Depois de ser solto, jovem preso quando comprava pão, ainda terá que cumprir medidas cautelares

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O jovem Yago Corrêa de Souza, de 21 anos, foi solto depois de dois dias preso por um crime que ele diz não ter cometido. Além do período no presídio, onde ele contou ter passado fome, Yago ainda terá que cumprir medidas cautelares até que seu caso seja julgado em definitivo.

Yago, que trabalha com a irmã vendendo doces, foi preso no último domingo (6) por suspeita de associação ao tráfico de drogas na Favela do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio. A polícia rendeu o jovem com um saco de pão e o levou para a delegacia.

Na opinião de familiares e testemunhas, Yago é inocente. Imagens de câmeras de segurança mostram que, no momento da prisão, o jovem apenas tinha ido a uma padaria na favela.

Yago foi solto na última terça-feira (8), durante audiência de custódia no Presídio de Benfica, considerada a “porta de entrada” do sistema penitenciário fluminense.

Entre as medidas cautelares que o jovem precisará cumprir nos próximos meses estão a proibição de sair da cidade sem autorização da Justiça e a obrigação de comparecer no tribunal mensalmente.

Na opinião da defensora pública Isabel de Oliveira Spreger, subcoordenadora de defesa criminal da Defensoria Pública do Rio de janeiro, o jovem ainda terá alguns transtornos por conta dessa prisão.

“Tratou-se de um erro, mesmo assim foram fixadas essas medidas que ele vai ter que cumprir. Ainda vai ter esse transtorno na vida dele, de ter que cumprir essas medidas até que a opinião do Ministério Público seja formada e esperamos que venha a ser um arquivamento desse inquérito”, comentou Isabel.

Atualmente, a Favela do Jacarezinho, onde Yago foi preso, está ocupada por forças policiais para implementação do programa Cidade Integrada, aposta do governo estadual para retomar a região do controle de uma organização criminosa.

‘Preso com um saco de pão’

Parentes e testemunhas disseram que houve um princípio de tumulto e correria na Rua Amaro Rangel, uma das vias na parte baixa da favela, com policiais empunhando fuzis. Segundo uma testemunha, Yago e outras pessoas correram para se proteger.

Além de Yago, os PMs também apreenderam um adolescente com uma sacola com drogas. Mas parentes de Yago reforçam que ele só correu porque, no tumulto, viu os policiais armados. Uma amiga da família, que não quis se identificar, disse que viu tudo o que aconteceu na ocasião da prisão.

“Tava eu e meu esposo tomando uma cerveja no bar ao lado da farmácia onde ele foi detido. Ele passou por mim e veio comprar o pão. Então, de onde eu estava tem a visão da padaria, né! Ele entrou na padaria e veio com o pão. (…) Teve uma correria. Eu e meu esposo, nós corremos pra dentro do bar e ele correu pra dentro da farmácia. Aí eles abordaram um menino do lado de fora e olharam pra dentro da farmácia, aí pegaram ele e puxaram ele pela bermuda e levaram ele também”, disse.

Um despacho da 25ª DP desta segunda cita que policiais da delegacia conversaram “informalmente” com Yago e tiveram a impressão de que o jovem talvez estivesse “no lugar errado, na hora errada”.

Levando em conta os relatos dos policiais e informações da polícia, o delegado que analisou o caso também se manifestou pela soltura de Yago. E ainda orientou que os parentes levassem o documento com a representação na audiência de custódia do jovem.

O advogado Vivaldo Lúcio, que representa Yago no caso, disse que a prisão do rapaz foi mais um caso de racismo no Rio de Janeiro.

“O que aconteceu é o que todos sabemos: racismo estrutural. Estereotipo do bandido brasileiro: negro, jovem e de favela. Teve incursão na favela, todo mundo correu, incluindo ele, com saco de pão na mão, a polícia entrou na farmácia, olhou quem tava ali e levou ele pra delegacia e prendeu. Na verdade, ele não sabe nem porque foi preso”, disse Vivaldo.

Crédito: Portal g1

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