Praias lotadas indevidamente durante a pandemia apresentam um perigo maior. Um estudo da Fiocruz detectou o SARS-CoV-2 — agente da covid-19 — em 41,6% das amostras de esgoto bruto obtidas em estações de tratamento da rede de Niterói. Os resultados deixam preocupados moradores de outras regiões onde o esgoto é lançado no mar, como em Copacabana.
Laura Ayres disse que fez perguntas ao Instituto Estadual de Ambiente (INEA) quanto à segurança dos banhistas, mas não obteve resposta. Ela integra um grupo de quinze mulheres maiores de 55 anos que praticam natação no mar, na altura do posto 6, em Copacabana. Todas as senhoras estão apreensivas.
“Minha preocupação é com as “línguas negras” existentes na praia, especialmente após as chuvas. Embora o meio de transmissão ideal deste vírus seja outro, e o mar seja imenso, a verdade é que não se ouviu nada de oficial dos órgãos e as praias já foram liberadas”, disse.
Enquanto a cidade de Niterói possui 95% de saneamento de esgoto, os números no Rio de Janeiro são desconhecidos. Materiais sem tratamento adequado são constantemente lançados nas lagoas da cidade e até nas praias.
Bom evitar
O oceanógrafo David Zee, integrante da Câmara Comunitária da Barra da Tijuca, disse que os dados ainda não são conclusivos quanto à possibilidade de contaminação nos banhistas devido ao esgoto, mas faz um alerta:
“Ainda não existem estudos a respeito. Contudo, acho que sempre existe algum risco e a prudência sempre é salutar. Dentro do critério de prudência, é bom evitar banhos de mar em locais notoriamente suspeitos, principalmente na baixa-mar e em cenários de chuvas fortes”, disse.
Ações judiciais
O assunto é tema de ações judiciais do Projeto Baía Viva. De acordo com o coordenador Sérgio Ricardo, o movimento ajuizou uma ação nos ministérios públicos Federal e Estadual sobre o tema.
“Depois de nossa denúncia, a Fiocruz publicou estudo sobre o esgoto. Na semana passada, a Universidade Federal de Minas Gerais publicou novo relatório, cujo resultado é muito preocupante. Eles analisaram os valões e constataram 100% de covid-19”, disse.
Sérgio Ricardo critica a falta de atenção ao assunto. “É incrível como estou sozinho batendo nisso. Os hospitais e clínicas particulares não têm tratamento de esgoto adequado, muito menos os hospitais de campanha. Com isso, nossas famílias se infectam com o vírus. O esgoto cai no rio e vai parar nas lagoas e na baía”, criticou.