Pelo menos cinco das 12 escolas de samba do Grupo Especial do carnaval carioca afirmam ser inviável realizar os desfiles ano que vem sem vacina para a Covid-19, e em qualquer data.
Beija-Flor, Vila Isabel, Imperatriz, Grande Rio e São Clemente prometeram levar a questão para a reunião programada para esta terça-feira (14), na sede da Liga Independente (Liesa).
O grupo sustenta não haver segurança para colocar as escolas na Avenida sem que componentes e público estejam imunizados.
Das demais sete escolas:
- A Unidos da Tijuca pontuou ser prematuro decidir agora sobre um adiamento;
- A Portela admitiu indefinição, mas afirmou ouvir as autoridades sanitárias;
- Três escolas — Viradouro, Mocidade e Tuiuti — afirmaram que só vão se manifestar na plenária;
- Salgueiro e Mangueira não comentaram até a última atualização desta reportagem — mas o carnavalesco Leandro Vieira, da Verde e Rosa, disse ao G1 que “carnaval bom é carnaval com segurança”.
Vendas em suspenso
A Prefeitura do Rio disse que ainda não é possível falar em definição sobre o carnaval do ano que vem por causa da pandemia da Covid-19.
Segundo a Riotur, a Liesa solicitou que a prefeitura não publicasse informações sobre a venda de ingressos até que houvesse uma definição, que pode vir nesta terça-feira.
“A decisão sobre o assunto vai ser tomada em conjunto e sempre baseada em estudos científicos que garantam a segurança de todos”, disse a nota.
A seguir, o posicionamento das escolas.
Beija-Flor: ‘Precisa ter vacina’
Diretor de carnaval da Beija-Flor, Dudu Azevedo também coloca a comunidade como prioridade.
“A Beija-Flor não é contra a realização do carnaval em 2021. Mas precisa ter uma vacina. Que tenha carnaval, mas com vacina”, defendeu.
Vila: ‘Inviável’
“Hoje, as decisões judiciais têm muita força. Há o risco de fazermos investimentos altos e, lá na frente, o contágio voltar a subir, e a Justiça determinar a suspensão”, explicou.
A Vila levaria para a Avenida um enredo sobre Martinho da Vila.
Imperatriz: ‘Impossível’
Diretor de carnaval da Imperatriz, Marco Aurélio Fernandes destacou que cada escola reúne mais de três mil componentes e que aglomeração faz parte da essência do desfile.
“A Imperatriz quer o carnaval. Mas com vacina. Sem a vacina fica impossível; colocaríamos os profissionais e componentes em risco”, disse.
Fernandes explicou que na reunião desta terça as quatro escolas buscarão alternativas.
“Se tiver vacina, não vejo por que não buscar alternativas, planos A, B e C. Precisamos botar esses planos no papel já. Para uma escola de samba que fica um ano sem carnaval, fica difícil manter as despesas fixas”, destacou.
Grande Rio: ‘Forma segura’
A Grande Rio soltou nota em que faz coro à prevenção.
“Estamos dispostos a seguir rigorosamente as orientações das autoridades de saúde”, emendou.
São Clemente: ‘Não vou arriscar’
Renato Gomes, presidente da São Clemente, também não abre mão da vacina.
“É simples: se chegar vacina, teremos samba. Como vamos lidar com a multidão sem imunização coletiva? Não vou arriscar meus componentes. Prioridade: comunidade”, disse Renato.
Portela: ‘Vamos ouvir as autoridades’
O presidente da Portela, Luiz Carlos Magalhães, diz que a escola está numa posição de indefinição como todas as demais. Ele acha que decisão mais provável na reunião desta terça-feira seja o adiamento dos desfiles.
“Vamos nos orientar pela Liesa, mas também pelas autoridades sanitárias e epidemiológicas. Vamos fazer essa conjunção: ouvir as autoridades e adequar às nossas possibilidades com os recursos financeiros que tenham ou não entrado”, disse o presidente.
Tijuca: ‘Nosso negócio é colocar as pessoas para sambar’
Cauteloso, o presidente Fernando Horta, da Unidos da Tijuca, diz que é prematuro dizer que não vai ter carnaval em 2021.
“É prematuro dizer se dá ou não para ter carnaval. Acho que só teremos uma noção mais real lá para dezembro. Acho prematuro adiar faltando sete meses para a festa”, pontuou.
Viradouro: ‘Saúde das pessoas em 1º lugar’
O presidente Marcelo Calil, da Unidos do Viradouro, escola campeã de 2020, prefere debater o tema na reunião da Liesa, mas garantiu se preocupar com a comunidade.
“Logo mais, teremos uma plenária e manifestaremos nosso posicionamento. O que posso afirmar é que, como desde o início da pandemia, a nossa escola sempre se preocupa com a saúde das pessoas em primeiro lugar”, disse Calil.
A agremiação, que foi uma das primeiras a anunciar enredo para 2021, também foi uma das que saíram na frente ao confeccionar máscaras para a sua comunidade. E até o mestre-sala Julinho, que é professor de educação física, fez um vídeo para ajudar componentes, como baianas, se exercitarem em casa durante a quarentena.
Outras escolas
Os dirigentes de Mocidade Independente de Padre Miguel e Paraíso do Tuiuti dizem que já têm posição sobre a questão. Mas só vão se colocar na reunião plenária da Liesa, quando terão oportunidade de debater o assunto.
Salgueiro e Mangueira não responderam ao G1 até a última atualização desta reportagem.
Leandro Vieira: ‘Primeiro lugar está a vida’
Ao G1, o carnavalesco da Mangueira, Leandro Vieira, defendeu um carnaval com segurança.
“As escolas que se posicionam dessa forma querem dizer que em primeiro lugar está a vida de de seus componentes e seus trabalhadores. Diante desse quadro incerto e inseguro, a prudência e o respeito a vida devem prevalecer”, disse o carnavalesco.
Calendário atrasado
Há escolas que nem divulgaram o enredo, como São Clemente, Mangueira, Imperatriz e Unidos da Tijuca.
A Riotur declarou recentemente que cabe à Liesa decidir os rumos dos desfiles das escolas de samba. E que antes de pensar no carnaval de rua, tem de planejar como vai ser outro grande evento da cidade, o réveillon, que chega a reunir quase três milhões de pessoas na Praia de Copacabana.
Não é só no Rio que a pandemia de coronavírus coloca em risco a realização do carnaval. O prefeito de Salvador (BA), ACM Neto, disse que se não houver um plano de imunização coletiva contra a Covid-19 até novembro, o carnaval poderá ser adiado na capital baiana.