Alunos, pais e professores de colégios federais do Rio realizam, na manhã desta segunda-feira (6), um protesto em frente ao Colégio Militar do Rio de Janeiro, na Tijuca, Zona Norte do Rio, onde o presidente Jair Bolsonaro participa da solenidade de comemoração pelos 130 anos da instituição. Na semana passada, o Ministério da Educação (MEC) anunciou o corte de verba de 30% das universidades e institutos federais. Entre eles, o Colégio Pedro II.
Além do CPII, participam do ato estudantes do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia (IFRJ), do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet-RJ), da Fundação Osório e do Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Cap-UFRJ).
Por volta das 9h, a Rua São Francisco Xavier foi interditada ao trânsito. A via tinha bloqueios até a altura da Avenida Maracanã, por onde estava sendo feito um desvio. Havia reflexos no trânsito até a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
Para Davi Marques da Costa, pai de uma aluna do oitavo ano do Colégio de Aplicação da UFRJ (CAP-UFRJ), o corte representa o descumprimento das promessas do atual presidente durante a campanha eleitoral. “Ele falou em campanha que ia dar ênfase para a educação de base e ensino médio e isso ele não fez. Cortar verba da UFRJ é cortar verba em outros setores. A UFRJ tem hospital, ele também corta verba do hospital, tem centro de pesquisa de ponta do RJ”, criticou Davi.
Desde o início da manhã, Davi está entre os pais que se juntaram aos filhos no ato contra o corte de verbas. “O CAP UFRJ, assim como CPII, tem muitos professores substitutos, que são temporários. Hoje, já passam de 60% no Cap-UFRJ. A verba pra pagamento desse pessoa é do custeio, se cortar vai faltar professor”, afirmou.
Ex-aluno do Colégio Pedro II e pai de estudante da unidade, o advogado Carlos Henrique de Carvalho ressalta que é fundamental a participação estudantil contra o corte de verba no setor da educação. “Esse problema não afeta somente estudantes do Pedro II,afeta toda a população. Outros cortes em outros setores estratégicos podem vir e é importante que haja uma resposta popular”, declarou Carlos Henrique.
Em um comunicado divulgado na quinta-feira (2), diretores do CPII disseram que o corte de 36,37% é tão grande que terá “implicações devastadoras” e “consequências para a manutenção” da instituição. Segundo o comunicado, a redução feita pelo governo federal é de 36,37% do orçamento de R$ 51 milhões. O corte foi informado na tarde de quinta-feira (2) aos diretores do CPII. Com isso, o estabelecimento vai perder mais de R$ 18 milhões para o custeio das unidades. No Rio de Janeiro, são oito campi, que atendem alunos da educação infantil ao ensino médio.
A professora de sociologia Janecleide Aguiar, do Colégio Pedro II, campus São Cristóvão, afirma que, como servidora, apoia o momento estudantil contra o corte de verba na educação. “Como professora de sociologia, a gente tenta pensar essa realidade social. A gente não faz doutrinação na escola. A gente traz um debate importante com embasamento teórico, discutindo questões estruturais na sociedade”, garantiu.
Segundo a docente, o momento atual também é importante para revitalizar a luta do movimento estudantil. “A gente tem uma história de lutar e acho importante a gente revitalizar essa luta num momento tão severo de ataque à educação pública, sobretudo com esse bloqueio. A ideia do ato é reverter esse reverter esse bloqueio e tornar esse projeto de educação pública inclusiva dos institutos federais e universidades federais um projeto que atenda a sociedade“, completou Janecleide.
Bloqueio inviabiliza custeio das instituições
De acordo com Oscar Halac, reitor do Colégio Pedro II, o bloqueio inviabiliza o custeio das instituições.
“É bom dizer que nós temos contratos mantidos com a iniciativa privada, contratos celebrados. E o bloqueio de 30% certamente levará todos, não somente o Colégio Pedro II, a não honrar contratos firmados. E daí vem redução de postos de trabalho, daí vem não prestação de serviços e daí vem a paralisação dos serviços prestados pelo Colégio Pedro II”, disse.
O Ministério da Educação diz que o bloqueio da dotação orçamentária foi de 30% para todas as instituições. E que a base de despesas discricionárias do Colégio Pedro II é de R$ 62,26 milhões e o percentual de 30% corresponde ao bloqueio de R$ 18,68 milhões.
O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFRJ) também informou que soube, na quinta-feira, de um corte de quase 33% no orçamento total de 2019 – o equivalente a mais de R$ 16 milhões.
O IFRJ informou que, com o corte, terá recursos para se manter somente até agosto. E que a redução no orçamento afeta diretamente as ações de ensino, pesquisa e extensão em andamento, impactando diretamente a vida de servidores e estudantes.
Entre as medidas adotadas, com a nova previsão de orçamento, está a suspensão de novos editais para concessão de bolsas em projetos de extensão e pesquisa.
Fonte: G1