(Por ocasião do “Dia de Finados”, neste 02/11/2023)
“Praia” e “Cemitério” são duas coisas as quais, muitos diriam, não combinam em tempo algum. Mas em Rio das Ostras os dois locais e seus freqüentadores estão em harmonia durante todo o ano. O que parece que também acontecerá neste 02 de novembro, “Dia de Finados”. A “Praia do Cemitério” fica entre as Praias do Centro e da Boca da Barra. O cemitério, é claro, localiza-se praticamente em frente à referida faixa de areia, só separado dela por um trecho de rua e um restaurante que se encontra desativado. O qual, aliás, inusitadamente, tem “parede meia” com o muro da necrópole (te esconjuro!). Por sinal, no dia 30/10 o cemitério já estava com a pintura devidamente retocada para receber os visitantes.
O local dispõe inclusive de placas indicativas com o “sugestivo” (e macabro) nome “Praia do Cemitério”. Não sei – mas gostaria de saber – de quem foi a “feliz” (e mórbida) ideia de batizar aquela bela praia com esse nome. Porém, especulações à parte, provavelmente muita gente a frequentará neste “Dia de Finados”. Afinal, apesar de todo o respeito que a dor alheia pela perda dos seus entes queridos merece, é a vida que segue. Embora, de acordo com a “tradição meteorológica”, o tempo sempre fique nublado ou mesmo chuvoso nesta data
Muitos dos moradores de Rio das Ostras, que porventura não tenham o hábito de cultuar e homenagear os mortos ou felizmente não os possuam ainda, irão naturalmente aproveitar o feriado para pegar o seu sol, dar uns mergulhos, beber cervejas e jogar conversa fora nos quiosques das redondezas. Creio que até mesmo aqueles que vêm de fora do Município para visitar os túmulos neste “feriadão” também não deverão resistir à tentação de frequentar a referida praia após o cumprimento de seus “atos de solidariedade e fé cristã”.
Mas o que pensar mais, afinal, sobre uma praia que se chama “Praia do Cemitério”? Dá para marcar um encontro romântico, por exemplo, e dizer “meu amor, me espere, por favor, à meia-noite na Praia do Cemitério?” E se quiser ceiar com um par de primeiro encontro, o convidado perguntar aonde eles irão, e quem convida responder: “vamos jantar no restaurante do cemitério?”. E parece não ser muito “romântico” nem animador jantar à luz de velas (ou de candelabros mesmo) ao lado de um cemitério. Felizmente ainda não se conhece – ou não foi divulgada – nenhuma “lenda” sobre a aparição de “fantasmas” tomando banho naquela praia durante a madrugada.
E dá a impressão que aquela faixa de areia também é um tanto “discriminada” devido ao nome, uma vez que a maioria dos banhistas prefere mesmo o trecho mais para adiante, já chegando na “Boca da Barra”. Não sei também ao certo qual o motivo, mas a verdade é que o citado ponto comercial está fechado há um bom tempo.
Vale ressaltar, ademais, que um dos aparelhos de ar condicionado (“sprinter”) de um dos salões do restaurante está instalado exatamente na parede que faz divisa com o cemitério. Não sei até que ponto o equipamento aspira o ar externo, mas, conforme for o caso, esse estará sugando os eflúvios dos fogos fátuos de cadáveres sepultados recentemente os quais naturalmente emanam das sepulturas ao lado.
Aliás, quando este cronista foi até a porta fechada do restaurante para olhar como ele estava por dentro, observou logo na entrada principal uma mesa praticamente posta, com seis cadeiras, contendo anteparos de vime para pratos como se estivesse aguardando algum grupo de comensais. E sentiu um calafrio ao imaginar que os tais “convidados” para uma eventual ceia naquele local abandonado poderiam estar ali bem ao lado. Mistérios da meia-noite…
(Texto do Livro “Crônicas Riostrenses – A Cidade na Visão de um Recém-Chegado”, que o autor está escrevendo).