O enterro do jovem Reinaldo Silva, de 18 anos, morto com um tiro na cabeça durante uma abordagem policial no bairro Rio Vermelho, em Rio Bonito, aconteceu na manhã da última sexta-feira (26). Mas a despedida marcou o início da luta para seus amigos, familiares e entes queridos. As manifestações silenciosas feitas através de cartazes durante o velório do rapaz, realizado na tarde da quinta-feira (25), deu lugar aos gritos de “mataram um inocente!” e “queremos justiça!” nas ruas do município. Na manhã deste sábado (27), um grupo se reuniu na Praça Fonseca Portela, no Centro da cidade, com um alto-falante, camisas e faixas em protesto à morte de Reinaldo.
Apesar do luto, a mãe de Naldo, como o jovem era conhecido, era quem liderava a manifestação, que chamou atenção de pedestres que passavam pela Praça Fonseca Portela. “Eu vou protestar e vou continuar protestando. A única coisa que eu quero é justiça. E enquanto a justiça não for feita, vou estar vindo para cá todo final de semana, mesmo que eu esteja sozinha”, declarou Rosilene da Silva Fernandes. “Mataram meu filho na frente de um bar injustamente. Ele estava assistindo um jogo de futebol quando o policial apontou a arma pra nuca dele. E diz que a arma falhou. Como uma arma falha? Ele levou um tiro logo ali?”, questiona.
O caso aconteceu na noite da última quarta-feira (24), em um bar no bairro Rio Vermelho. Segundo informações preliminares, Reinaldo estava em um bar acompanhado de amigos quando foi abordado por policiais que estavam no bairro para investigar uma denúncia sobre o tráfico de drogas na localidade. Uma fonte ouvida pela FOLHA afirmou que o disparo que acertou a cabeça do jovem aconteceu logo após um dos PMs, ainda não identificado, descer da viatura. A família contesta a versão.
“Falar mais o quê? É uma covardia. Foi uma covardia que fizeram com o menino”, disse uma amiga da família, Nelma de Souza. “Meu filho era muito amigo dele. Um menino bom, muito bom… E acontece uma coisa dessas, uma tragédia”, lamenta, assim como a jovem Camila Costa, melhor amiga de Naldo. “A gente fica triste de saber que nunca mais vamos ver ele. Um garoto alegre, independente de tudo sempre brincava com a gente. Vamos sentir falta”, desabafou, acrescentando que a família e os entes queridos do rapaz não receberam respostas concretas sobre o que teria acontecido. “Só disseram que foi um acidente, mas que acidente é esse? Um tiro na cabeça? Que policial é esse que não está preparado pra administrar uma arma? A gente não tá conformado que isso foi um acidente. Queremos respostas. Como um policial dispara uma arma assim, na cabeça de alguém, e mata um inocente, destrói uma família?”, questionou Camila.
Depois de prestar esclarecimentos na 119ª DP de Rio Bonito, onde o caso foi registrado, o policial envolvido na morte de Reinaldo Silva foi liberado. Ele deve responder por homicídio culposo, quando não há intenção de matar. Sua arma foi apreendida e deve passar por perícia nos próximos dias.
“Simplesmente pegaram o corpo dele, levaram e jogaram no hospital. O corpo nem estava na emergência, estava jogado numa sala ao lado”, denunciou Rosilene, mãe da vítima. “Quando eu cheguei, perguntei pro médico, que disse que ele [Reinaldo] já chegou lá morto, mas o laudo pericial fala que ele morreu no hospital. Não, ele chegou lá morto. Eles mataram meu filho lá, um inocente, e não nos deram nenhuma solução, nenhuma resposta”, desabafou.
“A gente foi criado junto desde pequeno. Éramos melhores amigos”, relembra Camila, amiga de Naldo. “Ele conversava comigo sobre o futuro, falava sobre o que queria. É muito triste ver que o sonho dele, de trabalhar e conquistar tudo o que ele queria com o ‘dinheirinho’ dele, foi interrompido”, lamentou a jovem.
Érica de Souza Augusto, ex-namorada de Reinaldo, também expressou tristeza pela vida interrompida do jovem. “Logo agora que ele estava conseguindo erguer a vida dele, destruíram o sonho dele. Isso não pode ficar assim. Queremos justiça, porque tiraram a vida de um inocente, um garoto bom, que não fazia nada a ninguém e ajudava todo mundo. O Reinaldo era muito bom”, conta.
“Eu não quero que isso aconteça com mais ninguém. Até hoje ninguém veio falar nada comigo. Até agora ninguém me deu assistência ou apareceu para me ajudar. Então, eu preciso do apoio de todos. Quem puder estar aqui e puder nos apoiar, que nos apoie, porque nós precisamos. A única coisa que eu quero é que a justiça seja feita”, finalizou Rosilene, sem conter a emoção.