Vereadores da Câmara de Porto Alegre registraram, nesta quinta-feira (21), na Delegacia de Combate à Intolerância, boletins de ocorrência contra manifestantes que participaram da sessão, no dia anterior, em que foi analisado o veto à obrigatoriedade do passaporte vacinal. Em uma das discussões, uma manifestante se dirigiu à vereadora Bruna Rodrigues (PCdoB), que é negra, e a chamou de “empregada”.
“Eu sou o povo. Tu representa a mim. Tu é minha empregada”, repetiu algumas vezes.
As imagens foram gravadas por assessores dos parlamentares e divulgadas nas redes sociais. Além de Bruna, outros vereadores negros consideraram racista a manifestação dirigida a eles.
“Falta exatamente um mês para o primeiro dia da consciência negra da bancada negra de Porto Alegre. Lutamos para chegar aqui, lutaremos para nos multiplicar”, escreveu em uma postagem nas redes sociais a vereadora Laura Sito (PT).
A sessão foi suspensa após a confusão entre vereadores e o público. Na ocasião, um dos manifestantes exibiu um cartaz com uma suástica.
Outro dos boletins de ocorrência denuncia o crime de apologia ao nazismo foi feito pelos vereadores Pedro Ruas, Roberto Robaina, Jonas Reis, Laura Sito, Bruna Rodrigues, Matheus Gomes e Daiana Santos.
Os vereadores sustentam que os manifestantes fizeram uma ação “coordenada”, e que já estiveram envolvidos em outros atos de defesa da supremacia branca. A delegada Andréa Mattos confirmou ao g1 que entre os participantes estava um homem indiciado por crime racial após um ato que simulou o enforcamento de uma pessoa negra no Parcão, em Porto Alegre.
Em nota, a Câmara Municipal repudiou os atos de violência e de intimidação contra os vereadores.
Na quarta-feira (20), o presidente da sessão, Idenir Cecchim (MDB), chegou a pedir o encaminhamento de um manifestante à delegacia. No entanto, não houve prisões. Ele informou que também faria um boletim de ocorrência.
A Guarda Municipal foi acionada para retirar os manifestantes do local. Conforme o comandante da corporação, Marcelo Nascimento, o policiamento foi reforçado.
A sessão foi retomada, com as galerias vazias. Os vereadores mantiveram o veto ao passaporte vacinal, já que eram necessários 19 votos para derrubar e houve 18 votos favoráveis, 14 contrários e duas abstenções. Ainda assim, uma norma estadual exige a apresentação do documento.
Confusão
A discussão começou quando o vereador Cláudio Janta (Solidariedade) discursava em favor da vacina. O parlamentar pediu que a Mesa Diretora fizesse ser cumprido o distanciamento social e o limite de ocupação nas galerias.
Nas imagens da TV Câmara, é possível ver o vereador Roberto Robaina (PSOL) se dirigindo ao público. Os vídeos mostram uma confusão entre os presentes, com trocas de socos e empurrões.
Fotografias da assessoria do Legislativo mostram uma confusão entre Janta e dois homens presentes nas galerias. O vereador relatou ao g1 que foi agredido.
Em meio à confusão, o vereador Pedro Ruas (PSOL) se dirigiu ao microfone, afirmando que os manifestantes estavam agredindo vereadores. Já Alexandre Bobadra (PSL) disse que um vereador teria agredido um manifestante, sem identificar quem.
Nota da Câmara Municipal
“Em face dos acontecimentos ocorridos na tarde de hoje (20/10) nas dependências do Plenário da Câmara Municipal de Porto Alegre, o presidente em exercício e a Mesa Diretora desta Casa repudiam com veemência qualquer tipo de manifestação política que utilize o expediente da violência. O plenário da Câmara Municipal é a expressão da democracia na capital dos gaúchos e suas decisões são soberanas. Este Legislativo rejeita qualquer forma de intimidação contra seus integrantes.
Em hipótese alguma esta Câmara aceitará apologia à suástica, símbolo do período mais obscuro da história moderna da humanidade. Aqueles que buscam impor suas vontades pela força ou pelo terror nunca terão guarida nesta Casa. Pelo contrário, tais indivíduos serão submetidos ao rigor da lei e responsabilizados por seus atos.”
Crédito: g1.globo.com