A Polícia Civil de Mato Grosso descobriu ser uma farsa um suposto crime de tortura ocorrido na semana passada, na cidade de Confresa. Investigadores apuraram que o denunciante do crime se automutilou numa tentativa de comover uma ex-companheira a reatar um relacionamento.
O delegado Victor Donizete de Oliveira Pereira afirma que constantes contradições em depoimentos do homem fizeram os agentes desconfiarem da versão dele.
Ele primeiro narrou que teria sido capturado por quatro homens e levado para uma região de mata. Depois, disse que teria se envolvido com uma mulher casada e que o marido dela teria ido atrás dele, torturado e cortado orelhas dele sozinho. Depois deu outras versões mentirosas. Testemunhas próximas a ele disseram que o homem costumava mentir muito. Não tinha credibilidade nenhuma. Chegamos à conclusão que ele estava mentindo porque estava com vergonha de assumir o que fez — afirma o delegado.
Ao registrar a ocorrência, a suposta vítima afirmou à polícia que, no dia 29 de maio, por volta de 19h30, teria sido capturada por quatro pessoas encapuzadas, que a teriam colocado num carro e levado para uma região de mata. No local, os agressores teriam cortado as orelhas do homem durante uma sessão de tortura e, em seguida, o teriam liberado no centro do município de Confresa.
A investigação foi instaurada. Em meio às diligências, os agentes descobriram que o denunciante estava passando por problemas conjugais e havia cortado as próprias orelhas. Isso, segundo a polícia, para causar “sentimento de pena e tentar reatar o relacionamento” com a ex.
Durante as investigações, por exemplo, o homem mentiu aos investigadores que estavam numa cidade a 300 km de Confresa, mas foi visto na rua pelos agentes logo em seguida. Por causa da falsa comunicação do crime, a polícia local chegou a investigar um suspeito apontado pela suposta vítima.
Houve o constrangimento dessa pessoa em razão da denúncia dele. Era uma pessoa aleatória, não tinha relação nenhuma com a vítima. Ele citou o carro dessa pessoa e, inicialmente, as informações batiam. Mas depois verificamos que não tinha nada a ver, o carro era até de outra cor. Eles não se conheciam nem de vista — conta Victor Donizete de Oliveira Pereira.
Buscas na internet: ‘como cortar orelha’
No mesmo dia em que disse ter sido sequestrado e torturado, o homem fez pesquisas na internet sobre “como cortar orelha de cachorro”, “como cortar orelha de um homem” e “quais os perigos”. À noite, ele se automutilou. Dois dias depois, procurou a polícia para relatar a suposta tortura.
Diante da gravidade do fato, a delegacia de Confresa disse ter empregado “vários policiais” na investigação. No entanto, ao descobrir que tudo não passava de uma farsa, a Polícia Civil concluiu o inquérito, nesta terça-feira (06/06). O comunicante da falsa tortura vai responder pelo crime de denunciação caluniosa, cuja pena pode chegar a até oito anos de prisão.
— Devido à gravidade da denúncia, de tortura, a gente empenhou bastantes esforços para resolver o caso, acreditando que ele era vítima. A gente largou outras coisas importantes para resolver o caso. Isso causou bastante atraso em outras investigações e não pode ficar impune — diz o delegado Victor Donizete de Oliveira Pereira.
Crédito: oglobo.globo.com