A Comissão Especial de Impeachment da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) aprovou por unanimidade o parecer pelo prosseguimento do processo de impeachment do governador Wilson Witzel (PSC). O placar final foi de 24 a 0. Um deputado não compareceu por estar com Covid.
O relator, o deputado Rodrigo Bacelar (SDD), leu as 77 páginas do documento por pouco mais de duas horas, na presença dos 24 dos 25 deputados que formam a comissão (veja abaixo quem estava em plenário).
Em seguida, os deputados discursaram sobre o relatório e ao final deram os seus votos. O deputado Leo Vieira, do PSC, mesmo partido do governador afastado, também votou a favor do relatório.
Após a aprovação do relatório pela comissão especial nesta quinta, o processo será analisado em plenário da Alerj na semana que vem.
Nesta sexta-feira (18), o Diário Oficial publicará o resultado da votação do relatório. Veja abaixo o passo a passo do processo de impeachment.
O que diz Witzel
Cerca de uma hora após o encerramento da sessão, o governador afastado do RJ fez um publicação em uma de suas redes sociais. Ele diz que não cometeu crimes e está sendo julgado sem direito à ampla defesa.
“Recebo com respeito e tranquilidade a decisão da comissão da Alerj. Além da defesa por escrito, antes da votação em plenário faria a minha defesa presencial, demonstrando que não cometi crime de responsabilidade. Tenho confiança em um julgamento justo.” disse em um dos pontos da publicação.
Passo a passo do processo de impeachment
- O resultado da votação do relatório será publicado no Diário Oficial nesta sexta-feira (18)
- A partir de segunda-feira (21) começa a contar prazo de 48 h para o parecer ser inserido na pauta do plenário da Alerj
- Contadas as 48 h, o parecer já pode ser votado já na quarta-feira (23)
- A votação em plenário pode durar mais de um dia
- Após a votação em plenário, o texto é publicado em Diário Oficial
- Se o resultado for pelo impeachment do governador, o Tribunal de Justiça é comunicado para dar início à formação do Tribunal Misto
- Esse tribunal é formado por 5 deputados (eleitos pela Alerj) e 5 desembargadores (eleitos por sorteio com critérios definidos pelo TJ)
- A partir da formação do Tribunal Misto começa uma nova etapa onde o governador é afastado por até 180 dias enquanto o tribunal analisa a questão.
O que disse o relatório
Na leitura, o relator listou uma série de denúncias contra o governador afastado pelo STJ no último dia 28 de agosto após a Operação Tris In Idem, que investiga desvios de recursos da saúde no governo do RJ em contratos emergenciais.
O governador e outras oito pessoas, incluindo a primeira-dama Helena Witzel, também foram denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por corrupção.
A descoberta do esquema teve início com a apuração de irregularidades na contratação dos hospitais de campanha, respiradores e medicamentos para o combate a pandemia do coronavírus.
O deputado começou a fazer a leitura pouco antes do meio-dia. Boa parte do documento foi dedicada à requalificação do Instituto Unir Saúde e aos contratos com a OS Iabas.
A organização social Unir havia sido impedida de ser contratada pelo poder público pela própria Secretaria de Estado de Saúde por causa da precariedade dos serviços prestados.
Segundo o Ministério Público Federal (MPF), a empresa é ligada ao empresário Mário Peixoto, preso na Operação Favorito.
A operação precedeu a Operação Placebo, que aponta apontou indícios de que Witzel sabia de fraudes na área da Saúde. A revogação da desqualificação da OS também está sob investigação.
“A Unir Saúde não tinha condições de prestar serviços e, ainda assim, foi restituída por um ato do governador, inclusive voltando a receber dinheiro público. Isso indica risco de dano ao erário”, disse o relator.
O deputado incluiu ainda em seu relatório, os valores dos pagamentos feitos à OS.
“Em relação ao Instituto Unir Saúde, consta nos autos pagamentos feitos pelo Estado no período em que esse não possuía mais os requisitos de qualificação e habilitação necessários. Tais informações, obtidas junto ao Portal de Transparência do Governo do Estado, indicam ter havido pagamentos, em período no qual o Instituto Unir Saúde estava desabilitado, da ordem de R$ 26,8 milhões, indicando a existência de fortes indícios de dano ao erário, uma vez que sequer se procurou proteger o Estado contra o pagamento de serviços que não vinham sendo prestados e que, portanto, geraram as mais graves punições à contratada.”
