Estudos realizados pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) em parceria com a Universidade Federal Fluminense (UFF) e a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) detectaram que a lama de rejeitos liberada pelo rompimento da barragem da Samarco em Mariana, Minas Gerais, em novembro de 2015, chegou até o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, que fica no sul da Bahia. Um relatório de quase 50 páginas apresenta dados da pesquisa feita, que apontam a presença de metais pesados na região, como cobre e zinco, em colônias no fundo do mar.
O Parque Nacional Marinho dos Abrolhos foi criado em abril de 1983, sendo o primeiro do tipo no Brasil, onde está localizada a maior biodiversidade marinha do Atlântico Sul. A unidade de preservação fica a cerca de 70 quilômetros da costa baiana e é considerado berço da baleia-jubarte, local favorito da espécie para amamentação e reprodução. Também possui uma grande diversidade de recifes de corais, que propicia a reprodução de muitos peixes, que se espalham pela região e contribuem com a atividade de pesca no Estado.
“Entrei em contato com o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), em Brasília, e programei uma coleta de duas colônias no arquipélago. Através de técnicas químicas, constatamos que, no meio do crescimento dos corais, houve um pico enorme de metais pesados, que coincide exatamente com a cronologia da chegada da pluma de sedimentos da Samarco”, explicou o professor Heitor Evangelista, que coordenou o trabalho realizado pelas universidades.
Segundo especialistas, o dano causado não pode ser reparado por ter atingido uma grande margem da região. “Nosso papel é saber em que medida aquela área foi impactada, e a partir daí deflagrar mecanismos de monitoramento para descobrir qual vai ser a resposta biológica diante desse fato. Não há como remediar, mas nós precisamos aprender com esse processo”, conta Heitor.
Outro fenômeno observado por mais uma pesquisa realizada no Parque foi o branqueamento de corais na região, o que é causado pelo aumento da temperatura e aponta que a saúde dos corais não vai bem. O impacto pode atingir o ecossistema local e também a pesca e o turismo na região. A pesquisa foi feita pelo Projeto Coral Vivo, coordenada por Flávia Guebert. “Branqueamento é um evento de estresse, quer dizer que está acontecendo algum evento no oceano, e os corais estão respondendo dessa forma”, explica.
“O branqueamento é um momento em que uma microalga que está dentro dos corais pulsa, e os corais ficam transparente, e a gente consegue enxergar o esqueleto dele. Não quer dizer que está morto. Esse evento de estresse pode se recuperar ou não. Nós estamos monitorando há vários anos”, relata Guebert, que acredita que as mudanças servem de alerta para a conscientização quanto a manutenção do meio ambiente. “Isso é uma mudança climática, um evento global”, finalizou.