A polícia já sabe que o traficante Wilton Carlos Quintanilha, o Abelha, foi morar com Edgar Alves de Andrade, o Doca, chefe do Complexo da Penha, após sair da cadeia. Abelha é integrante do conselho do Comando Vermelho e saiu pela porta da frente do Complexo de Bangu, mesmo com mandado de prisão ativo, no dia 27 de julho.
Sua soltura irregular contribuiu para a queda e prisão do então secretário de Administração Penitenciária, Raphael Montenegro. Mas, mais do que morar, Abelha já teria voltado ao crime: a polícia apura a participação dele na morte do traficante Wilter Castro da Silva, o Stala, gerente do morro do Castellar.
Em uma conversa, por aplicativo de mensagem de texto, Doca afirma a um integrante do Castellar, em Belford Roxo, que matou Stala por conta de uma dívida de R$ 60 mil na boca do tráfico. Stala estaria desviando o dinheiro.
Na conversa, Doca, que estaria ao lado de Abelha, afirma a um integrante do morro do Castellar que matou Stala a tiros, na Penha, após chamá-lo na Penha para por conta dessa dívida. O corpo do traficante não foi encontrado.
Meninos desaparecidos em Belford Roxo
Stala é investigado pela Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense no contexto do desaparecimento de Lucas Matheus, 9 anos, Alexandre Silva, 11, e Fernando Henrique, 12. A principal linha de investigação aponta que os meninos teriam pego um passarinho de uma gaiola, e que não seria a primeira vez. Drogado, Stala teria autorizado uma sessão de espancamento nas crianças e elas não teriam resistido.
A polícia já comprovou que Stala participou da tortura de um homem da comunidade; o objetivo era conseguir uma confissão forjada sobre o caso dos meninos. A hipótese do envolvimento do torturado foi descartada pela polícia.
A reportagem conversou com investigadores que acreditam não ser coincidência a morte de Stala com a saída de Abelha: eles suspeitam de que o chefe do CV teria autorizado a morte do gerente por conta do assassinato das crianças. E, a mensagem de texto de Doca a um integrante do morro do Castellar seria somente uma forma de culpar a milícia da região pelo crime contra as crianças.
Muro em homenagem a Abelha é coberto
Um grafite em homenagem ao traficante Abelha, que foi feito no período do secretário Raphael Montenegro, foi apagado no Complexo de Bangu, logo após a sua saída. A ordem para pintar a parede de branco teria partido de Victor Poubel, que assumiu a secretaria por cerca de uma semana.
A defesa de Montenegro não foi encontrada para comentar o grafite.
A arte mostrava a escadaria Selarón, ponto turístico da Lapa, bairro onde Abelha controlava as bocas de fumo e assaltava.
Com o tempo, Abelha passou a ser do conselho do Comando Vermelho que, de acordo com a polícia, é responsável pelo planejamento estratégico e execução tática; coordenação de atos ilícitos; invasões territoriais às comunidades dominadas por grupos rivais; ataques a policiais; e execução de rivais e desafetos, entre outros crimes.
Crédito: Jornal O Dia