Moradores de comunidades do Rio afirmam que o índice de pessoas assintomáticas pode estar influenciando o descumprimento das regras de isolamento social contra a Covid-19. Uma pesquisa divulgada pelo prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) mostrou que 52% dos infectados pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2) não teve sintomas.
A técnica de enfermagem Sheila Vieira, de 40 anos, disse que teve a sensação de estar entrando em um “mundo paralelo”. Ela saiu do plantão em um hospital e encontrou muitas pessoas sem máscaras ao chegar no Complexo de Favelas da Maré, na Zona Norte da cidade.
Ela é moradora de uma das quatro comunidades onde os testes da prefeitura foram realizados. Além da Maré, a pesquisa foi realizada nas comunidades da Rocinha, Cidade de Deus e Rio das Pedras. Funcionária da Saúde, Sheila sempre teve os cuidados recomendados, mas acha que o número de assintomáticos é muito alto.
“Eu tive vários pacientes assintomáticos. Eram pacientes que chegavam com uma dorzinha lombar, que não tem nada a ver com sintomas de gripe. Quando batia uma ‘TC’ [tomografia de crânio], acusava Covid. Tem muitas pessoas assintomáticas. Eu acredito que até meus filhos possam ser também”, afirmou Sheila.
‘Minoria se preocupa com Covid-19’
Em Rio das Pedras, o panorama é o mesmo. Pessoas desrespeitam as determinações e causam aglomerações. O advogado Rodolfo Pedrosa, de 34 anos, afirmou que a minoria dos moradores se preocupa com a doença e ele não sabe o motivo disso acontecer, uma vez que já foram registradas 50 mil mortes no Brasil.
Rodolfo foi diagnosticado com Covid-19 e precisou ficar internado. Ele conta que seus pais, que também testaram positivo, foram assintomáticos. Ele acha que o alto índice de pessoas sem sintomas pode ser consequência para uma subnotificação grande da doença.
“Eu acho que muita gente aqui é assintomática. Muita gente tem e não apresenta sintoma algum ou, quando apresenta, é muito leve. Acaba não fazendo o exame e entra para o grupo de subnotificação. Posso dar o exemplo do meu pai e minha mãe, ambos tiveram e não tiveram sintoma algum”, afirmou o advogado.
Rocinha tem ‘vida normal’ e pessoas sem máscara
O G1 recebeu vídeos, gravados na segunda-feira (22), que mostram uma “vida normal” na comunidade da Rocinha, na Zona Sul. São pessoas circulando sem máscaras, comércio aberto e moradores desrespeitando o distanciamento social.
O designer Denis Neves afirmou que um dos fatores pode ser a falta de sintomas na população. Além disso, as informações distintas dos governos federal e estadual, sobre isolamento social, dificultam a imposição de regras na comunidade.
“Tem ‘n’ fatores que fazem as pessoas irem para as ruas. Um deles é que é difícil o confinamento na comunidade, onde pessoas dividem 1 ou 2 cômodos com 3 ou 4 pessoas. A falta de unidade entre os governos em relação à flexibilização também faz com que as pessoas saiam de casa”, disse o designer.