“Amor que não morre, muda de atmosfera”. Essa é a frase que representa a dor da família do pequeno Raynner Souza Figueiredo, que faleceu em 2018, aos 7 anos, vítima de uma anemia falciforme, que é uma doença hereditária que prejudica o sangue. Por causa da anemia, o menino teve pneumonia e outras complicações, indo a óbito. Ele foi enterrado, então, no Cemitério Municipal São Miguel, em São Gonçalo.
A história por si só já é triste, drástica e representa um sofrimento enorme para qualquer família. Mas, nem o luto é um direito do qual os pais da jovem criança podem sentir hoje. Isso porque, no último ano, os restos mortais de Raynner foram exumados do cemitério sem nenhum aviso prévio. Hoje, os pais do menino não sabem onde estão os ossos de seu filho e não tem nem a opção de encaminhar esses restos para um outro cemitério, para visitar e continuar mantendo seu luto em paz.
O pai considerado de Raynner, Roullian Antunes Santana de Freitas, 38 anos, foi quem soube, primeiramente, que os ossos de seu filho não estavam mais na sepultura 155 do Cemitério São Miguel. “A gente sempre vinha aqui com constância. Pintamos a sepultura do meu filho, trazíamos flores, tem até a plaquinha dele até hoje. Mas, descobri, em fevereiro deste ano, que os restos mortais do meu filho não estava mais aqui. Foram os responsáveis pelo cemitério que me informaram isso e eles não sabem onde estão esses ossos do Raynner”, contou ele.
Segundo a família, essa retirada dos ossos do menino ocorreu ainda em meados de 2020, quando as visitas aos cemitérios estavam proibidas. Mas, em momento nenhum, os parentes do menino foram informados da retirada dos restos mortais da criança. Inclusive, na ocasião, eles estavam realizando um procedimento para que os restos mortais do menino fosse encaminhado para o Cemitério Maruí, no Barreto. “Já estávamos dando entrada nos documentos para encaminhar os ossos do meu filho até o cemitério onde está a minha avó. Nossa ideia não era ficar sem os restos mortais do nosso filho, pelo contrário, queríamos continuar tendo ele para podermos visitar como sempre fazíamos, mas ele foi retirado do local sem nossa ciência. Segundo documentos que temos, os restos mortais do meu filho deveriam ficar aqui no São Miguel até o dia 13/04/2021, mas foi retirado em 2020, ou seja, nem respeitaram o tempo para que fosse exumado”, contou Roullian, que é ajudante de cozinha.
Com esse desespero, a mãe de Raynner sente que a dor e o descaso com seu filho nunca terão fim. “Sempre que falamos com a prefeitura eles nos falam que estão procurando, mas até agora não sabem. Quando nosso filho ficou doente, fizemos de tudo para que ele tivesse o melhor atendimento, até no serviço particular. Infelizmente, ele veio a óbito e eu passei por esse pesadelo que é enterrar um filho. Mas, agora, nem posso visitar os restos mortais do meu filho, pois já tem outra criança, inclusive, enterrada na sepultura dele. Ninguém nos avisou, eu fiquei sabendo por outra pessoa e não acho justo o que fizeram com os restos mortais do meu filho. Eu nem sei aonde ele está. Os restos dele não estavam largados, sempre que podíamos alguém da família vinha aqui visitar e cuidar da sepultura. Não é justo! Queremos os ossos do nosso filho e queremos ter o direito de decidir o que fazer com ele”, relatou a autônoma Jéssica Karen Alves Souza, 31 anos, mãe de Raynner.
O pequeno Raynner, que ainda tinha mais dois irmãos, sofreu muito em sua vida por causa de sua doença, no entanto, ele sempre teve uma família que o apoiava e que fazia de tudo para vê-lo sorrir, mesmo quando a situação se complicava. Até hoje, a memória da criança segue viva para seus pais e não poder saber onde estão os restos de seu filho acaba aumentando o desespero.
“Eu já não estava com o psicológico preparado para a mudança de cemitério, imagina para o meu filho sumir assim. Quando viemos aqui, a placa, inclusive, estava no chão, foi o meu marido quem pediu para colocar no lugar e não nos informaram dessa mudança de corpos nem nesse momento. Eu não sei nem te explicar o que se passa na minha cabeça. Eu sei que tenho que acordar todos os dias com a sombra de eu ter enterrado o meu filho. É uma dor muito grande! E, agora, é uma crueldade eu não saber aonde está o meu filho. Fui informada que não sou a única que está passando por isso e de 100 famílias, apenas 40 tiveram o corpo de seus parentes devolvidos. Já me falaram até de um local que guardam os ossos. Quando eu vim aqui, já vi até ossos no chão, mas jamais achei que passaríamos por esse descaso”, comentou Jéssica Karen com lágrimas nos olhos.
Fonte: osaogoncalo