O processo de tratamento de um câncer não é fácil para ninguém, mas pode se tornar ainda mais complicado quando envolve vários outros fatores, como o alto custo dos remédios e procedimentos ou a perda da mama, dos cabelos e, consequentemente, da autoestima das pacientes. Foi pensando nisso, que a coordenadora do Espaço Rosa em São Gonçalo, Patrícia Silva, de 39 anos, começou, ainda em 2017, um projeto cujo propósito é fornecer suporte às mulheres acometidas pela doença. O programa, que hoje atende a mais de 800 mulheres, atua no Centro Oncológico do município, no bairro Zé Garoto, e conta agora com um novo serviço, a aplicação de implantes capilares gratuitos à mulheres na luta contra o câncer.
A iniciativa surgiu de uma necessidade das próprias pacientes e tem como objetivo auxiliar essas mulheres, que muitas vezes acabam sendo abandonadas por seus parceiros durante o tratamento, a recobrarem sua esperança e amor-próprio. A coordenadora do projeto, explica:
“A paciente quando inicia o processo e perde o cabelo, a primeira necessidade dela é usar a peruca. Quando o cabelo começa a crescer, ela já não quer mais. Ela quer ver seu cabelo grande, mas o processo de crescimento às vezes demora. Então a gente passou a atender essa necessidade das pacientes também, através da parceria com a Lene França. A gente recebe o cabelo aqui na unidade, tece ele, passa para a Lene e ela faz todo o processo de aplicação gratuitamente”.
Para a cabeleireira Lene França, o projeto que em maio deste ano passou a oferecer os implantes às pacientes do Espaço Rosa, já é um desejo antigo. Lene, que há 4 anos descobriu 6 nódulos no pulmão, explica que após passar por todo o processo, desde a descoberta da doença até o recebimento de sua alta provisória, decidiu que queria fazer algo para ajudar quem estivesse passando pelo o que ela passou. Foi assim que a cabeleireira, que há 24 anos trabalha com a profissão, teve a ideia de oferecer seus serviços ao Espaço Rosa.
“Eu comecei com um projeto de arrecadação de cabelo, mas eu precisava arrumar algum lugar para onde enviar esses cabelos e foi assim que eu conheci a Patrícia e o projeto dela. No primeiro momento a gente já se identificou muito e com isso começamos a trabalhar juntas. Consequentemente, algumas pacientes já estavam deixando a peruca, o cabelinho já tinha começado a crescer um pouco e, por já trabalhar com o alongamento há 16 anos, eu decidi oferecer esse serviço a ela.”
Por se tratar de uma técnica de Invisible Hair, na qual a presença do implante se torna quase imperceptível ao olhar alheio, conferindo maior naturalidade ao trabalho e segurança às pacientes, a aplicação é altamente trabalhosa e custosa, cerca de R$ 1.500,00 por pessoa. Contudo, apesar do alto custo de manufatura e dedicação que exige, o trabalho é motivo de grande júbilo para Lene.
“Conforme você vai perdendo o cabelo, você começa a não se reconhecer mais, vai perdendo aos poucos a autoestima. Então, saber que eu estou ajudando a restaurar a autoestima dentro dessas mulheres pra mim não tem preço, é muito gratificante!”
Em função do alto custo e tempo exigidos, o Espaço Rosa oferece o tratamento a duas mulheres por mês. Mas, a coordenadora do projeto afirmou que pretende ampliar o atendimento e levar o serviço ao maior número de mulheres possíveis, através da busca por mais cabeleireiros dispostos a ajudar a causa. Além disso, as responsáveis alertaram sobre a importância das doações de cabelo para a continuidade do programa. As doações são recolhidas no Centro Oncológico da Rua Dr. Francisco Portela, 2641, onde também oferece cortes gratuitos toda segunda-feira de 10h às 16h, aos interessados em doar.
O programa também promove outras iniciativas como o fornecimento de kits pós-cirúrgicos, a arrecadação de roupas, alimentos e medicamentos para as pacientes, o acompanhamento em domicílio e outras parcerias, como a feita com tatuador Johny Tattoo, para o redesenho das aréolas dos seios e cobrimento de cicatrizes decorrentes do tratamento.
“A gente consegue, através deste projeto, levar esperança, solidariedade, dizer a essa mulher que ela não está sozinha, e que é possível vencer. O câncer não é um ponto final, é uma vírgula. Elas vão dar continuidade a vida delas e podem ser lindas e continuar se sentindo mulheres, porque mesmo perdendo o cabelo ou os seios, elas não perderam sua essência. O objetivo é fazer elas perceberem isso”, concluiu Patrícia.
Fonte: osaogoncalo