Perícia não achou sêmen em gaze usada por anestesista após estupro; polícia vê falha na ‘cadeia de custódia’

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No inquérito concluído e remetido à Justiça nesta terça-feira, a Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de São João de Meriti compilou uma série de informações sobre a investigação que levou ao indiciamento por estupro de vulnerável do anestesista Giovanni Quintella Bezerra, de 31 anos, filmado pela equipe de enfermagem enquanto abusava de uma parturiente no Hospital da Mulher Heloneida Studart, situado na mesma cidade da Baixada Fluminense. Entre o conteúdo anexado aos autos, está a análise do material guardado pelos funcionários da unidade de saúde após o episódio. De acordo com os depoimentos, Giovanni limpou o rosto da paciente e o próprio pênis com uma gaze, que foi jogada no lixo e, depois, recolhida pelos enfermeiros responsáveis por articular o flagrante.

O laudo acerca do item, contudo, não encontrou traços de sêmen, o que, para os investigadores, explica-se pela falta da chamada “cadeia de custódia” — termo que se refere a uma série de procedimentos técnicos que devem ser empregados ao recolher vestígios nas vítimas ou em cenas de crime. Como o material passou por diversos recipientes até ser entregue à polícia, acaba não sendo possível garantir a integridade da coleta, o que pode comprometer a verificação final.

O inquérito despachado pela Deam também traz a análise videográfica das imagens que registraram o flagrante, que têm 1h36m20s de duração e foram entregues na íntegra à polícia. O laudo referente a esse conteúdo indica que Giovanni levou apenas 50 segundos após a saída da sala do pediatra e do marido da paciente para dar início ao estupro. Entre o momento em que ele põe o pênis para fora até a ejaculação, transcorrem-se exatos 9 minutos e 5 segundos.

Ao todo, constam nos autos 19 termos de declaração, relativos a depoimentos da vítima e do marido dela, do corpo técnico e médico do hospital e de policiais, além do próprio autor. Foram anexados ainda laudos dos medicamentos usados para sedar a paciente nos momentos anteriores ao abuso. As ampolas de cetamina e propofol, porém, estavam quebradas pela própria utilização, o que pode ocasionar contaminação entre os frascos. Segundo a investigação, Giovanni fez sete aplicações de provável sedação durante toda a ação criminosa.

Embora a investigação sobre o estupro filmado já tenha sido concluída, apurações sobre outros cinco casos envolvendo o médico permanecem em andamento na especializada. Antes mesmo da conclusão deste primeiro inquérito, o Ministério Público já havia denunciado Giovanni, que tornou-se réu em seguida.

No dia da prisão, o médico participou de três cirurgias. Já na primeira, as enfermeiras estranharam o comportamento de Giovanni, que, com o capote, formava “uma cabana que impedia que qualquer outra pessoa pudesse visualizar a paciente do pescoço para cima”, conforme atestam depoimentos prestados na Deam. Segundo esses relatos, os anestesistas se posicionam, usualmente, do lado oposto, de forma que é possível ao restante da equipe ver o rosto da paciente.

Esses profissionais também têm o hábito de conversar com a paciente, fazer a aplicação da anestesia e então se sentar para acompanhar os sinais vitais da mulher através dos monitores eletrônicos. Giovanni, no entanto, se manteve de pé, bem próximo à cabeça da vítima.

Na segunda cesariana realizada naquele domingo, ainda de acordo com as declarações dadas à polícia, o médico usou o capote nele próprio, alargando a silhueta e, mais uma vez, se posicionando de forma que impedisse aos outros presentes enxergarem a gestante. “Giovanni, ainda posicionado na direção do pescoço e da cabeça da paciente, iniciou, com o braço esquerdo curvado, movimentos lentos para frente e para trás; que pelo movimento e pela curvatura do braço, pareceu que estava segurando a cabeça da paciente em direção à sua região pélvica”, diz um dos termos de declaração.

Cada vez mais desconfiada, a equipe de enfermagem viabilizou a mudança do parto seguinte para outra das três salas de cirurgia disponíveis no hospital, na qual seria possível filmar Giovanni sem que ele percebesse. No novo espaço, escolhido — em cima da hora — pelos profissionais, um celular foi escondido dentro de um armário de vidro escuro, com ângulo de visão direcionado ao ponto onde estaria o anestesista. O móvel, disponível apenas na sala 3, é usado para guardar equipamento de cirurgia por vídeo.

Na gravação, que foi usada como elemento para o flagrante, é possível ver que Giovanni está a cerca de um metro de ao menos dois colegas de equipe, separados apenas por um lençol. Também é possível ver uma terceira pessoa ao fundo. Em geral, procedimentos deste tipo são acompanhados por dois cirurgiões, um anestesista, um técnico de enfermagem e um pediatra.

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