Os moradores de Niterói não precisarão mais subir a serra ou mesmo andar por quilômetros para comprar ou saborear produtos da agricultura familiar. A cidade, que conta com uma grande área urbana, também tem seus recantos, os chamados cinturões verdes, que começam a se consolidar como espaços dedicados à agroecologia. Com o apoio da Prefeitura de Niterói, por meio da Secretaria de Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Sustentabilidade, e a partir da criação do Programa Municipal de Agroecologia Urbana, os produtores familiares de Niterói terão a oportunidade de mostrar o resultado do seu trabalho na primeira feira do Circuito de Feiras Agroecológicas de Niterói Ricardo Nery, que acontecerá no próximo sábado (5), no Parque Rural do Engenho do Mato, das 9h às 18h.
Ao todo, 35 expositores, agricultores e produtores familiares da cidade de Niterói, estarão no local. O circuito de feiras tem o objetivo de aproximar da população niteroiense o resultado da produção alimentar agroecológica praticada em vários pontos da cidade, mas ainda pouco conhecida e difundida.
O circuito recebeu o nome de Ricardo Nery em homenagem ao presidente do Instituto Agroecológico de Niterói (IAN), que faleceu há poucos dias. Durante anos, Nery foi um dos grandes entusiastas e defensor do setor agroecológico de Niterói e era parceiro da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Sustentabilidade na implementação das políticas públicas municipais da agroecologia.
O evento de inauguração do circuito acontecerá em clima totalmente rural. Todos os que forem ao Parque Rural poderão participar das inúmeras atrações culturais, shows de música ao vivo, oficinas de alimentação viva, de gastronomia e de compostagem, contação de histórias e brinquedos infantis, campanha de adoção de cães e gatos e provar de muitas iguarias.
Os produtores levarão o que há de melhor da produção, como cogumelos variados, frutas, legumes, brotos, pimentas, temperos e verduras da estação, sucos naturais, sorvete artesanal, kombuchas, queijos e leites da fazendinha urbana. Também vai ter manteiga ghee, mel, alimentação viva e vegana direto da floresta, leite vegetal, ovos caipira, pães artesanais e de fermentação natural.
Quem visitar a Feira terá acesso à um circuito gastronômico para todos os gostos e paladares, com bolos, geleias, doces de potes, compotas de frutas, caponatas e conservas de fermentados diversos, cafés arábicos de torrefação local, cervejas premiadas, chopp artesanal e drinks com frutas da estação.
Além disso, serão servidos pratos com frutos do mar vindos de famílias de pescadores tradicionais da cidade, como risoto e bobós de camarão e de shitake, charcutaria e linguiça artesanais. E para mostrar que a produção agroecológica pode ser adaptada a diversos tipos de culinária, os expositores também apresentarão um pouco da cozinha baiana.
Também haverá exposição de plantas medicinais, mudas de árvores nativas, artesanato de reaproveitamento de madeira, biofertilizantes e adubos orgânicos.
“Trata-se da oportunidade de o município oferecer espaços democráticos onde a população poderá conhecer de perto os protagonistas que desenvolvem sistemas alimentares saudáveis e sustentáveis em Niterói, de modo a se criarem pontos de comercialização de alimentos e produtos desenvolvidos de forma justa, integrada e equilibrada aos ambientes naturais e urbanos da cidade, fomentando inclusive os setores econômico, cultural e turístico do município”, afirma Isabella Fattori, Coordenadora de Agroecologia Urbana da Secretaria de Meio Ambiente de Niterói.
Ela explica que um dos compromissos da Secretaria de Meio Ambiente, através da Coordenação de Agroecologia Urbana, é a implantação do Circuito em diferentes equipamentos públicos do município, para que o produtor possa expor e vender sem custos, se inserindo na agenda cultural da cidade.
Niterói conta atualmente com 22 produtores familiares inscritos no Cadastro da Agricultura Familiar (CAF) do Ministério da Agricultura, colocando o município no ranking das cidades com maior número de produtores familiares urbanos com CAFs ativas no Estado do Rio de Janeiro.
A partir das ações de implementação do Programa Municipal de Agroecologia Urbana, a expectativa é que esse número seja ampliado, de forma a viabilizar aos produtores o acesso às diversas políticas públicas direcionadas ao desenvolvimento e fortalecimento da agricultura familiar, que são instrumentos de redistribuição de renda, como o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) e o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos), cujos recursos, através dos produtores familiares habilitados, poderão ser investidos na economia do município, impactando afirmativamente outros segmentos na cidade.
