Niterói: Comandante do 12°BPM conta como conseguiu reduzir taxa de crimes letais

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Um estudo recente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) concluiu que, entre as 120 cidades com a maior taxa de homicídio do país, Niterói e Pelotas registraram as maiores quedas em crimes violentos letais intencionais. Niterói registra a maior baixa já que, no período entre 2017 e 2020, a queda no número de crimes do tipo caiu em 70,9% (em Pelotas, o mesmo crime teve uma queda de 70%). A notícia foi debatida na coluna do Coronel Rogério Figueiredo de Lacerda, secretário de Estado de Polícia Militar do Rio de Janeiro, publicada no jornal O Dia. Sobre o tema, a reportagem resolveu ouvir o coronel Sylvio Guerra, de 52 anos, que atualmente comanda o 12° BPM (Niterói). Em seu relato, ele mostrou como determinação, confiança e integração fizeram com que Niterói tivesse menos crimes violentos.

Ele, que está desde janeiro de 2019 à frente do 12° BPM, contou um pouco sobre a política de proximidade que hoje rege os agentes da segurança pública de Niterói. “Eu e minha equipe chegamos aqui em 2019 e identificamos que os números de crimes em Niterói, na época, eram muito impactantes, de uma forma negativa. Um dos primeiros trabalhos que nós fizemos foi, então, buscar a ostensividade (de ação imediata) da Polícia Militar, das viaturas, do policiamento em si dos agentes do 12° BPM para iniciarmos um trabalho de sensibilidade à sociedade, buscando com isso a sensação de segurança e também fornecer para a população a segurança num todo. Paralelo a isso, observa-se também uma sociedade que cobra muito da Polícia Militar, uma sociedade que participa muito e isso é gratificante”, explica.

“No decorrer desse tempo, conseguimos também reunir, com o Conselho Comunitário de Segurança de Niterói, que é muito ativo, os agentes do 12° BPM, da Guarda Municipal de Niterói, os delegados extremamente ativos que fazem o trabalho de investigação nas delegacias (incluindo desmantelar quadrilhas como o Bonde do Fuzil, que assaltava em Icaraí), o pessoal do Niterói Presente, do Regime Adicional de Serviço (RAS) e do Programa Estadual de Integração na Segurança (PROEIS). Grupos que não se falavam quando eu cheguei”, acrescenta o coronel.

Sobre a integração entre as forças, ele continua: “Então não adianta termos um número expressivo de policiais, se eles não trabalham juntos e foi isso que buscamos fazer. Até porque todos nós temos o mesmo objetivo, que é atender a sociedade, cada um do seu jeito. Quando identificamos esse problema, trouxemos os agentes para o batalhão, planejamos as situações com eles. Toda sexta, por exemplo, tem um representante do Niterói Presente para fazermos o planejamento da semana seguinte juntos. Foi a partir dessa união que passamos a observar resultados positivos e os números de crimes diminuindo na região”, esclareceu ele que, segue honrando o legado da família, já que seu pai, o coronel Sylvio Carlos Guerra atuou no 12° BPM dos anos entre 1991 e 1993. O pai do coronel faleceu há cerca de um mês.

Foi a partir dessa união, segundo o coronel Guerra, que a sociedade passou também a se integrar com a Polícia Militar, o que ajudou ainda mais os agentes e a segurança pública em Niterói de modo geral. “Com essa integração das frentes policiais, começamos também a ganhar a credibilidade da sociedade e temos uma parceria grande com a população no Whatsapp. Eu participo de grupos no aplicativo de mensagens, tento responder as solicitações, o mais rápido possível, de tiros que acontecem, de informações etc”.

O coronel acredita que toda essa mudança fez com que os números de crimes em Niterói diminuíssem. “Já em março, abril de 2019, ano em que assumi, foi possível ver os números de crimes diminuindo. Por exemplo, antes, em Santa Rosa e Icaraí, havia 34 roubos de veículo, hoje existem apenas dois ou três roubos. Então, hoje, temos números expressivos, reduzidos. Temos também um número de 45 veículos roubados ao mês, contando com Niterói e Maricá, que é outro local onde os agentes do 12° BPM atuam. Isso seria um carro por dia sendo roubado em Niterói e Maricá”, explicou o coronel.

Guerra informou que essa diminuição nos casos de crimes violentos é uma vitória para a cidade de Niterói e para os policiais que atuam na região todos os dias. “Como a gente trabalha incansavelmente, mesmo nesse período de pandemia, em que não paramos nunca, mesmo infelizmente perdendo agentes no combate, é como se fosse um prêmio. Ficamos satisfeitos com o número, com tudo o que fizemos. Não é algo que se consegue em uma semana, mas isso se deve ao esforço de todos os agentes e também à gestão do coronel Rogério Figueiredo e a observação diária dele nos batalhões de buscar que a PM assista bem à população. Tudo é gratificante, quando vemos uma cidade como a melhor do Brasil nesse ranking de crimes. Não é simples. A sociedade de Niterói é exigente e tem uma questão financeira favorável que atrai criminosos, mas conseguimos ver essa evolução. É a primeira vez que isso ocorre em Niterói. Meus planos no 12° BPM são para que continuemos trabalhando firme para mantermos os nossos números reduzidos, tudo o que conquistamos e nossa credibilidade e satisfação na sociedade”, acrescentou ele, que nasceu em Niterói.

