Quinhentos reais é tudo o que Janete Evaristo, de 57 anos, tem por mês para (sobre)viver e cuidar dos quatro netos. Todos moram no Morro dos Macacos, favela em Vila Isabel, na Zona Norte do Rio.
Na edição do RJ1 de terça-feira (21), Dona Janete, como é conhecida, emocionou a repórter Lívia Torres e espectadores ao relatar a luta que tem travado contra a fome.
“Domingo (19) a gente não tinha nada para comer. Eu estou desempregada, está muito difícil. Eu estou catando latinha, mas não dá”, desabafou Janete enquanto esperava por uma refeição na fila do programa da prefeitura Prato Feito Carioca, que distribui alimentos a quem tem fome.
A saída que Janete encontrou foi vender latinhas para, só à noite, conseguir colocar comida na mesa.
“Eu vendi umas latinhas e consegui 15 reais. E fui pedir a uma amiga pra ver se ela tinha algumas coisas pra me emprestar, que depois eu dava a ela… Foi aí que eu consegui, seis horas da noite, fazer um arroz e feijão pra eles comer (sic)”, disse.
Acidente com álcool
A filha de Janete, que sofria com uma doença que ataca a imunidade, morreu há dois anos. E há seis meses, ela ficou viúva. Sem o marido e a filha, a batalha para sustentar os netos beira o impossível.
As dificuldades são muitas, começando pela renda que foi praticamente toda embora com a pandemia e corrosão da economia.
Janete chegou a cuidar de 23 crianças na favela enquanto as mães saíam para trabalhar. Atualmente, só está “olhando” uma criança, o que rende a ela R$ 100 por mês.
Os outros R$ 400 que recebe são, nas palavras dela, do “Bolsa Brasil”. Janete uniu os nomes do extinto “Bolsa Família” com o “Auxílio Brasil”, programa do governo federal que começou pagar R$ 400 a famílias em extrema pobreza no fim de 2021.
O neto de 11 anos usou uma latinha de cerveja aberta para colocar o álcool, que virou na criança quando ela ateou fogo ao líquido.
“Quando colocou [fogo], virou em cima dele e queimou ele todo. A perna dele ficou com uma marca feia, porque foi muito forte. Barriga, mãos… Tudo porque eu não tinha dinheiro pra comprar o gás. Só o álcool. E eu fazia comida com aquilo”, se culpa a mulher.
O neto ficou mais de um mês internado. Dia sim, dia não, segundo Janete, ele precisava fazer curativos. Foi mais um gasto que a mulher disse não ter como arcar. Fora a passagem para ir ao hospital. Ela contou com a ajuda de um taxista que levava o menino na unidade de saúde.
Crédito: Portal g1