Respaldados pela lei municipal, os produtores familiares poderão ampliar a comercialização de seus produtos, antes restritos pela falta de certificação, a partir do Certificado de Serviço de Inspeção Municipal (SIM), emitido pela Vigilância Sanitária através de um selo para atestar a qualidade de alimentos de origem animal e beneficiados, produzidos por pequenos produtores agroecológicos de Niterói.
A criação do SIM é uma das iniciativas do programa de incentivo à agroecologia, que está sendo implantado pela Prefeitura de Niterói. Através de pesquisas e mapeamentos de como vivem esses produtores na cidade, realizados por técnicos da Secretaria de Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Sustentabilidade (SMARHS), o município estuda a criação e implantação de políticas públicas de apoio aos produtores para incentivar e fomentar a produção agrária urbana na cidade e a venda em maior escala.
Corredores produtivos – Os produtores familiares agroecológicos desenvolvem suas atividades agrárias em sítios ou chácaras, concentrados em sua maior parte nos corredores produtivos de localidades como: Muriqui, Pendotiba, Sapê, Rio do Ouro, Chibante, Vila Romana, Alto do Muriqui, Jacaré, Várzea das Moças, Itaipu, Engenho do Mato e Tibau.
“A agroecologia tem um papel muito importante dentro deste cinturão produtivo. Muitos estão em áreas de amortecimento e reduzem o impacto ambiental negativo, prestando serviços ambientais dentro do tripé da sustentabilidade. Essas pessoas recuperam e mantêm essas áreas. Não é só no ganho de emprego e renda, elas estão próximas às áreas de proteção, mantendo as áreas verdes cada vez mais seguras”, afirma Rafael Robertson, secretário de Meio Ambiente.
Produtores vibram com novas possibilidades de serem conhecidos pelo público
Lívio Marques Pinto é geofísico e, após percorrer o mundo trabalhando, se aposentou e hoje se dedica à criação de tilápias, ovos caipiras, café, além de produzir cerveja artesanal em sua chácara no bairro de Várzea das Moças. São três tanques que chegam a produzir cerca de 3 mil tilápias a cada seis meses. Os tanques ficam no alto da propriedade e, na parte de baixo, fica a fábrica da cerveja. Tudo isso em meio a uma pequena agrofloresta.
“Fazemos tudo de forma sustentável, desde o reuso da água para as tilápias, utilização de gigogas, escovas biológicas e com todo o cuidado ambiental. É muito importante o produtor ter esse apoio. Faz a economia girar”, disse.
Do outro lado do cinturão produtivo, no Muriqui, está Wilson de Freitas Dias. Ele e a esposa – a advogada Eloina Pimentel – trabalham no chamado projeto de permacultura, incentivando agroflorestas nas propriedades e hortas verticais.
O Projeto Ecovila Muriquiaçu, que também produz cogumelos, pães de fermentação natural, ovos caipiras, legumes e verduras da época, como taioba e ora-pro-nobis, também vai participar do Circuito. “Esse apoio é muito importante. Agora vamos começar a ser vistos”, disse Wilson, que mora há 7 anos no local.
Matheus Coimbra Osório trabalha há 10 anos com agricultura urbana em agroflorestas, com foco na produção frutífera. Ele dá as dicas para a agrofloresta.
“Utilizamos o sistema para dinamizar processos por andares. É uma cadeia. A agrofloresta, no nosso caso, prioriza a produção de cacau, cupuaçu e café, com até cinco vezes mais produtividade do que a monocultura com esse sistema. Aproveitamos o espaço da floresta com andares. Com isso, no alto, temos frutas nativas que trazem de volta a micro fauna para dentro da agrofloresta, como passarinhos, macacos, roedores. Os animais ajudam não só na adubação, mas também em toda a dinâmica florestal, porque a agrofloresta é viva”, orienta.
Sávio Evaldo Costa de Azevedo se dedica à charcutaria e em casa produz, de forma artesanal, presunto, tender, copa-lombo, lombo, salame através de seu empreendimento familiar.
“Estamos na expectativa de receber nosso selo para expandir mais mercadorias, agregar mais valor e poder vender pro mercado formal, tirar do serviço só para consumidor direto e poder inserir a produção em supermercados”, disse Sávio que desenvolveu uma salsicha só de lombo suíno sem adição de gordura, 30% de legumes e verduras e não tem componentes químicos. Ele afirma que o produto é tão bom que a filha de 15 anos consome no café da manhã.
Crédito: Ascom Niterói
Fotos: Douglas Macedo