Light rebate agentes e diz que não registrou falta de energia em presídio onde ocorreu fuga

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Uma grade serrada e uma escada feita com lençóis e madeira foram marcas deixadas por três presos de alta periculosidade que escaparam no fim de semana do Complexo de Gericinó, que conta com sofisticado sistema de câmeras de monitoramento. Jean Carlos Nascimento dos Santos, o Jean do Dezoito, Marcelo de Almeida Farias Sterque, o Marcelinho da Merindiba, e Lucas Apostólico da Conceição, o Índio do Jardim Novo, escaparam sem serem notados pelos agentes da Penitenciária Lemos Brito (Bangu VI), onde há cerca de 700 presos. Eles teriam pulado dois muros, mas as guaritas estavam vazias. Cercada de informações desencontradas, a fuga expôs a fragilidade do sistema prisional. A ausência dos três presos só foi notada na manhã de domingo, durante a contagem de internos feita na passagem de turno. No período em que os três condenados teriam saído de Bangu, deveria haver sete policiais penais de plantão, mas dois faltaram ao trabalho. Naquela noite, portanto, eram 140 detentos para cada agente.

Se não havia agentes suficientes para vigiar os presos, também não havia câmeras. Policiais penais da Lemos Brito alegaram, em depoimento, que os equipamentos apresentaram problemas depois da falta de luz provocada por uma forte chuva. O apagão teria se estendido das 15h de sábado até a manhã de domingo. Apesar das alegações, a Light informou que não registrou corte de energia no Complexo de Gericinó no último sábado. A companhia elétrica afirma que a interrupção do fornecimento ocorreu no domingo, das 15h57 às 23h, “por conta da queda de galhos de árvore sobre a rede elétrica em função do temporal”.

Em entrevista ao Bom dia Rio, da TV Globo, a secretária estadual de Administração Penitenciária, Maria Rosa Lo Duca Nebel, afirmou que a conduta dos policiais penais será apurada. Os cinco que estavam de plantão foram transferidos para a Coordenação de Gericinó.

— Neste horário da fuga, todos os presos estavam trancados, os postos estratégicos deveriam estar cobertos e dava para estarem cobertos. Nós vamos apurar cada conduta desses policiais penais, para que cada um responda onde estava ou não estava e por que não estava — afirmou, reconhecendo em seguida que há déficit de funcionários: — Eu sou policial penal e sei o quanto a gente precisa de mais pessoal.

Em 2019, o governo estadual investiu R$ 28 milhões em 1.800 câmeras de última geração para todos os 51 presídios do estado — em Bangu ficam 27 unidades, que concentram 80% dos mais de 50 mil presos. Tanta tecnologia conta um gerador na própria Lemos Brito para eventuais corte de energia. Mas o equipamento estaria com problemas e não foi acionado.

Gericinó sem telefone

A sucessão de falhas não para. Diante do apagão, mesmo se quisessem, os funcionários do presídio não poderiam pedir para acelerar o reparo porque estão sem telefone fixo, assim como todo o Complexo de Gericinó. De acordo com a Seap, o serviço foi interrompido por “problemas na rede” e o conserto está previsto para ocorrer hoje. Como o sinal de celular é bloqueado nas penitenciárias, a fuga foi informada à secretária pelo radiocomunicador usado por ela e outros servidores. A Seap informou que o rádio é “o meio mais ágil de comunicação com a administração das unidades prisionais”.

Mais um ponto de interrogação é por que os cachorros que costumam ser soltos na parte externa do presídio, justamente para dar sinal nesse tipo de situação, estavam presos no canil no fim de semana. Outra pergunta que a Seap ainda não respondeu é como os presos conseguiram montar uma escada com lençóis e pedaços de madeira. Ainda não ficou esclarecido como os detentos tiveram acesso ao material usado na confecção dos degraus.

Nos fundos da Lemos Brito há um aterro sanitário, por onde os criminosos teriam escapado. Diversas buscas foram feitas, inclusive houve uma operação na Vila Kennedy, em Bangu, mas sem resultado. Na cela que era ocupada pelos três presos, os policiais penais acharam um telefone celular que está sendo periciado.

Jean do Dezoito trabalhava como “faxina” na área de visitação do presídio. Os detentos que ocupam essa função costumam ter mais liberdade para circular pela cadeia. Ele já foi condenado a 66 anos em nove processos por roubo, tráfico de drogas, associação para o tráfico e associação criminosa. Preso desde 2017, ele é acusado de ter ordenado a invasão ao Fórum de Bangu, na Zona Oeste, em 2013. Houve um confronto, e um PM e um menino de 8 anos foram mortos. O objetivo era resgatar um comparsa. Jean também foi indiciado pela morte de seu advogado em 2015. O fugitivo integrava a quadrilha do Morro do Dezoito, em Água Santa, onde há uma disputa entre traficantes e milicianos.

Marcelo Sterque foi condenado a 17 anos por tráfico e roubo. Ele é acusado ainda de ter tentado matar uma mulher enquanto estava preso, contando com a ajuda de policiais penais para deixar a unidade. Já Lucas da Conceição cumpria pena de 21 anos por roubos.

Sindicância interna

Em nota, a Seap informou que todas as informações disponíveis até o momento a respeito da fuga estão num processo de sindicância. Além disso, há uma investigação em andamento por parte da Polícia Civil.

A fuga mais recente divulgada aconteceu em outubro do ano passado no Presídio Evaristo de Moraes, conhecido como Galpão da Quinta, em São Cristóvão, na Zona Norte. Júlio César Corrêa de Alcântara, de 45 anos, cuidava da faxina. Ele foi recapturado há cerca de dois meses e transferido para o presídio de segurança máxima Bangu 1, como punição.

Apesar da sucessão de falhas no episódio do fim de semana, a última fuga em massa de Gericinó foi a de 27 detentos, que escaparam pelo esgoto do Instituto Penal Vicente Piragibe, em 2013.

A Lemos Brito é a única penitenciária que abriga presos da facção Amigos dos Amigos (ADA), a menor do estado. Na unidade, há detentos dos regimes fechado e semiaberto, além de provisórios.

Crédito: extra.globo.com

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