Famílias de atletas mortos em incêndio rejeitam proposta do Flamengo

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Terminou sem acordo a sessão de mediação realizada nesta quinta-feira (21), no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, entre o Flamengo e os parentes das vítimas do incêndio no Ninho do Urubu. Os parentes dos jogadores saíram da reunião revoltados com a proposta feita pelo clube. Sem precisar números, tanto parentes quanto advogados disseram que a proposta foi pouco superior aos R$ 400 mil e um salário mínimo mensal oferecidos pelo clube na última reunião.

“O Flamengo passou para toda a imprensa que estava dando todo apoio aos pais. Eu até hoje não recebi um telefonema do Flamengo. Faltaram com o respeito. Dinheiro nenhum paga a vida do meu filho. Nós não viemos aqui atrás disso. Nós viemos atrás de respeito, coisa que eles não tiveram com os nossos filhos”, disse Uedison Cândido, pai do jogador Pablo.

A mãe do jogador Arthur, Marília de Barros, desabafou com os jornalistas e mostrou a tatuagem que fez no braço esquerdo com a figura do filho. “Foi uma covardia. Eu me sinto abandonada pelo Flamengo. A decepção foi muito grande. Os nossos filhos morreram juntos. Então, devemos lutar juntos. O que fizeram com a gente não tem preço, não vão trazer os nossos filhos de volta, mas só que a gente queria a nossa dignidade”.

O pai do goleiro Christian Esmério também saiu da reunião frustrado e revoltado. “A atitude do Flamengo foi uma falta de respeito com os pais. Eles não estão dando apoio, estão brincando com a vida de nossos filhos. É uma tortura o que o Flamengo está fazendo conosco, por não definir nada. Viemos aqui de bobos, palhaços. Não nos sentimos acolhidos por ninguém. Eles não têm resposta para nós. Os nossos filhos não têm preço”, disse Cristiano Esmério. Ele classificou de “surreal” o valor de R$ 400 mil oferecido inicialmente pelo clube às famílias.

O goleiro Christian chegou a ser convocado para a seleção brasileira de futebol das categorias de base.

A defensora pública Cíntia Guedes disse que não foi possível haver acordo e que o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, chegou a ser consultado, por telefone, mas não aprovou a proposta das famílias. “Pedimos que os advogados [do Flamengo] levassem a questão para o presidente. Eles saíram, conversaram com o presidente, mas não foi possível nenhum acordo. As famílias decidiram, então, encerrar o processo de negociação.”

De acordo com a defensora pública, isso não impede que cada um venha, individualmente, a propor uma ação. “Neste momento, a negociação foi encerrada. Não há mais mediação. É claro que há chance de começar uma nova negociação. A negociação, neste momento, não existe”, enfatizou Cíntia. Segundo a defensora, o Flamengo ofereceu menos da metade do que queriam as famílias.

Os representantes do Flamengo, incluindo o vice-presidente jurídico, Rodrigo Dunshee de Abranches, deixaram o nono andar do Tribunal de Justiça sem se pronunciar. Dunshee de Abrantes também abandonou a entrevista coletiva após a primeira reunião da força-tarefa criada para negociar as indenizações às famílias dos jogadores. Procurado, o clube ainda não se manifestou.

No incêndio, ocorrido no dia 8 deste mês em um dos alojamentos do Centro de Treinamento George Helal, popularmente conhecido como Ninho do Urubu, morreram 10 jogadores da categoria de base do Flamengo. Três sobreviveram.

Defensoria Pública discorda de valores e emite nota 

Algumas horas mais tarde, a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro emitiu uma nota oficial explicando que representou as famílias das vítimas e que a proposta de indenização do Flamengo está aquém do minimamente razoável.   Segue o texto abaixo na íntegra.

NOTA OFICIAL DA DEFENSORIA PÚBLICA DO RIO DE JANEIRO:

A Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro informa que representou as famílias de quatro dos 10 jovens mortos no incêndio ocorrido no Ninho do Urubu, durante a audiência de mediação com o Clube de Regatas do Flamengo, realizada na tarde desta quinta-feira (21), no Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ).

Assim como os familiares das demais vítimas, as pessoas representadas pela DPRJ estavam dispostas ao diálogo. Contudo, a proposta de indenização apresentada pelo Flamengo foi novamente considerada aquém do minimamente razoável diante da enorme perda dos envolvidos. Por decisão de todas as famílias, as tratativas para a mediação foram encerradas ao fim da tarde desta quinta.

A Defensoria Pública informa que segue à disposição das famílias para orientá-las sobre as medidas judiciais possíveis. Além disso, aguarda a decisão quanto ao pedido de bloqueio de R$ 57,5 milhões das contas do Clube de Regatas do Flamengo e a imediata interdição do Ninho do Urubu, requeridos em medida cautelar protocolada em conjunto com o Ministério Público do Estado, nessa quarta-feira (20), no Juizado Adjunto do Torcedor e dos Grandes Eventos.

Flamengo consegue prazo e evita interdição do Ninho do Urubu

Após deixar a reunião de pré-mediação com as famílias das vítimas, o vice-jurídico do Flamengo, Rodrigo Dunshee, seguiu para apresentar documentos e despachar com o juiz sobre pedido de interdição imediata do Ninho do Urubu e boqueio de bens do clube. Conseguiu que o juiz Bruno Monteiro Ruliére concedesse prazo de cinco dias úteis para o clube se defender.

Nesse período, o Flamengo tentará conseguir os documentos necessários para o funcionamento do CT, em especial um certificado do Corpo de Bombeiros, além do alvará de funcionamento emitido pela Secretaria Municipal de Fazenda e do certificado de Habite-se emitido pela Secretaria Municipal de Urbanismo.

Na quarta-feira (20), Ministério Público e a Defensoria Pública entraram com uma ação contra o Flamengo. No pedido o MP pediu o fechamento do Ninho do Urubu e o bloqueio de R$ 57 milhões das contas do clube. Esse valor seria para o pagamento de uma eventual indenização imposta pela Justiça

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