O jovem David Nobio da Silva, de 22 anos, foi baleado no último sábado (26) no Jardim Bom Retiro, em São Gonçalo, durante uma operação do 7º Batalhão da Polícia Militar de São Gonçalo. O estudante de Odontologia da Universidade Federal Fluminense (UFF) havia saído de casa para ir a uma festa e não deu mais notícias. Dias depois, sua família foi informada de que David estava internado sob custódia em estado grave no Hospital Estadual Alberto Torres (Heat), no Colubandê, também em São Gonçalo, acusado de tráfico de drogas, porte ilegal de arma e homicídio. Agora, a família do rapaz tenta provar sua inocência.
O caso ocorreu após o recebimento de uma informação, através do Disque Denúncia, de que homens armados com fuzis estariam aterrorizando moradores na localidade. Policiais foram até a comunidade para verificar a ocorrência e entraram em confronto com criminosos. David acabou sendo atingido pelos disparos e foi levado para o hospital junto com outro jovem baleado, Ramon de Souza Gregório, de 22 anos, cujo estado de saúde é estável. Na operação, a PM apreendeu uma pistola calibre 380, dois rádios transmissores e grande quantidade de maconha e cocaína.
“Meu filho é inocente e foi acusado de várias coisas que ele não fez. Ele pediu para ir a casa de um colega, para uma festinha da faculdade, e eu não iria proibir porque ele já é um homem de 22 anos e eu confio no filho que tenho. Eu tenho certeza que ele nunca iria se envolver com isso. Tanto é que saiu com as roupas dele, usou meu perfume, saiu todo arrumadinho e com seus documentos”, conta Jociane Leite, mãe de David. Segundo ela, o estudante carregou consigo também a sua carteirinha da universidade.
Apesar de ter ido parar em uma comunidade de São Gonçalo, o jovem teria sido visto dentro de um ônibus em direção ao Rio de Janeiro. “Uma coisa tenho certeza, que ele não tem uma arma e que jamais iria trocar tiros com a polícia”, garante a mãe do rapaz, que mora com sua família no bairro gonçalense de Marambaia. Ele é formado em técnico de enfermagem e está no 3º período do curso de Odontologia na universidade que fica em Niterói, e estudava para tentar conseguir entrar no curso de Medicina, seu sonho.
“Meu filho vira a noite estudando”, afirma Jociane. “O estudo está ficando mais puxado, os materiais não são baratos e não tem nada fácil. Mas ele é muito inteligente, tirou 970 na redação do Enem no ano passado e esse ano também tirou uma nota alta”, disse. Nas redes sociais, familiares, amigos e outros estudantes da UFF se mobilizam para conseguir provar a inocência de David. A família tem recebido apoio jurídico, inclusive do Instituto de Defensores de Direitos Humanos.
O diretório acadêmico do curso de Odontologia, o Diretório Acadêmico Agripino Ether (DAAE), utilizou as rede sociais para expressar a opinião dos universitários quanto ao caso.
https://www.facebook.com/daaeuff/posts/1727298927369579
Em resposta, a PM relatou o boletim de ocorrência registrado na 74ª DP, de Alcântara, onde as acusações contra David Nobio da Silva estão registradas.
“Segundo o comando do 7ºBPM (São Gonçalo), na tarde de sábado (26/01), o batalhão foi acionado para verificar roubos em andamento na BR-101, altura do bairro Bom Retiro, em São Gonçalo. Policiais militares foram deslocados para a rodovia e, com a chegada das equipes, os criminosos fugiram para a comunidade do Brejal. No interior do local citado, eles foram recebidos a tiros ao tentarem abordar um grupo e houve confronto. Após cessarem os disparos, foi feito vasculhamento e dois feridos foram encontrados. Houve apreensão de uma pistola calibre 380 com numeração suprimida, dois rádios comunicadores, 186 pinos de cocaína e 34 trouxinhas de maconha. Os feridos foram socorridos ao Hospital Estadual Alberto Torres”.
“Há hoje, na universidade e também no curso que ele estudava, o PH, uma grande mobilização em solidariedade ao David por haver uma incompatibilidade entre o que ele foi acusado e a vida que ele tinha. Ele é estudante de Odontologia e ao mesmo período fazia cursinho para ingressar em Medicina. Além disso, era bolsista e dava aulas na faculdade”, explica Thiago Melo, advogado do Instituto de Defensores de Direitos Humanos, que garante que o estudante não possui envolvimento com atividades ilícitas.
“As circunstâncias da vida dele dão conta disso. Estamos buscando as informações do processo que ele responde, tentando garantir a visita da mãe ao filho, que perdeu parte do baço e do rim e que, pelo que nos falaram, está sem condições de falar e se pronunciar”, concluiu.