Policiais civis da Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (DCAV) apreenderam, na manhã desta terça-feira (27), dois adolescentes de 14 e 17 anos apontados como responsáveis por praticar estupros e induzir meninas a automutilação e suicídio na plataforma Discord. Segundo a polícia, o adolescente de 17 anos era um dos principais líderes do grupo.
As investigações da Operação “Dark Room” começaram em março deste ano, com o compartilhamento de informações entre a Polícia Federal e policiais civis de vários estados do país. Técnicas de investigação cibernética foram usadas para apurar crimes cometidos pelos adolescentes no meio virtual.
Os policiais descobriram que os menores usavam três servidores da plataforma, que oferece a comunicação com o suporte de mensagens de texto, voz e chamadas de vídeo, para cometerem atos de extrema violência contra animais e adolescentes. Eles ainda divulgavam pedofilia, zoofilia e faziam apologia ao racismo, nazismo e a misoginia.
O Fantástico exibiu, neste domingo (25), uma reportagem sobre como o aplicativo, que é popular entre adolescentes, é usado como uma ferramenta para envolver jovens em um submundo de atos violentos e na propagação de ideais de ódio. Investigações mostraram que os recursos do Discord são usados como um território sem lei.
Durante as investigações, os agentes obtiveram provas como vídeos de mutilação e sacrifício de animais que eram parte dos desafios impostos pelos chefes dos grupos como condição para que eles obtivessem “cargos”, que se traduziam em permissões e acesso a funções dentro do grupo. Estas ações eram transmitidas em chamadas de vídeo para todos os integrantes do grupo.
Vítimas
As investigações mostraram que adolescentes eram chantageadas e constrangidas a se tornarem escravas sexuais dos chefes destes grupos. Segundo os policiais, eram cometidos “estupros virtuais” que eram transmitidos ao vivo por meio de transmissões ao vivo para todos os integrantes do servidor.
Os registros obtidos pelos investigadores mostraram que as menores eram xingadas, humilhadas e obrigadas a se automutilar. Ao comando do responsável pelo grupo, que deveria ser tratado como um “Deus”, ou “dono” delas, eram obrigadas a fazer cortes com navalha nos braços, pernas, seios e genitália. Os outros integrantes do grupo riam e vibravam com a crueldade.
As vítimas eram moradoras de várias partes do país e escolhidas no próprio Discord, em perfis abertos nas redes sociais ou mesmo indicadas por integrantes do grupo. Eles conseguiam informações pessoais das meninas e, a partir daí, iniciavam uma série de chantagens, afirmando que possuíam fotos comprometedoras que seriam vazadas ou enviadas para os pais, caso não se submetessem às chantagens.
De acordo com os policiais, os integrantes destes grupos estavam blefando na maioria dos casos.
Depois da violência em salas no Discord, grupos públicos no aplicativo de mensagens Telegram eram criados posteriormente para publicar os vídeos e expor as vítimas.
Em entrevista ao Fantástico, o porta-voz do Discord disse que a plataforma “não tolera comportamento odioso”. “Nós somos um produto gratuito para mais de 150 milhões de usuários ao redor do mundo, e de tempos em tempos, conteúdo mau e comportamento mau vão acontecer. Nós trabalhamos ativamente para remover esse conteúdo”, afirmou o porta-voz. “Gostaria de enfatizar que a vasta maioria das interações de brasileiros usando Discord são positivas e saudáveis. Nós somos proativos e investigamos grupos que podem estar envolvidos em ameaças a crianças e trabalhamos para tirar esses agentes ruins da plataforma”.
O g1 tenta fazer contato com os responsáveis pelo aplicativo na manhã desta terça.
Crédito: g1.globo.com