Um Ano Sem o ‘Senhor Maluquinho’
A gigantesca imagem do “Menino Maluquinho” ainda está lá, alegre e irreverente, no Centro do Município de Caratinga, em Minas Gerais. Porém, os seus milhares de admiradores lembraram com devoção e tristeza do primeiro ano de falecimento do criador dela, o cartunista, jornalista e escritor Ziraldo Alves Pinto, no último dia 06/04. Muitas homenagens à sua memória, como a caminhada “BH Maluquinha” ocorrida no mesmo dia, em Belo Horizonte, certamente foram feitas não só no seu estado natal como também em todo o País. Porém, uma das lembranças mais importantes com certeza é a guardada por seu amigo, discípulo e admirador, o cartunista, EDRA (abreviatura do nome do também caratinguense Elcio Danilo Russo Amorim).

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E foi exatamente no dia em que se completou o ano que EDRA abriu as portas do seu estúdio/ateliê no alto da Rua Geraldo Alves Pinto (nome dado em homenagem ao pai de Ziraldo), com a “Ziraldoteca”, a esse repórter para mostrar as dezenas de peças dele, com ele e alusivas ao artista. São desenhos e cartuns produzidos para diversos salões de cartunismo de Caratinga promovidos por EDRA, reportagens de diversos veículos de comunicação a respeito de um livro que ele próprio escreveu sobre Ziraldo, fotos deles em múltiplos eventos Brasil afora, momentos descontraídos e intimistas de Ziraldo. Enfim, um precioso e diversificado acervo artístico e cultural que o repórter estranhou ainda não estar aberto ao público.
Entre as muitas fotos do acervo, uma de EDRA, Ziraldo e o cantor Agnaldo Timóteo, outro caratinguense famoso a exemplo, ainda, da jornalista Miriam Leitão e do escritor e biógrafo Rui Castro. As fotos desses quatro famosos, aliás, aparecem no grande painel que ilustra a entrada da “Casa Ziraldo”, na Rua Governador Benedito Valadares (ex-governador de Minas Gerais que dá nome ao Município). Até a panela de alumínio que virou símbolo de irreverência na cabeça no “Menino Maluquinho” está lá, na “Ziraldoteca”, espetada. Há, ainda, cartuns das 19 edições do “Salão Internacional do Humor de Caratinga” (dos quais Ziraldo participou de quase todos, cuja 20ª edição está sendo preparada), troféus como o da “Turma do Pererê” e livros a exemplo de “Mineirinho Comequieto”.
São dois salões repletos de peças que EDRA diz só abrir à visitação de amigos, admiradores e imprensa. Tantas peças que o nosso espaço seria insuficiente para citá-las e enumerá-las individualmente. EDRA, por sinal, ocupa a cadeira que leva o nome de Ziraldo na Academia Caratinguense de Letras (ACL). E foi o responsável pela criação, com requerimento à Câmara Municipal, do “Dia Ziraldo”, que se comemora no Município na data do seu nascimento (24/10). A “Casa Ziraldo de Cultura”, que é administrada pela Prefeitura e encontra-se temporariamente fechada em função de questões administrativas devido à recente troca do governo municipal, existe há 15 anos (criada em 27/11/2010). Também criou a “Casa Ziraldo de Cultura.blogspot. com”.
Mas EDRA não é apenas um admirador, discípulo e colecionador de obras de Ziraldo. Ele possui uma vasta produção artística própria. É cartunista premiado em vários eventos nacionais e internacionais, e esteve inclusive no Irã. Produz desenhos para revistas e outras publicações. Entre suas obras destacam-se, além do livro “Ziraldo 85 — ao Mestre com Carinho”, que publicou em homenagem aos 85 anos de idade do cartunista, a organização do livro “90 Maluquinhos por Ziraldo – Histórias e Causos” com textos/depoimentos de personalidades. Entre eles estão escritores e cartunistas como: Luís Fernando Veríssimo, Luís Pimentel, Maurício de Sousa, Miguel Paiva, Aroeira, Zuenir Ventura e Ana Maria Machado. E ele está trabalhando num novo projeto literário sobre o qual pede sigilo.
Embora seguidor e inspirado em Ziraldo, ele tem o seu próprio traço e estilo que desenvolve com extrema maestria e facilidade. Além de cartunista é produtor cultural, design gráfico, jornalista e editor. Tem 36 livros publicados. Prova disso é o desenho relâmpago que fez na dedicatória do livro que ofertou a esse repórter. E estranhou, por sinal, que mais nenhum jornalista e/ou órgão de imprensa tenha comparecido para fazer alguma reportagem lembrando a passagem do primeiro ano de falecimento de Ziraldo na cidade.
EDRA lembra que no dia do falecimento do ídolo e amigo ele e outros amigos se preparavam para fazer um churrasco. O que naturalmente foi cancelado em virtude da triste notícia. “Alguns ainda ligaram para mim a fim de confirmar se a notícia era verdadeira mesmo. O que infelizmente era”, ressalta o cartunista. O que faz lembrar uma frase que Ziraldo costumava dizer: “se eu morrer, quero morrer jornalista”. Não morreu “jornalista”, nem “cartunista”, tampouco “escritor”, pois ele e suas obras são mesmo eternas.
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