No Rio, reserva de cercadinho na praia deve acontecer neste domingo

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Vai caber à Praia de Copacabana, na Zona Sul do Rio, lançar uma moda carioca que, mesmo antes de sair do papel, já vem tendo grande repercussão. A Prefeitura do Rio a escolheu para lançar o projeto de demarcação de espaços nas areias, criando os chamados cercadinhos, com o objetivo de garantir um mínimo de distanciamento à beira-mar em tempos de pandemia. Mas, além do desafio de controlar o acesso à orla, algo nunca visto na história da cidade, a gestão municipal, com base no que divulgou nesta terça-feira, poderá enfrentar uma outra polêmica. O prefeito Marcelo Crivella anunciou que a iniciativa será custeada por empresas em troca de publicidade, já que banhistas nada pagarão. A questão é que a Lei Orgânica proíbe qualquer tipo de propaganda nas praias, até mesmo em guarda-sóis.

Em nota divulgada na noite desta terça-feira, a prefeitura informou que não haverá publicidade em qualquer local da orla, mas não deu maiores detalhes nem explicou como planeja atrair empresas para o projeto. Por outro lado, antecipou como será feita a ocupação dos cercadinhos: 30% deles poderão ser reservados por duas horas através de um aplicativo, e os 70% restantes ficarão à disposição de quem chegar primeiro.

A startup Tooda, criada ano passado para conectar, via aplicativo, barraqueiros que queriam fazer delivery para banhistas nas areias, tomou a iniciativa e elaborou um projeto de demarcação das praias, com apoio da Associação de Barraqueiros de Praia do Estado do Rio de Janeiro. A proposta foi encaminhada à prefeitura no dia 15 de julho. De acordo com direção da empresa, no entanto, não houve nenhum retorno por parte do município.

“Quem chegar primeiro vai ocupar os lugares. Quem não puder, tiver outras razões para isso, pode marcar via aplicativo. A reserva vai ser para essas pessoas, assim como para idosos e deficientes, que não podem ficar na fila”, disse o prefeito.

Apesar propor o uso do aplicativo para ordenar a orla, a prefeitura não esclareceu quem vai fiscalizar o acesso e quando ele passará a ser adotado. A expectativa é que um teste com os cercadinhos em Copacabana seja feito já no próximo domingo.

Ainda não há maiores detalhes sobre o projeto. O EXTRA buscou a prefeitura para saber mais informações, mas não obteve resposta. Até agora, o município só disse que os barraqueiros serão convocados a ajudar e que os próprios banhistas vão cuidar de seus cercadinhos, recebendo fitas para ajudar a demarcá-los. Mas, sem um esquema de fiscalização da Guarda Municipal e da Polícia Militar, a ideia é vista com reservas por cariocas e turistas.

A professora Águida Souza, que ontem estava na Praia de Copacabana, desconfia da eficácia do projeto:

“Não acho que vai dar certo. As praias vão continuar lotadas. Falta bom senso das pessoas que não entendem a importância do distanciamento”

Moradores do Distrito Federal, Cleiton Oliveira e Thaís Carolina aproveitaram uns dias de folga para visitar o Rio, mas ficaram chocados com a falta de cuidado sanitário para evitar a disseminação do coronavírus.

“No Rio está pior do que em Brasília. Não vimos um policial usando máscara e, em vários lugares, não mediram nossa temperatura”, falou Thaís.

A advogada Aline Ramalho vê risco de os barraqueiros, que teriam a função de ajudar no controle dos banhistas, virarem “flanelinhas”:

“Não vai dar certo. Vai virar comércio com barraqueiro guardando vaga e cobrando. E se eu reservar a vaga num horário mais tarde, quem garante que ela ficará livre antes? E se alguém ocupar e não quiser desocupar? E quando a maré subir, quem estiver mais perto da água vai perder o quadrado?”

Europa e Estados Unidos adotaram as baias na areia

É verão no Hemisfério Norte, e, assim como o Rio, cidades da Europa e da América do Norte também precisaram definir critérios para a permanência das pessoas em suas praias durante a pandemia. As normas variam muito entre regiões, alternando-se dentro de um mesmo país, e vão dos cercadinhos na areia ao simples bom senso. Mas a maioria dos lugares que impôs regras já as revogou.

Um exemplo é o da cidade de La Grande-Motte, no Sul da França. Em maio, suas praias foram reabertas salpicadas por baias com cordas, com espaços para duas, quatro ou seis pessoas. Os frequentadores precisavam fazer reservas para períodos de três horas e meia, havendo dois turnos disponíveis: das 9h às 12h30 e das 14h às 17h30. Com o controle da pandemia na região, todas as restrições já foram suspensas.

Outros lugares do país adotaram abordagens mais discretas. Em Narbonne, a medida tomada foi a difusão de mensagens de prevenção três vezes por dia.

Na maior parte da Riviera da Itália, país europeu que sofreu muito com o coronavírus em março, não há mais restrições nem mesmo o uso obrigatório de máscaras após o controle do vírus no país. Uma exceção é Levanto, onde as praias permanecem com estacas de madeira e há fiscais para ordenar o cumprimento das regras.

Do outro lado do hemisfério, as praias de Los Angeles foram reabertas, e os visitantes podem levar seus guarda-sóis e sentarem onde quiserem. Devem, contudo, usar máscaras quando estiverem fora da água. Também permanecem proibidos esportes e grupos grandes.

No México, a ordem foi dada pelo governo federal. Os grupos devem manter distância de quatro metros entre si. O uso de máscaras não é obrigatório na areia, mas, sim, em lugares ao redor, como banheiros.

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