Em outro trecho, o relator listou os contratos com a Iabas, organização social investigada por irregularidades em contratos firmados para a construção de hospitais de campanha no Rio de Janeiro na pandemia.
Por causa dessas denúncias, o então governador Wilson Witzel afastou em junho a Iabas da gestão dos hospitais de campanha do estado por atraso nas obras.
“A proposta de trabalho do Iabas foi feita no dia 26 de março de 2020 – um dia antes da requisição do Estado. Após um rápido trâmite, foi assinado o contrato, n forma d um Termo de Referência Simplificado, para a implantação dos hospitais de campanha no valor de R$ 835.772.409, 78 – assinado por Gabriel Neves, então subsecretário de Saúde.”, disse o relator.
Sobre os contratos com a Iabas, o relator disse que as cláusulas contratuais foram imprecisas.
“Nos moldes descritos, o meio adequado para a contratação seria a celebração de contrato de gestão, pois nos moldes firmados, há afronta ao ordenamento jurídico; cláusulas contratuais imprecisas. Mesmo mantido o contrato, o acordo pode se mostrar prejudicial à administração em diversos aspectos; Pede apresentação de justificativa de vantajosidade; indica ao gestor a necessidade de adoção de todas as providências para o ressarcimento de valores em excesso já despendidos.”
Íntegra da publicação Witzel após votação
“Recebo com respeito e tranquilidade a decisão da comissão da Alerj. Além da defesa por escrito, antes da votação em plenário farei a minha defesa presencial, demonstrando que não cometi crime de responsabilidade. Tenho confiança em um julgamento justo.
Combati o crime organizado e a corrupção, que tentou se instalar no meu governo. Eu determinei a investigação dos contratos da Saúde e afastei os suspeitos. O linchamento político do qual tenho sido vítima deixará marcas profundas no RJ.
Venho sendo acusado sem provas e sem direito à ampla defesa, inclusive no STJ. A minha luta é pela democracia, é para que um governador eleito pelo povo possa prosseguir e concluir o seu mandato.”
Presentes na sessão
- Chico Machado (PSD)
- Rodrigo Bacellar (SSD)
- Alexandre Freitas (Novo)
- Bebeto (Podemos)
- Brazão (PL)
- Carlos Macedo (Republicanos)
- Dionísio Lins (PP)
- Dr. Deodalto (DEM)
- Eliomar Coelho (PSOL)
- Enfermeira Rejane (PCdoB)
- Gustavo Schmidt (PLS)
- Leo Vieira (PSC)
- Luiz Paulo (PSDB)
- Márcio Canella (MDB)
- Marcus Vinicius (PTB)
- Marina Rocha (MDB)
- Martha Rocha (PDT)
- Renan Ferreirinha (PSB)
- Subtenente Bernardo (PROS)
- Val Ceasa (Patriota)
- Valdecy da Saúde (PTC)
- Waldeck Carneiro (PT)
- Welberth Rezende (Cidadania)
- Marcos Abrahão (Avante)
Ausentes da sessão
- João Peixoto (DC) – internado com Covid
Lista final:
- Chico Machado (PSD) – Presidente – Sim
- Rodrigo Bacellar – Relator – (Solidariedade) – Sim
- Alexandre Freitas (Novo) – Sim
- Bebeto (Podemos) – Sim
- Brazão (PL) – Sim
- Carlos Macedo (Republicanos) – Sim
- Dionísio Lins (DEM) – Sim
- Doutor Deodauto – Sim
- Eliomar Coelho (PSOL) – Sim
- Enfermeira Rejane (PC do B) – Sim
- Gustavo Schmidt (PSL) – Sim
- Léo Vieira (PSC) – Sim
- Luiz Paulo (PSDB) – Sim
- Márcio Canella (MDB) – Sim
- Marcos Abrahão (Avante) – Sim
- Marcos Vinícius (PTB) – Sim
- Marina Rocha (MDB) – Sim
- Martha Rocha (PDT) – Sim
- Renan Ferreirinha (PSB) – Sim
- Subtenente Bernardo (PROS) – Sim
- Val Ceasa (Patriota) – Sim
- Valdecy da Saúde – PTC – Sim
- Waldeck Carneiro (PT) – Sim
- Welberth Rezende (Cidadania) – Sim
- João Peixoto (DC) – Ausente – internado com Covid