O “puxadinho” que estava sendo construído nos fundos da Cadeia Pública Jorge Santana, no Complexo de Gericinó, na Zona Oeste do Rio, foi derrubado na tarde da última quinta-feira (19). No local, seria construído um parlatório onde os presos teriam visitas íntimas. A obra fez parte do diálogo captado por meio de escuta ambiental entre o ex-secretário de Administração Penitenciária, Raphael Montenegro, e um detento do Presídio Federal de Catanduvas, na visita que fez nos dias 27 e 28 de maio deste ano.
Montenegro foi preso na última terça-feira (17), acusado pela Polícia Federal e o Ministério Público Federal (MPF) de propor uma trégua aos presos dentro e fora da cadeira, para obter vantagens políticas e financeiras. Em troca, há suspeita de que ele ofereceria benefícios como a construção do parlatório, com a previsão de 10 quartos, e o oferecimento de uma comida de qualidade aos acautelados, assim, conquistando-lhes a confiança para supostos acordos.
No diálogo entre o então secretário e o preso Cláudio José de Souza Fontarigo, o Claudinho da Mineira, Montenegro fala que a administração dele montou o parlatório, contrariando as secretaria de Saúde do Estado, que sugeria menos contato físico entre os apenados e suas mulheres, por causa da pandemia de Covid-19.
O ex-secretário diz: “cara, a gente ter a condição de montar o parlatório … o cara que tá lá um ano, um ano e meio sem ter contato íntimo com a mulher, voltou a ter contato íntimo com a mulher, pô ( . .) E a gente bancou isso no peito, contra a secretaria de saúde, contra a secretaria de não sei o que, contra a vontade do governador, por que? Vocês ganham espaço na medida que a gente consegue, todo mundo junto, trabalhar em favor da segurança” (sic).
O relatório do MPF, que enfatiza a necessidade das prisões de Montenegro e dos dois ex-subsecretários da pasta — Wellington Nunes da Silva, da gestão operacional, e Sandro Farias Gimenes, superintendente — mostra, em outros trechos, a troca de benefícios para os presos por vantagens. Em outro momento da conversa com Fontarigo, o então secretário se compromete a mantê-lo numa unidade conhecida como B7 (Bangu 7). É lá que ficam as lideranças da principal facção criminosa do estado, formando a “Comissão dos 13”. De acordo com o documento, é oferecido ao detento um espaço especial “para que possa ter melhor facilidade em organizar suas atividades ilícitas de dentro do sistema prisional, além de retomar sua condição hierárquica dentro da ORCRIM (organização criminosa), como uma de suas lideranças”.
Crédito: Jornal Extra