Niterói e São Gonçalo registram quase 2 mil roubos de carga em 2018

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Dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) mostram que o número de roubos de cargas em Niterói e São Gonçalo aumentou em 2018. As duas cidades registraram um crescimento de 23,3% em relação a 2017, subindo de 1.580 ocorrências para 1.948, o que dá uma média de mais de cinco casos por dia, o correspondente a 21% dos registros de todo o estado.

Levantamento da Firjan Leste Fluminense aponta que, somente no ano passado, os roubos de carga na região causaram um prejuízo de aproximadamente R$ 149,3 milhões. Além disso, o diretor da entidade, Luiz Césio Caetano, ressalta que o alto índice de violência na região também dificulta a retenção e atração de investimentos:

“O estado precisa criar uma política de segurança especial para a nossa região. Enquanto esse tipo de crime disparou em Niterói e São Gonçalo, caiu consideravelmente na capital”.

Dados do ISP corroboram a declaração de Caetano: entre 2017 e 2018, a prática desses roubos caiu 13,4% no estado, interrompendo uma crescente que já durava cinco anos. Na cidade do Rio, a redução foi ainda maior no período, caindo de 5.371 para 4.018 casos, um decréscimo de 25%.

Levando em consideração apenas Niterói, o aumento do número de roubos de carga foi de 167,7%: 241 contra 90 casos no comparativo entre 2018 e 2017. Esse é o maior índice já registrado na história da cidade, que, desde 2015, acompanha uma escalada nas anotações de crimes dessa natureza. A região com a maior incidência é a Zona Norte, área da 78ª DP (Fonseca), com 152 casos, 63% do total. Em todo o estado, apenas cinco cidades computaram mais roubos de carga do que Niterói: Rio, São Gonçalo, Duque de Caxias, São João de Meriti e Belford Roxo.

Reflexos da Intervenção

O Observatório da Intervenção divulgou quinta-feira passada um relatório apontando que indicadores de criminalidade da Grande Niterói pioraram no período em que os militares estiveram no comando da segurança pública do estado (de 15 de fevereiro a 31 de dezembro de 2018). O grupo de especialistas do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes acompanha os impactos da intervenção federal no Rio.

Para Pablo Nunes, coordenador de pesquisa, a aposta de investir em ações puramente ostensivas fez com que esse tipo de crime migrasse da cidade do Rio para o Leste Fluminense:

“A ostensividade não veio acompanhada de ações de inteligência, e os criminosos apenas mudaram seus locais de ação”, avalia.

Segundo o comandante do 12º BPM (Niterói), tenente coronel Sylvio Guerra, as ocorrências envolvendo roubo de cargas já começaram a cair expressivamente em fevereiro, devido ao aumento de rondas em locais com alta concentração desse tipo de crime:

“Enquanto ocorreram 31 roubos em janeiro deste ano, apenas cinco casos foram registrados em toda a cidade nos primeiros 15 dias de fevereiro. Esses crimes ocorrem, quase sempre, na região limítrofe com São Gonçalo, e os criminosos parecem ter preferência por cargas de cigarros”, destaca.

Atrás apenas da capital, São Gonçalo ocupa o segundo lugar no ranking do estado, e, assim como Niterói, apresenta a mesma curva ascendente desde 2015, ano em que foram registrados 377 roubos de carga, pouco mais de um por dia. Em 2018 esse índice subiu para 1.701 ocorrências.

Sem detalhar números, o comandante do 7º BPM (São Gonçalo), tenente coronel Ronaldo Martins, conta que, no comparativo entre os 45 primeiros dias deste ano e os de 2018, a ocorrência desse tipo de roubo apresenta queda:

“Após mapearmos locais e horários com grande número de roubos, identificamos o bairro do Arsenal e a RJ-104 como alguns dos pontos preferidos dos bandidos”, conta o oficial.

Estudo conclui que roubos dispararam na região durante intervenção

O levantamento do Observatório da Intervenção divulgado no último dia 14 também aponta que outros índices de segurança pública de Niterói e região pioraram ao longo do período em que o Estado do Rio esteve sob intervenção federal, de 15 de fevereiro até 31 de dezembro de 2018.

Crime que afeta intensamente o cotidiano e a percepção de segurança da população em geral, os chamados roubos de rua — soma dos roubos a transeuntes, em coletivos e de telefone celular — aumentaram 7,7% em 2018 (de 1.215 para 1.309), enquanto na capital a alta foi de 1,9% (62.958 roubos contra 64.177).

Por sua vez, o número total de roubos cresceu 10,1% na Grande Niterói (Niterói, São Gonçalo e Maricá), subindo de 30.512 para 33.600 ocorrências no período. Novamente demonstrando movimento antagônico, o mesmo indicador apontou queda de 1,6% na capital: foram 121.135 casos em 2018, contra 123.126 ao longo de 2017.

Apesar de, no mesmo período, o índice de homicídios dolosos ter caído 12%, de 515 para 454, na Grande Niterói, o número de autos de resistência, mortes em confronto provocadas por policiais e demais agentes de segurança, aumentou 47,3% no período de intervenção federal: de 148 para 218 ocorrências.

De acordo com o coordenador de pesquisa do Observatório, Pablo Nunes, “a interferência dos militares e a injeção de R$ 1,2 bilhão de recursos federais não produziram mudanças significativas na segurança pública do Rio”:

“Apenas 10% desse valor bilionário foram revertidos em materiais ou serviços para os órgãos de segurança pública do estado. Ou seja, há ainda um extenso cronograma de entregas, a serem custeadas com a verba não utilizada, que perdurará até 2021. A intervenção federal deixou um legado de incertezas em relação ao que será feito com esse investimento”, alerta. “Apesar da intervenção já ter se encerrado, vamos continuar observando a execução orçamentária desses valores, uma vez que, este ano, o governo federal ainda não usou nem um único centavo de todo esse montante”.

Fonte: Jornal O Globo

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