Mães, irmãs, mulheres e até sogras de criminosos estão entre os presos durante a megaoperação no Complexo do Alemão, na Zona Norte, nesta quarta-feira (15). O grupo é investigado por gerenciar a “Caixinha do CV”, que é o núcleo financeiro da facção Comando Vermelho. Ao todo, os agentes cumpriram 12 mandados de prisão, três suspeitos foram mortos e um PM do Bope acabou baleado.
Em coletiva de imprensa na Cidade da Polícia, o delegado Gustavo Rodrigues explicou que além da lavagem de dinheiro, os parentes também se beneficiavam do dinheiro.
“Quando um indivíduo que trabalha para uma facção é preso, a família continua recebendo dinheiro, como se fosse uma benefício. Nós descobrimos uma movimentação multimilionária desses indivíduos e de pessoas por trás deles. Eles são um núcleo duro que a organização criminosa usava para movimentação financeira. O que eles faziam é que todo dinheiro de roubo de carga, veículos, venda de drogas e entre outros, era depositado em contas de passagens desses presos”, relatou.
O delegado contou também que ao menos seis dos envolvidos confessaram o crime. Segundo Gustavo, a organização é dividida em duas vertentes.
“Eles atuam como se a organização fosse uma empresa. Essas mulheres que foram alvos têm diferentes graus com criminosos da facção, temos esposas, mãe, irmãs, sogras de narcotraficantes. Existem duas figuras que foram separadas, as pessoas que operacionalizavam o dinheiro e as pessoas que se beneficiaram. Essa denúncia de hoje é em relação ao núcleo que lava dinheiro para facção criminosa, mas existem outros investigados que se beneficiaram do dinheiro”, explicou.
Dentre as mulheres nenhuma foi presa no Complexo do Alemão. Os mandados também foram cumpridos em Bangu, Jacarepaguá, Engenho da Rainha, Nova Iguaçu, Ramos, Copacabana, Cordovil, Santo Cristo e no Instituto Penal Vicente Piragibe. Além disso, também há mandados sendo cumpridos nos estados da Bahia e Paraíba.
Leia também: Caveirão derrapa durante operação no Complexo do Alemão
O objetivo era prender 14 pessoas. Desse grupo, um morreu. Os demais suspeitos mortos não eram investigados, mas entraram em confronto com policiais militares. Na comunidade, foram apreendidos oito fuzis, uma submetralhadora, uma pistola, grande quantidade de drogas, 12 carregadores de fuzis, munições e sete granadas.
De acordo com o Coronel Aristheu, comandante do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), os agentes enfrentaram resistência por parte dos bandidos ao entrar na comunidade.
“Nós mobilizamos o efetivo para tomar o terreno nas primeiras horas da madrugada, juntamente com o pessoal da Core, tivemos resistência armada e física com barricadas incendiadas e óleo na pista, mas com todo aparato disponibilizado pela PM conseguimos estabilizar o terreno. O policial do Bope ferido em ação passa bem, ele teve um contato com elementos do tráfico, teve troca de tiro e foi atingido no ombro esquerdo e antebraço direito, mas não corre risco de morte”, contou.
Suposto vazamento de informações.
Ainda na coletiva, os representantes das Forças de Segurança comentaram sobre o suposto vazamento de informações sobre a operação.
De acordo com o Coronel da PM Marcelo Menezes, a ação contou com 490 policiais militares, 14 veículos blindados, duas aeronaves, três ambulâncias, duas retroescavadeiras, dois caminhões prancha e um caminhão basculante, além de 70 viaturas.
“Não temos nenhum compromisso com algo irregular e qualquer tipo de demanda criminosa iremos apurar com todo rigor. Toda essa mobilização gera expectativa nas organizações criminosas, eles pensam que essa mobilização vai está direcionada a algum tipo de complexo, então obviamente há uma movimentação desses marginais, no sentido de esperar e se preparar para repelir nossa ação. Então esse movimento, de acordo com dados de inteligência, ocorre nos complexos da Maré, Penha, Chapadão, Israel e em várias outras comunidades”, explicou.
Menezes afirma que toda e qualquer irregularidade será investigada junto a Corregedoria, mas reforça que uma simples mobilização dos agentes já é o suficiente para gerar movimentação entre os criminosos.
O secretário de Polícia Civil, Felipe Curi também esclarece que toda operação requer uma grande logística, o que faz com que os complexos de comunidades fiquem em alerta.
“Se esses marginais que estão gerando intranquilidade para toda população do Rio, com roubo de cargas e veículos, eles também não vão ficar tranquilos, não só eles, mas todos aqueles que o cercam, seus parentes que são beneficiados diretamente do lucro dessas operações e dos parentes de preso financiados por essa facção. Nós vamos reprimir e tirar dinheiro dessas organizações criminosas”, disse.
Entenda o esquema da ‘Caixinha do CV’
De acordo com a Polícia Civil, o financiamento é alimentado por diversos crimes, como roubo e furto de veículos e de cargas, compra de drogas e armamentos, expansão territorial, pagamento de propinas, assistência a membros presos e crimes conexos, como extorsões, além da exploração monopolizada de serviços de internet.
Além disso, o sistema funciona por meio de taxas cobradas mensalmente de líderes de pontos de venda de drogas nas comunidades dominadas pela facção. Em troca, os responsáveis pelas “bocas de fumo” têm acesso à marca da organização, fornecedores de drogas, suporte logístico e apoio bélico.
As investigações, conduzidas com uso de tecnologia avançada pelo Laboratório de Tecnologia contra Lavagem de Dinheiro (LAB-LD), revelaram ainda um esquema sofisticado que movimentou milhões de reais através de atividades ilícitas. Segundo a apuração, houve ocultação de valores em cerca de 5 mil operações financeiras, totalizando mais de R$ 21 milhões.
Início das investigações
De acordo com o Ministério Público, as investigações tiveram início em 21 de maio de 2019, com a prisão em flagrante de Elton da Conceição, conhecido como “PQD da CDD”, na Cidade de Deus, em Jacarepaguá. Na ocasião, foram apreendidas armas, munições e documentos que revelaram um esquema estruturado de lavagem de dinheiro operado pelo Comando Vermelho. Entre os materiais recolhidos, foram encontrados comprovantes de depósitos bancários, que permitiram rastrear movimentações financeiras ilícitas utilizadas para financiar as atividades da facção criminosa.
A primeira fase da operação, em 2020, concentrou-se na identificação do fluxo financeiro vinculado ao Comando Vermelho. Essa etapa resultou no indiciamento de 84 pessoas e na apreensão de documentos que detalhavam o funcionamento da “Caixinha”, o fundo financeiro que sustenta a organização criminosa.
Crédito: odia.ig.com.br
Assim que ler a matéria, deixe seu comentário e nos siga nas redes sociais