‘Maior quebra-cabeça 3D do mundo’: o desafio de remontar um navio do século 15

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Com quase 2,5 mil peças, 30 metros de comprimento e pesando 25 toneladas, ele está sendo chamado de “o maior quebra-cabeça 3D do mundo”.

Depois de 20 anos de trabalhosa restauração, os arqueólogos podem agora começar a remontar o convés de um navio do século 15 encontrado às margens de um rio no sul do País de Gales.

Especialistas afirmam que o navio medieval é uma descoberta tão importante quanto a do navio de guerra Mary Rose, encontrado no estreito de Solent, no sul da Inglaterra — e ainda é um século mais antigo.

“O navio tem interesse e significado global”, segundo o historiador e apresentador de TV britânico Dan Snow.

Especialistas vêm trabalhando no projeto de conservação do Navio de Newport desde a descoberta de quase um terço da antiga embarcação, usada para o comércio de vinho, em 2002. Com ele, havia 1 mil artefatos medievais nas margens do rio Usk, perto da cidade galesa de Newport.

Os restauradores conseguiram um feito importante em 19 de janeiro. Todo o madeiramento, preservado por mais de 550 anos, está seco e restaurado, pronto para ser exibido.

A equipe do projeto multimilionário agora planeja o que será a maior tentativa já realizada de remontar um navio arqueológico.

“Temos um navio enorme e desmontado que precisamos remontar e não temos as instruções”, afirma o curador do projeto, Toby Jones. “Haverá muito trabalho de encaixe, verificação, desmontagem e novos encaixes.”

“Existem navios arqueológicos em exibição em todo o mundo, mas nenhum do século 15. É isso que o torna tão especial e significativo. Temos um navio medieval que é totalmente único”, explica Jones.

O navio militar Mary Rose navegava sob a bandeira do rei Henrique 8°, da dinastia Tudor. Hoje, talvez seja o navio mais famoso do século 16 em exibição. Já o navio sueco Vasa é o seu equivalente do século 17.

Agora, os historiadores afirmam que o Navio de Newport será o único objeto marítimo do século 15 em exibição em todo o mundo.

“O Mary Rose sempre foi o mais importante desde que foi encontrado e levantado em 1982, como lembram muitas pessoas. Agora, o Navio de Newport atingiu o mesmo nível”, afirma o chefe de conservação do Mary Rose, David Pearson.

Para Pearson, “ele pode fornecer muitas informações sobre como era a vida em meados dos anos 1400 e podemos aprender sobre a construção de navios no final da era medieval e com os itens encontrados a bordo”.

Vigas do Navio de Newport sendo removidas da máquina de secagem por congelamento no Museu Mary Rose de Portsmouth, na Inglaterra — Foto: Divulgação

Cerca de 8 milhões de libras (cerca de R$ 50 milhões) já foram gastos para preservar e restaurar as vigas, incluindo a secagem da madeira por congelamento no Museu Mary Rose, em Portsmouth, no litoral sul da Inglaterra.

Os historiadores agora esperam remontar os destroços e colocá-los em exposição dentro dos próximos cinco anos.

‘É como uma cápsula do tempo’
“O Navio de Newport nos conta muitas coisas que o Mary Rose não consegue”, segundo Dan Snow.

“O Mary Rose foi um navio da era Tudor e parece um dos primeiros navios modernos. Já o Navio de Newport é uma embarcação comercial que operava no início de uma revolução na construção de navios na Europa”, segundo Snow.

“Era uma época em que os que moravam ao longo do litoral do Atlântico — os galeses, pessoas da Bretanha, do norte da Espanha, de Portugal, de Devon e da Cornualha [na Inglaterra] — estavam começando a sair ao mar em navios maiores e mais fortes, que permitiriam que eles, um dia, cruzassem o Atlântico e o Oceano Índico”, prossegue o historiador.

“Por isso, o Navio de Newport simboliza o nascimento dessa era de exploração europeia e chega em um momento muito importante da história marítima — apenas uma geração antes que Cristóvão Colombo atravessasse o Atlântico.”

“É o nascimento de uma era que mudou o mundo de todas as formas imagináveis”, explica Snow. “As pessoas falam em globalização e comércio internacional como se fosse algo recente, mas este navio mostra que, muito antes, no nosso passado medieval, tínhamos fortes ligações com a Europa e estávamos comercializando e bebendo vinhos franceses.”

Para Snow, “o Navio de Newport é um dos destroços mais importantes e interessantes encontrados em águas britânicas em uma geração. É um achado verdadeiramente internacional; a madeira veio do norte da Espanha e o vinho, da França.”

“É como uma cápsula do tempo, um pedaço do século 15 oferecido para nós, aqui no século 21. É algo que terá significado e interesse global. Turistas virão de todo o mundo, pois está muito bem preservado”, conclui ele.

Por que em Newport?
Acredita-se que o navio de tamanho médio, com 30 metros de comprimento e pesando 400 toneladas, estivesse sendo reabastecido após uma viagem da Península Ibérica até a vizinha Bristol, na Inglaterra.

O reabastecimento estava ocorrendo em um cais do rio Usk em 1468 ou 1469, quando o ancoradouro quebrou.

Grande parte das tábuas de carvalho e ferro foi retirada antes que a maré escondesse os restos da embarcação e um terço do navio ficou preservado no seu túmulo de lama, permanecendo intocado por mais de cinco séculos.

Avaliações do impacto econômico preveem que o navio preservado pode atrair até 150 mil visitantes por ano. Com isso, o navio se tornaria uma das atrações turísticas mais populares do País de Gales. Ele representaria, para a economia do sul de Gales, um aumento de 7 milhões de libras (cerca de R$ 44 milhões) por ano.

Os arqueólogos planejam permitir ao público assistir à remontagem dos restos quando for destinada uma construção suficientemente grande para receber o navio.

“Você não pode construir isso e depois movê-lo”, explica Jones. “Você só pode construí-lo na sua posição final, mas, quando estiver pronto, ele ficará estável e com potencial para ficar em exibição permanente.”

O conselho de Newport, que liderou o trabalho de conservação, irá começar em breve um estudo de viabilidade para decidir qual o melhor local para abrigar o navio. Uma loja de departamentos vazia é uma possibilidade.

“Estamos dispostos a encontrar um lar que maximize o acesso a todas as pessoas, pois queremos compartilhar este grande tesouro”, afirma a líder do conselho de Newport, Jane Mudd. “Os possíveis benefícios econômicos também são importantes — mais de 1 mil pessoas comparecem às discussões sobre o Navio de Newport,

Crédito: g1.globo.com

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