“Tem alguém aqui?”: essa tem sido a pergunta feita por milhares de brasileiros recém-chegados ao Bluesky que nos primeiros dias após o bloqueio do X registrou mais de 2 milhões de novos usuários. O aumento da migração tornou o português a língua mais falada na plataforma, disse a empresa à AFP.
Esse é o reflexo de mais um capítulo de uma série de embates entre o bilionário Elon Musk, dono do X, e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que ordenou o bloqueio da rede social em 30 de agosto, após Musk não cumprir a determinação de apresentar um representante legal no Brasil.
O bloqueio do X no Brasil foi acompanhado de uma intensa migração digital para outras plataformas, como também é o caso do Threads. Na Google Play Store, os aplicativos, que possibilitam o envio de mensagens curtas associadas a imagens, já aparecem nas primeiras posições entre os mais baixados no país.
‘Threads ou Bluesky’
“Threads ou Bluesky” foram termos de busca que registraram um aumento repentino no Brasil na ferramenta Google Trends desde a determinação do bloqueio.
Enquanto o Bluesky, que tem mais de 7,6 milhões de usuários, foi desenvolvido por Jack Dorsey, criador do antigo Twitter, o Threads é um aplicativo da Meta, empresa que também detém Facebook e Instagram.
O professor universitário Raul Nunes, usuário do antigo Twitter desde 2007, é um dos que migrou para o Bluesky. Segundo ele, a experiência tem sido prazerosa, mas a rede ainda carece de recursos: “O Bluesky tem essa vantagem de ter os mesmos personagens, a mesma linguagem e as mesmas referências do Twitter/X. A parte ruim é que ainda não tem trending topics e nem vídeo”.
Pesquisas pelo nome “Threads” — atualmente com 190 milhões de usuários globalmente — quadruplicaram desde 30 de agosto, ainda segundo o Google Trends, e a Meta aproveita o momento para promover a plataforma aos seus mais de 2 bilhões de usuários no Instagram. A empresa, contudo, não retornou os questionamentos da AFP sobre o aumento registrado de novos usuários.
“Estou tendo a impressão de [o Threads] ser uma comunidade mais acolhedora e bem menos agressiva. Por outro lado, sinto falta da sinceridade e autenticidade que o antigo Twitter tinha”, afirmou o estudante Leon Leal, que utilizava o X desde 2014.
Cenário incerto
Embora a busca por plataformas alternativas tenha crescido, não se sabe se a popularidade dessas redes se manterá.
Raquel Recuero, coordenadora do Laboratório de Pesquisa em Mídia, Discurso e Análise de Redes Sociais da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), afirma ser difícil fazer uma projeção de qual plataforma será mais abraçada pelos antigos usuários do X: “Provavelmente vão se espalhar por várias plataformas diferentes. Esse tipo de ação coordenada é difícil”.
Para Viktor Chagas, professor de Estudos Culturais e Mídia do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense (UFF), os brasileiros devem buscar plataformas similares ao X para se manter em contato com outros países e participar do debate público do Brasil.
Mas, de acordo com Chagas, o uso de alternativas com uma base de usuários menor “pode representar um certo isolamento do Brasil em relação ao restante do mundo, o que torna a acomodação dos usuários no Bluesky frágil”.
Essa preocupação já é sentida por Leal, usuário também recém-chegado ao Bluesky, que revelou à AFP estar tendo dificuldades para se adaptar à nova rede por não conseguir encontrar os mesmos perfis que seguia anteriormente no X.
Com relação ao Threads, Chagas analisa: “Há uma base de usuários internacionais maior e uma integração nativa com outras ferramentas, como o Instagram. Mas há também uma desconfiança maior, por ser uma nova plataforma da Meta”.
Polarização nas plataformas
Esse movimento migratório tem sido acompanhado por políticos, tanto à esquerda como à direita, embora em proporções diferentes.
Após a decisão de Moraes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que apoiou o bloqueio do X e não utilizava o Threads desde maio, passou a fazer publicações diárias nessa rede, assim como em sua conta oficial no Bluesky.
Em contrapartida, até 3 de setembro, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), apoiado abertamente por Elon Musk, não tinha conta oficial no Bluesky, e, no Threads, promovia seu canal no Telegram.
O deputado federal Nikolas Ferreira (PL), um dos mais seguidos nas redes sociais e conhecido por ser um dos principais agitadores da direita, por exemplo, continua a utilizar o X. Em uma publicação de 2 de setembro, o parlamentar anunciou: “Não fiz conta nenhuma na Bluesky. X é meu país”.
Fonte: odia.ig.com
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