A aposentada Inácia de Araújo, de 69 anos, precisou enfrentar horas de fila no Posto de Assistência Médica (PAM) de Alcântara, para conseguir marcar um exame com um médico geral. Sofrendo de pressão alta, a idosa, além de ter que aguardar em pé, também teve que ‘desafiar’ o forte calor. Esse é o resultado da queda do financiamento da Prefeitura de São Gonçalo em gasto público com saúde.
Segundo a análise do Conselho Federal de Medicina (CFM) sobre as contas da saúde, o valor médio aplicado pelos gestores municipais com recursos próprios em Ações e Serviços Públicos de Saúde (ASPS), declaradas no Sistema de Informações sobre os Orçamentos Públicos em Saúde (Siops), do Ministério da Saúde, foi de menos de R$ 403,37 na saúde de cada habitante durante todo o ano de 2017. São Gonçalo, no entanto, gastou apenas R$ 82,46 por pessoa durante o ano passado.
Ainda segundo os dados, São Gonçalo foi o pior município em investimento na saúde pública em toda região metropolitana durante 2017. Em relação aos anos anteriores, em 2013, a cidade gastou em média R$138,95 por pessoa durante o ano, cerca de 68,5% a mais do que em 2017.
As vizinhas, Niterói, Itaboraí e Maricá, aplicaram R$ 545,61, R$ 286,61 e R$ 278,60, por pessoa, respectivamente, nos Serviços Públicos de Saúde (ASPS) durante o ano passado.
Ranking nacional – Entre os mais altos valores per capita naquele ano, estão os das duas menores cidades do País. Com apenas 839 habitantes, Borá (SP) lidera o ranking municipal, tendo aplicado R$ 2.971,92 para cada um dos 812 munícipes. Em segundo lugar, aparece Serra da Saudade (MG), cujas despesas em ações e serviços de saúde alcançaram R$ 2.764,19 por pessoa.
A Secretaria Municipal de Saúde de SG esclarece que o município sofre com a queda de repasses (governos federal e estadual) e de arrecadação. Mesmo assim, desde o início do atual governo (2017), a Prefeitura inaugurou diversas novas unidades de saúde e vem mantendo os salários em dia.
Pacientes esperam várias horas na fila
Inácia de Araújo chegou ao Posto de Assistência Médica (PAM) de Alcântara às 5h, antes mesmo do amanhecer, para conseguir ser atendida. Por volta das 11h, ela ainda não tinha conseguido agendar sua consulta com o clínico geral.
Segundo Inácia, ela toma remédios para controlar a pressão e foi até a unidade de saúde para conseguir um encaminhamento para o cardiologista. Para isso, ela precisou enfrentar filas e sol, que atingia o local onde os pacientes estavam aguardando.
“Minha pressão já está alta. Nesse calor, a tendência é piorar ainda mais. Além disso, por causa dos remédios para controlar a pressão, eu toda hora vou ao banheiro urinar, mas a limpeza dos banheiros aqui desse posto são muito inadequadas, inviabilizando o nosso uso”, contou Inácia.
Outra pessoa que também madrugou para conseguir atendimento foi a manicure Angelina Andrade, 38. Ela enfrentou a fila para conseguir consulta com dermatologista e encaminhamento para outro médico.
“A fila estava lá fora da unidade quando eu cheguei aqui. Eu vou fazer um procedimento para retirada de verrugas e preciso de um encaminhamento. Não tem uma estrutura para aguardarmos a consulta e, inclusive, teve gente que já desmaiou aqui devido ao calor”, explicou.