A defesa da pastora Flordelis comunicou, através de uma coletiva de imprensa que ocorreu nesta manhã (08) em um hotel em Niterói, que irá entrar com um pedido de desaforamento no Tribunal de Justiça do Estado do Rio (TJRJ) solicitando que a ex-deputada federal seja julgada em um Tribunal no Rio e não em uma comarca de Niterói, como vem ocorrendo com os outros acusados de envolvimento na morte do pastor Anderson do Carmo e como está agendado para ocorrer com ela no próximo dia 06 de junho. O motivo seria uma reunião, ocorrida no último dia 25, entre a juíza Nearis dos Santos Carvalho Arce e os jurados das audiências de maio, junho e julho, onde ela teria mencionado o caso Flordelis, dentre outros.
A audiência teria ocorrido de forma privada e os advogados da ex-deputada foram impedidos de participar. A defesa de Flordelis não considera que essa seja uma atitude aceita em um caso do tipo, pois a reunião possibilitou tempo para os jurados formarem uma opinião e pesquisarem sobre o caso na internet, não se atendo aos fatos que ocorreram no dia do crime e às provas que serão apresentadas no tribunal.
“Essa situação viola os princípios e as garantias constitucionais, principalmente da Flordelis. Um dos nossos advogados foi impedido de entrar quando ficamos sabendo da reunião. É uma situação bastante grave e que fere um estado democrático de direito, onde o juízo deve se manter imparcial. A defesa foi prejudicada, pois os futuros jurados já souberam do caso pela juíza. Com isso, eles poderão discutir a informação entre si, evitando que o julgamento seja justo e imparcial”, afirmou Rodrigo Faucz que faz parte da defesa de Flordelis.
A banca de advogados da ex-deputada sabe que ela foi mencionada na reunião privada que ocorreu entre a juíza e os jurados, mas não sabem exatamente o que foi dito. Eles também irão pedir, ainda hoje, um novo pedido de suspensão contra a juíza em questão.
“Essa reunião entre os jurados e a juíza ocorre sempre para que eles se sintam seguros para participar desse exercício de cidadania e tenham informações, mas ela é sempre feita de forma pública e transparente, na frente de todos, incluindo das partes envolvidas. Nesta caso, foi feita sem a participação da defesa”, afirmou Rodrigo, que teve sua fala completada por Janira Rocha, outra advogada de Flordelis: “Aqui não se trata de falar mal da juíza, que é profissionalmente competente, no entanto, na nossa avaliação, ela tomou parte no julgamento. Precisamos de um juiz que vai garantir as regras do jogo, principalmente durante um julgamento”.
Ao todo, 70 jurados teriam participado da suposta reunião, dentre esses, sete seriam do caso Flordelis.
Julgamento do dia 06 de junho
O novo julgamento de Flordelis, de sua filha adotiva Marzy, de sua neta Rayane (todas representadas por Janira e Rodrigo), ocorrerá no próximo dia 06 de junho. Além delas, serão julgados também, no mesmo dia, a filha biológica da pastora Simone e André Luiz. No entanto, a defesa da ex-deputada contou que não foi intimada oficialmente para a nova data. Anteriormente, o julgamento ocorreria no dia 09 de maio.
“Nós soubemos da nova data pela imprensa e um dos motivos do adiamento era algo que já estávamos solicitando há algum tempo. Como são muitos documentos e arquivos derivados da apreensão durante a investigação do caso, a defesa ainda não teve acesso a todos. O Ministério Público tem acesso, são eles que apresentam as provas no julgamento, mas a defesa ainda não. Quando solicitamos, eles falam que o lacre está quebrado ou são arquivos inacessíveis. Com isso, não estamos conseguindo ter acesso e não podemos fazer um julgamento justo. Se tratam de centenas de gigabits de arquivos que se tivermos acesso agora, não conseguiremos ver tudo até o dia 06 de junho para preparar o julgamento”, afirmou a defesa de advogados da pastora representada por Rodrigo e Janira, que acredita que o caso passará a ser julgado no Rio e em uma nova data após os pedidos de hoje.
A defesa afirma que deseja um julgamento justo. “Queremos que haja um julgamento imparcial e que as pessoas sejam responsabilidades por algo que realmente fizeram e não a partir de versões criadas sem fundamento”, afirmou Janira.
Fato X Fake
A defesa de Flordelis frisou diversas vezes que pretende fazer um julgamento que separe o que é fofoca do que é fato. “Desde 2019, a gente vem tentando fazer isso, através de um debate científico como cobrado pela lei. Mas são muitas as fofocas, como a de que Flordelis fazia bruxaria, de ter filhos preferidos e outras que não estão provadas e que, mesmo que sejam verdade, não são consideradas crimes e não devem ser levadas em conta no julgamento. (…) A pastora já tem 61 anos, se ela for condenada como mandante do crime ela pegará prisão pelo resto de sua vida e, portanto, não vamos abrir mão de discutir a verdade, o que queremos é trazer a verdade, temos esse compromisso legal”, afirmou Janira.
A defesa ainda informou que, diferente do que muita gente divulga, a maioria dos filhos da pastora a defende e afirma que ela não tem envolvimento com o crime. “Todos estão do lado de Flordelis, menos os que ganharam alguma coisa ficando contra ela”, afirmou Janira.
Próximo julgamento
Caso o julgamento se mantenha para o dia 06 de junho, a defesa afirma que reuniu 37 testemunhas para o caso, apesar de não saber ainda quantas delas serão confirmadas. “As testemunhas são identificadas e escolhidas a partir do que elas podem colaborar para o melhor esclarecimento dos fatos ocorridos. Temos escolhas desde a época da investigação e vamos trazer uma visão que reflita a verdade. Uma das testemunhas que escolhemos é o desembargador Siro Darlan”, afirmou Janira.
Segundo a defesa de Flordelis, Siro foi um dos juízes que autorizou muitas das adoções dos filhos da deputada. “O Ministério Público reuniu reportagens antigas sobre o desembargador com denúncias e outras acusações nas quais já foi provada a inocência dele. Vamos trazê-lo como testemunha para que possa dizer a verdade, já que há muitas acusações de que as adoções de Flordelis foram falsas, provando que ele autorizou as adoções e que elas seguiram a lei. Ele permitiu muitas delas quando ainda era juiz e acompanhou a família com psicólogos e outros profissionais, portanto, é testemunha para provar que as adoções são verdadeiras”, afirmou a defesa da ex-deputada federal.
Os advogados ainda informaram que a defesa irá trabalhar com informações concretas. “É hora de separar os factoides e colocar as provas na mesa. É necessário saber quem assassinou sim, mas também é necessário saber o que ocorreu. A defesa não nega a morte do pastor Anderson e que todos tem que sair impunes, mas queremos que seja dita a verdade, vamos reestabelecer a verdade”, afirmou Janira.
Procurado para comentar sobre a reunião privada feita pela juíza Nearis, o Ministério Público foi procurado, mas ainda não se pronunciou sobre o caso.
Crédito: O São Gonçalo