O coronel relembrou também que o trabalho feito pelos agentes do 12° BPM é difícil, mas já teve diversas conquistas, em conjunto com outros órgãos da PM (como o 4° CTA, Comandante Geral da PM, Estado Maior da Polícia Militar). A dominação das comunidades da Viradouro e da Igrejinha, onde antes ficavam diversos criminosos da facção Comando Vermelho, e hoje existem pessoas vivendo de forma segura no local, seguindo suas vidas e contando com o apoio dos agentes da PM. “Toda a população de Niterói foi impactada para melhor com a dominação da Comunidade da Viradouro por nós da PM”, disse ele.

Para finalizar, o coronel Guerra explicou que exerce a profissão que ama todos os dias e deixou uma bela mensagem de inspiração para os jovens que desejam seguir carreira na corporação. “Eu não tenho dificuldade nenhuma de ser policial militar, porque eu faço o que eu amo. Pode ser o problema que for, como já tive vários aqui, mas não consigo dizer que são problemas pesados, mas sim que existem e precisam ser resolvidos. E quem tem que resolver sou eu, pois não consigo levar um problema, carregar como um peso e ter dificuldade de resolver. Eu posso levar um tempo, mas vou resolver, vou trabalhar forte para isso. Essa parte toda de dificuldade como policial, para mim não tem, pois eu tenho prazer em ser policial. Faço tudo com muito amor. Não tenho história de ter aberto um olho de manhã acordando como policial e, em algum momento, falar que não quero trabalhar”, contou ele que já comandou mais dois outros batalhões operacionais (36° BPM (Santo Antônio de Pádua) e 29° BPM (Itaperuna)) como tenente-coronel.

O coronel continuou ressaltando que, enquanto estiver à frente do 12° BPM (Niterói), pretende continuar com essa integração e aproximação dos agentes com a população.

Denunciar é sempre importante

Segundo o coronel Rogério Figueiredo, para o jornal O Dia, entre 2017 e 2020, os roubos de veículos diminuíram em 76,8%, assim como os roubos de rua que caíram 63,2% e os homicídios dolosos que reduziram em 53,7%. O programa Bairro Seguro ajudou também a diminuir esses números em Itaipuaçu, em Maricá, onde o 12° BPM também atua.

O coronel pede que a sociedade continue engajada e faça denúncias sempre que necessário ao Disque-Denúncia pelos números (21) 2253-1177 ou (21) 99973-1177 e ainda pelas redes sociais do Disque Denúncia Niterói.

Niterói Presente

Em nota, a prefeitura de Niterói comentou sobre a continuidade do programa Niterói Presente e indicou os números que mostram o sucesso da iniciativa.

“O programa Niterói Presente, implantado em 2017, será renovado no mês de agosto e deverá ganhar um reforço que permitirá a ampliação das ações estratégicas dos agentes de campo. A Prefeitura de Niterói e o Governo do Estado estudam a possibilidade de implantação de bases fixas de apoio às equipes, começando pela Região Oceânica, local geograficamente mais amplo beneficiado pelo programa até o momento.

Desde a sua implantação, já foram mais de 2.700 ocorrências atendidas com sucesso, 667 foragidos da justiça foram retirados das ruas através de abordagens, 239 pessoas foram presas em flagrante por furto, e 231 por posse e uso de entorpecentes, entre outras ocorrências.

Os programas Niterói Presente e Proeis são resultado de convênios da Prefeitura de Niterói com o Governo do Estado, em que o município paga uma gratificação para policiais militares que aceitam trabalhar nas ruas de Niterói nos dias de folga. No caso do Niterói Presente, há um efetivo fixo de policiais, alguns já reformados, e agentes civis.

Os programas pagos pela Prefeitura colocam, em média, 448 homens por dia nas ruas patrulhando a cidade com um investimento municipal de cerca de R$ 137 milhões por ano. Atualmente o Niterói Presente atua nos bairros de Icaraí, São Francisco, Jurujuba, Charitas, Centro, Fonseca, Barreto, Santa Rosa, além da Região Oceânica. Com a atuação em turnos diferenciados em polígonos traçados estrategicamente, o programa permite que a Polícia Militar possa atuar em outras áreas e em ações de maior potencial ofensivo de combate à criminalidade.”

São Gonçalo e Maricá

Assim como Niterói, outros municípios da região estão usando o modelo de segurança similar. Em São Gonçalo, com o programa ‘São Gonçalo Presente’, até o final de junho, com três meses de funcionamento, a operação já havia cumprido 80 mandatos de prisão, entre capturas e foragidos, 55 prisões e apreensões, com total de 135 ocorrências. No decorrer das ações, os agentes recuperaram 24 celulares, 18 veículos, três armas de fogo e quatro simulacros de arma. Foram registradas 24 ocorrências por porte de drogas, 23 receptações e 10 veículos roubados foram recuperados.

Procurada pela reportagem, a prefeitura de São Gonçalo não enviou mais atualizações dos dados até o fechamento desta matéria.

Já em Maricá, o programa ‘Bairro Seguro’ começou no último dia 15, com foco em Itaipuaçu. São seis viaturas e 30 polícias militares disponíveis e realizando o patrulhamento 24h por dia.

“O programa Bairro Seguro ainda tem pouco mais de 20 dias de operação e será necessário aguardar mais algum tempo para que seja possível estabelecer um comparativo estatístico mais profundo e apurado. Como se trata de um policiamento de prevenção, não há dados concretos para mensurar a atuação, mas é possível fazer um comparativo com e sem o programa  em Itaipuaçu, local escolhido para receber a iniciativa. De acordo com o secretário de Ordem Pública e Gabinete Institucional, Julio Veras, a pasta já está recebendo retornos positivos quanto à atuação dos agentes em Itaipuaçu, com relatos de diminuição em casos de furto a residência, roubo a transeunte, furto de automóvel etc.”, informou a prefeitura de Maricá sobre o início do projeto.

 

Fonte: osaogoncalo

 

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