin em conflito com os EUA, o Reino Unido, a França e outros países europeus.
Hoje a Ucrânia é quarto maior receptor de financiamentos militares dos EUA, e os serviços de inteligência dos dois países cooperam ativamente.
Mais um motivo: O que é o gasoduto russo Nord Stream 2?
Entre as sanções anunciadas pelos europeus pela decisão russa de reconhecer a independência das províncias separatistas ucranianas, o chanceler alemão Olaf Scholz suspendeu a permissão para a abertura do gasoduto Nord Stream 2. Até agora, Berlim resistia em pausar o projeto, apesar da forte pressão dos Estados Unidos e de alguns países europeus.
A Rússia depende há décadas dos oleodutos que passam pela Ucrânia para bombear gás natural para clientes na Europa, e paga bilhões de dólares por ano em taxas de trânsito para Kiev. No entanto, no ano passado, Moscou concluiu a construção de seu gasoduto Nord Stream 2, que corre sob o Mar Báltico até a Alemanha. Ele foi construído paralelamente ao Nord Stream, que está funcionando desde 2011.
De acordo com a BBC, juntos, esses dois gasodutos podem fornecer 110 bilhões de metros cúbicos de gás para a Europa todos os anos. Isso é mais de um quarto de todo o gás que os países da União Europeia usam anualmente.
Embora a Rússia ainda vá utilizar os gasodutos que passam pela Ucrânia pelos próximos anos –até mesmo décadas—o temor é de que o Nord Stream 2 poderia permitir que a Rússia tenha maior influência geopolítica na Europa. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirma que o Nord Stream 2 é “uma arma política perigosa”.
Créditos: Band Notícias e Portal g1