O presidente Jair Bolsonaro anunciou que vai acabar com as lombadas eletrônicas nas estradas. O anúncio causou preocupação em dirigentes de organizações que defendem mais segurança no trânsito, como Fernando Diniz, presidente da ONG Trânsito Amigo, que diz que o Brasil está na contramão do mundo em matéria de segurança no trânsito.
Em nota, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) informa que já está realizando um estudo de toda a malha rodoviária federal e que só funcionarão os radares onde o seu emprego seja justificado tecnicamente.
O ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, critica o gasto excessivo com contratos de lombadas eletrônicas:
“O controle de velocidade deve existir onde os acidentes são causados por excesso de velocidade, mas nem todo acidente é gerado por isso. Temos acidentes que acontecem por imprudência no trânsito ou por problemas estruturais na via”, afirma.
A Primeira lombada eletrônica
A empresa Perkons instalou a primeira lombada eletrônica na cidade de Curitiba, em 1992. O objetivo era ajudar a salvar vidas na Rua Francisco Derosso, em frente a uma escola, no bairro Xaxim. A lombada permanece no local.
Desde então, o equipamento teve seu uso ampliado em todo o mundo. Dados divulgados pela empresa cita um relatório do Instituto Brasileiro do Mercado de Capitais (Ibemec), dando conta de que cada lombada evita cerca de três mortes e 34 acidentes por ano.
A ideia foi bem-sucedida. De acordo com dados do Detran-PR coletados sete anos depois da instalação da primeira lombada, houve redução de 40% no número de acidentes registrados no local.
Organizações apreensivas
Fernando Diniz disse que chegou a conversar com Bolsonaro durante a campanha sobre vários assuntos. “Se eu tivesse ouvido isso dele diria para não fazer”.
Para Diniz, que teve um filho morto em acidente de carro, a fiscalização não pode cair no descrédito.
“Nós temos uma indústria de infrações, e não, uma indústria de multas. Por trás de cada lombada tem uma engenharia de tráfego. Se existe exagero, vamos toler. Se a lombada foi colocada em uma determinada localidade é sinal de que a engenharia de tráfego constatou a necessidade”, disse.
O presidente da ONG Trânsito Amigo lembra que o Brasil é signatário do Pacto de Estocolmo em que se compromete a reduzir a mortalidade de trânsito. No mundo, um milhão e duzentos e sessenta mil pessoas morrem em decorrência de acidentes de trânsito.
“O Brasil está na contramão do mundo. Pessoas entre 18 e 38 anos perdem a vida no trânsito. Se as lombadas forem cortadas e as mortes aumentarem, a responsabilidade vai cair sobre o presidente”, disse.
Diniz reforça a importância das lombadas. Segundo ele, elas reduzem a ocorrência de acidentes. “Quando o motorista vê, teme ser multado. Mas os valores das multas estão baixos”, disse, defendendo um aumento no valor da multa.
Já Rodolfo Rizzotto, do SOS Estradas, critica a declaração de Bolsonaro:
“O Presidente tem profissionais qualificados no DNIT, PRF e Denatran a quem deveria consultar antes de fazer essas declarações. Existem casos que podem justificar o desligamento de lombadas eletrônicas mas na maioria dos locais onde foram instaladas os acidentes caíram brutalmente, conforme os estudos comprovam. Isso significa que o desligamento sem critério vai provocar mortes”.
Rizzotto lembra o perigo que muitos pedestres passam nas estradas:
“No caso da Rio-Santos, a maioria das lombadas está localizada em área de travessia de pedestres. Para desligá-las vão precisar construir passarelas. Então, ele precisa assumir o compromisso de construí-las. Caso contrário terá de colocar sinais de trânsito em rodovia ou assumir os resultados decorrentes dos acidentes que vão ocorrer”.
Concessionária se manifesta
A concessionária Arteris Fluminense administra a BR-101 RJ/Norte. Em relação às lombadas, a empresa explica que são fundamentais para o controle de velocidade dos automóveis:
“Atualmente são 13 dispositivos no trecho administrado, monitorando 23 faixas de rolamento nas regiões de Campos dos Goytacazes, Rio das Ostras, Casimiro de Abreu, Itaboraí e São Gonçalo. A instalação dos equipamentos atendeu a previsão contratual e os locais foram definidos a partir de critérios técnicos definidos em conjunto com a Agência Nacional de Transportes Terrestres e Polícia Rodoviária Federal, considerando estatísticas de acidentes e a velocidade praticada na via em comparação com o limite permitido. A fiscalização a partir dos equipamentos com emissão de multas é uma atribuição da Polícia Rodoviária Federal”, diz a nota.
Lombadas na orla carioca
Fernando Diniz defende a instalação de mais lombadas. Citou a orla carioca, cujo a velocidade máxima do Leme ao recreio é de 70 quilômetros.
“Um absurdo! Muitos idosos atravessam a via”, disse. Em relação à intenção do presidente Jair Bolsonaro, o presidente da ONG Trânsito Amigo é cauteloso:
“Mas uma coisa é uma promessa de campanha e outra é a realidade. Vamos ficar atentos”, concluiu.
Fonte: Portal Eu, Rio!