A 9ª Festa Literária Internacional de Maricá (Flim) finalizou na noite de domingo (10) com show de Geraldo Azevedo, além da última roda de conversa sobre “Literatura nas páginas e nas telas”, com a participação de Estevão Ribeiro, MV Bill, Conceição Evaristo, André Rangel e mediação de Sonia Rodrigues. O secretário de Educação de Maricá, Marcio Jardim, anunciou que a atriz Fernanda Montenegro será a homenageada da próxima edição, em 2025.
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A escritora e roteirista Sonia Rodrigues perguntou aos convidados como suas histórias se entrelaçam com a literatura nas páginas e telas de cinema. A conceituada escritora de literatura negra, Conceição Evaristo, abriu o Papo Flim, enaltecendo a relação entre adultos e jovens, citando as culturas africanas onde os mais antigos têm experiências para compartilhar e a juventude é respeitada ao potencializar o mais velho. Conceição lembrou que sua história iniciou em movimentos negros.
“Se hoje tenho livros publicados em outros países é porque os meus pares me enxergaram. O meu nascimento na literatura é a partir de uma coletividade de mulher negra na sociedade brasileira”, ressaltou.
Um dos momentos mais emocionantes da roda de conversa foi quando uma menina de 10 anos perguntou sobre lançamento de outro livro da escritora e pediu um abraço, sendo muito aplaudida pela plateia que lotou a arena. Muito emocionada, a criança agradeceu em público à professora de História que apresentou a literatura de Conceição Evaristo.
“A Lorena nos faz acreditar que o Brasil tem jeito. Olha a importância dessa professora de incentivar a leitura”, destacou a escritora, que recebeu a menina no palco e respondeu à pergunta da pequena leitora com ela em seu colo. “Pretendo continuar escrevendo e tem um livro meu que é para criança chamado ‘O pássaro que beijava as estrelas’ que ainda será publicado e acho que você vai gostar. Estou super feliz. Ganhei a noite”, completou.
MV Bill e Estevão Ribeiro
O escritor, rapper e roteirista MV Bill ressaltou a fala de Conceição Evaristo sobre a coletividade, onde existe muita vaidade no meio musical e de favelas em que as pessoas querem ter o protagonismo de uma luta que é coletiva.
“Nós, negros, nos cobramos muito. A gente não tem a capacidade de um aplaudir o outro. Isso se reflete na hora de votar”, disse o rapper, citando uma história que aconteceu na Cidade de Deus, comunidade da Zona Oeste do Rio. “Fui pedir votos para um candidato negro da comunidade e que sente na pele os problemas vivenciados por todos nós. As pessoas se negavam a votar porque esse candidato iria ficar rico. Ai falei que os candidatos de fora podem enriquecer, mas quem é da favela não pode? Essa relação está errada”, pontuou.
Bill contou que iniciou a carreira fazendo show de rapper em bares e restaurantes do Rio de Janeiro e quando resolveu ampliar o conhecimento buscou esse aprendizado na literatura. A partir daí começou a escrever roteiros para o cinema e fez muitas críticas à televisão, em especial às novelas da TV Globo.
“A novela sempre esteve nos lares brasileiros e não havia personagens parecidos com a gente. Isso passou a fazer parte do meu imaginário. Fiz críticas duras à ‘Malhação’ por nunca falar das juventudes. Somente um tipo de juventude era retratado na televisão. Por conta dessas críticas, fui convidado em 2010 para fazer o papel de um professor de Matemática, que tinha família, casa e carro. Hoje faço um motorista de ônibus na novela das 7”, contou o rapper. “Essa foi uma forma de mostrar que a gente faz parte deste país e não podemos ser tratados de forma minoritária. Hoje tem três protagonistas negros nas novelas. Isso é legal, mas será mais importante quando isso for algo natural”, acrescentou.
Estevão Ribeiro é autor de mais de 23 títulos, entre histórias em quadrinhos, romances e livros infantis, que somam mais de 200 mil livros vendidos. Na Flim, ele apresentou uma série de desenho chamada “Vovó Tatá” com 20 capítulos, que ainda será lançada. A sinopse é de uma família negra, onde o pai é historiador e mãe uma médica que sempre deixam os filhos com a vovó. As crianças participam de muitas aventuras onde conhecem os personagens mágicos no Brinca Mundo.
“Sou o roteirista chefe e os demais profissionais, roteiristas e dubladores, são pessoas negras. É um conteúdo pensado para a família brasileira, mas de um jeito que a gente geralmente não vê”, afirmou.
André Rangel, presidente da Ruasia, iniciativa cultural de Maricá que une música, poesia, dança e batalha de rima, destacou que o papel do grupo é educar e incluir, promovendo atividades em comunidades e em praças públicas. Ele também citou o programa Passaporte Universitário como uma ação de inclusão dos menos favorecidos, no qual também tem a oportunidade de estudar em uma universidade.
“Faço curso de Direito e esse projeto popular está mudando a vida de muitas pessoas, com ensino superior em faculdades particulares custeadas pelo governo municipal. Essa iniciativa foi construída com os movimentos da juventude de Maricá”, disse Rangel.
Bailão nordestino
No palco principal da Flim, o pernambucano Geraldo Azevedo encerrou os trabalhos da 9ª edição do evento com um show recheado de seus grandes sucessos. Com quase 80 anos de idade, que completará em janeiro de 2025, o cantor e compositor transformou o Parque Nanci num bailão nordestino ao som de clássicos, como “Dona da Minha Cabeça”, “Moça Bonita” e “Táxi Lunar”, além de momentos mais poéticos como “Dia Branco” e “Bicho de Sete Cabeças”. Antes da apresentação, uma grande queima de fogos marcou o fechamento do evento.
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