Um drone da Prefeitura de Maricá, utilizado pela autarquia de Serviços e Obras de Maricá (Somar) para acompanhamento e fiscalização de projetos, flagrou na última quinta-feira (30), na Praia do Recanto, em Itaipuaçu, pelo menos dez traineiras equipadas com redes de arrasto, em prática clara de crime ambiental.
Alguns dos barcos que pescavam próximos a Pedra do Elefante puderam ser identificados pelas imagens como as embarcações “Carlos Telles” e “S. Trindade”, ambas do Rio de Janeiro, e “Luiz Paulo II”, de origem não identificada. Ao serem flagrados, os barcos fugiram do local. A pesca com redes de arrasto só é permitida em áreas que não sejam de preservação e com profundidade superior a 5 mil metros.
Segundo pescadores artesanais da região, a presença de traineiras pescando com redes de arrasto tão perto é comum em praticamente todas as praias do município e alguns relatam já terem visto até 30 traineiras em um único dia. Na última quarta-feira (29), moradores do Recanto disseram que, ao amanhecer, o número de barcos passava de 20 no local.
De acordo com o secretário de Agricultura, Pecuária e Pesca, Júlio Carolino, a Prefeitura vem sistematicamente cobrando uma maior fiscalização junto à Capitania dos Portos e denunciando a pesca predatória que afeta um importante setor da economia local.
“Estamos fazendo tudo que está ao alcance da Prefeitura. As redes de arrasto causam prejuízos incalculáveis ao meio ambiente. Nos preocupa muito a presença dessas traineiras”, afirma Júlio Carolino. “Essas embarcações não respeitam o limite mínimo para a utilização de suas redes e isso prejudica muito a nossa vida marinha, não apenas os peixes, mas tartarugas, a fauna e tudo mais que as redes encontram pela frente”, alertou.
“Já mandamos ofícios para a Marinha, para a Capitania, para o Ibama, enfim, todos os órgãos competentes já foram comunicados a respeito dessa pesca predatória”, garantiu o secretário. A Capitania dos Portos havia feito uma blitz na véspera, em Ponta Negra, mas não atuou contra esses barcos.
“As traineiras arrebatam todos os cardumes que chegam à nossa costa. Hoje o pescador artesanal de Maricá não captura quase nada”, lamenta Paulo Cardoso, de 70 anos, pescador desde 2004 e atual presidente da Associação Livre de Aquicultura e Pesca de Itaipuaçu.
“A pesca industrial tem grandes embarcações com aparelhagem moderna e redes imensas que cercam os cardumes antes mesmos deles chegarem aqui. Os que chegam, as traineiras absorvem, pois embora sejam barcos menores possuem redes imensas. Nós temos apenas uma redinha pequena para tirar nosso sustento”, acrescenta. “A Marinha deveria fiscalizar a turma do arrasto que pega a criação, o peixe ainda pequeno, tudo incluindo os filhotes que ficam no fundo”, completa.
Muitas vezes quem pesca de forma predatória observa a atuação dos pescadores artesanais ou amadores para planejar a ação em larga escala. “Se a gente pesca num dia um bocado de xerelete ali, por exemplo, no dia seguinte o lugar está coalhado de traineiras. Depois a não conseguimos pescar mais nada”, diz Joel Miler, de 61 anos, que mora em Teresópolis e pesca por hobby em Maricá há mais de 30 anos.
É importante destacar que pescadores que realizam pesca predatória estão sujeitos a penalidades previstas na Lei de Crimes Ambientais. Em caso de flagrante, a embarcação e o pescado são apreendidos, o responsável é multado e responde por crime ambiental podendo ser punido com pena de um a três anos de reclusão.